02 Abril 2019
Reações que surgiram nos últimos dias sobre a Conferência Internacional sobre Ecologia Integral, realizada em Georgetown de 19 a 21 de março, destacam a importância deste momento. Uma voz autoritária dentro do panorama Católica, como o cardeal Reinhard Marx, um dos colaboradores mais próximos do Papa Francisco, definiu-o como um momento histórico, mas advertiu que é necessário abraçar juntos um caminho de conversão, territorializar a Encíclica Laudato Sì' em outras regiões do planeta para promover um caminho para um futuro que seja um sinal de metanoia, de conversão radical, e caminhar firmemente com o Papa, com a visão de espiritualidades tradicionais e de outras religiões para o cuidado da Casa Comum.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Na mesma direção, Mauricio Lopez, Secretário Executivo da Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM, reconhece que "esta reunião foi um processo, aqui apenas estamos alcançando um marco, absolutamente transformador", acrescentando que "eu não tenho nenhuma dúvida de que este evento marca um antes e um depois no que pode ser uma perspectiva de territorialidade da tarefa eclesial". São percebidos, "muitos sinais de esperança em meio de um mundo tão quebrado, que confirmam que este é o caminho, o da conversão sócio pastoral na Igreja, a conversão ecológica global, e a sinodalidade em ambos os níveis, caminhar juntos, como Igreja e no mundo todo", insiste Lopez, seguindo ideias muito presentes no pensamento do Papa Francisco.
Esta reunião, convocada e coordenada pela Rede Eclesial Pan-Amazônica - REPAM, juntamente com o Pontifício Conselho para o Desenvolvimento Humano Integral, a Missão Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas, em Nova York, a Universidade de Georgetown e a Conferência dos Jesuítas dos Estados Unidos e Canadá, contou com a presença, no âmbito dos territórios, da Rede Eclesial da Bacia do Congo, a Rede Eclesial Mesoamericana, que está em processo de nascer, o Sistema de Bosques Tropicais de Ásia-Pacífico, que gradualmente vai crescendo fortemente, as realidades da Europa, que quer superar uma visão para servir ou ajudar o Sul planetário e assumir a sua própria responsabilidade em mudar o futuro da humanidade, mudando os modelos econômicos, os padrões de consumo e olhando sua própria territorialidade, e América do Norte, com a presença de povos indígenas e representantes da Igreja, profética e comprometida com sua respectiva realidade.
Mauricio Lopez observa que "a perspectiva global de acompanhamento ao Papa Francisco nas grandes agendas sociais, essenciais, de conversão, transformação, para se tornar uma voz ética que possa ajudar o mundo a encontrar novas formas e novos horizontes, estiveram presentes Caritas Internationalis, a Secretaria do Sínodo dos Bispos e a Missão Permanente da Santa Sé nas Nações Unidas". Uma grande representação que também foi acompanhada, de acordo com o Secretário Executivo da REPAM, "com uma alta presença de povos indígenas em suas organizações territoriais, a COICA, a Aliança Mesoamericana dos Povos e Florestas, também representantes dos povos indígenas de Ásia-Pacífico e da Bacia do Congo, e além disso importantes atores no mundo dos sistemas internacionais e regionais". Junto com eles, as Nações Unidas, a Relatora Especial sobre os Direitos dos Povos Indígenas, uma representação do Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Nações Unidas Meio Ambiente e a Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos, entre outros.
Não podemos esquecer que "o Espírito de Deus sopra onde quer e como quer e aparece para transformar a realidade, dando o sentido deste grande kairós", segundo o Secretário Executivo da REPAM, deixando claro que esta conferência confirma que a validade do projeto de outro mundo possível continua a abundar sobre o projeto da morte. Basta ter em mente que esta reunião estava respondendo a duas necessidades prioritárias, de acordo com Mauricio Lopez, "dar força, significado e efeito à Encíclica Laudato Sí, como um elemento essencial e inerente à nossa vocação de crentes e de toda a humanidade", procurando com urgência que a Encíclica Laudato Sí, possa se tornar uma das grandes apostas e horizontes de vida de cada crente, mas também de toda a humanidade. Nesse sentido, Lopez a define como "um apelo à paz, à cooperação e também para enfrentar um sistema que produz morte, exclusão e remoção de possibilidades para o futuro".
A reunião também destacou a territorialização em realidades concretas, em biomas essenciais, em áreas de urgência absoluta para o mundo da encíclica Laudato Sí. Podemos dizer que a Rede Eclesial Pan-Amazônica, no âmbito do processo sinodal, sente-se chamada para dar uma resposta concreta, específica, que é baseada em duas conversões básicas, conversão sócio pastoral da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium e conversão ecológica global da Encíclica Laudato Sí. A primeira com uma perspectiva ad intra, no coração da Igreja, e a segunda como um chamado para toda a humanidade.
Um terceiro elemento, que também é fundamental nessas conversões, é o chamado à sinodalidade. Desde o Sínodo da Amazônia, Mauricio López insiste em promover uma nova maneira de caminhar juntos. Portanto, "esta reunião foi convocada como resultado de muitos anos, desde o início do REPAM, de querer impulsionar, com os outros e as outras, esta nova eclesiologia emergente, uma eclesialidade territorializada, que não substitui o que já existe, mas o complementa, reforça isso, o potencializa, o que nos permite somar fragilidades e conhecer, a fim de atender os enormes desafios da nossa realidade hoje", insiste o Secretário Executivo da REPAM.
Acima do resto, Mauricio Lopez coloca que "as vozes mais marcantes desta reunião foram as dos representantes dos povos indígenas". Ele observa a representação da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica - COICA, desde onde "se fez um chamado forte à Igreja a se comprometer, superando antigas distâncias, limitações, erros, para somar com os povos, sendo eles os guardiões mais importantes e uma opção onde eles acreditam na Igreja, acreditam que ela possa acompanhar, acreditam que é uma verdadeira aliada neste caminho, e a convidam a caminhar junto com eles".
Entre as vozes dos povos indígenas, o Secretário Executivo da REPAM destaca a Indígena Kichwa de Sarayaku, no Equador, Patrícia Gualinga, que falou "com firmeza sobre a necessidade de uma Igreja com rosto amigo, que permanece, que acolhe e acompanha, que recupera as raízes de um Jesus que é radical, ou seja, que retorna à raiz, que está indignada com a realidade e procura transformá-la, e, gradualmente, se transforma".
Neste sentido, desde a Secretaria da REPAM são destacadas as "múltiplas intervenções que nos levaram a tomar consciência de como os gritos da realidade ecológica, ambiental e dos mais pobres são repetidas em todos os diferentes territórios". Tudo isso mostra "a fragilidade dos ecossistemas, deste sistema tão terrivelmente focado no mercado, o que não permite ter um futuro, e a necessidade de encontrar formas mais serenas, que nos permitem deixar também toda esta situação", insiste Mauricio Lopez, que destaca entre a presença eclesial, o Cardeal Cláudio Hummes, Presidente da REPAM, que afirmou que o grito dos pobres e o grito da irmã Mãe Terra, é o mesmo grito, ou Cardeal Tagle, que chamou a um verdadeiro diálogo, inter-religioso e espiritual, onde as vozes das mulheres têm mais espaço, onde a sensibilidade pelo outro, pelo diferente nos enriquece, e onde também sintamo-nos chamados a caminhar juntos.
Entre as conclusões, Mauricio López sublinha "as definições específicas de cada uma das regiões e territórios representados nesta reunião, redes específicas, ações bem discutidas entre todos os presentes, com uma perspectiva amplamente definida". Acima do resto, ele reafirma a conclusão de que "é possível caminhar juntos, é desejável fazê-lo, é necessário ser eficazes apostolicamente e trabalhar de uma forma que possamos dar um passo em frente".
Junto com isso, a outra conclusão é que "a Igreja tem um enorme potencial para servir na defesa da vida, mas deve se transformar, tem de se reconfigurar", disse Mauricio Lopez, que vê o Sínodo da Amazônia como "um momento especial para encontrar neste kairós um instrumento, um tempo para ajudar muitas dessas vozes, que tinham sido fragmentadas, possam canalizar caminhos de conversão", que em todo o tempo, lugar e pessoa tem seu próprio ritmo, seguindo um discernimento sereno e bem feito.
Todas as redes de Igreja podem continuar caminhando ou começar a caminhar, procurando "ter um sinal de comunhão entre elas", disse o Secretário Executivo da REPAM, que observou que "o acordo é para continuar articulados para caminhar apoiando-se mutuamente, sem impor, sem tentar replicar experiências, e também tentar participar juntos no Sínodo da Amazônia, que será uma grande festa, uma grande reflexão, um grande discernimento para ter um sinal da grande universalidade da nossa Igreja, e o que está em jogo nos novos caminhos para ela, nossa amada Igreja, e para uma ecologia integral".
Finalmente, como algo importante em torno da conferência, Mauricio López enfatiza que "o apoio de muitas congregações à REPAM para este encontro foi inestimável". No entanto, ele insiste que "o firme apoio da Companhia de Jesus foi especialmente notável", porque com suas várias instituições, com a Igreja, com outras congregações, a Companhia de Jesus também serviu como uma plataforma, a pedido da REPAM, para poder promover e acompanhar as outras redes.
O Secretário da REPAM afirma que "sem perder de vista a comunhão eclesial absoluta, sem perder o horizonte do que o Papa Francisco nos chama, mas colocando suas instituições a serviço da realidade e, sobretudo, neste caso, redes, universidades, como Georgetown, que nos deu todo o espaço para trabalhar em conjunto, para poder organizar este grande evento, e que pudesse ter uma qualidade extraordinária, com todas as condições propícias, onde nos sentimos plenamente em casa".
Dentro da Companhia, Mauricio López salienta "a escolha firme do próprio Padre Geral, o Padre Arturo Sosa, pedindo que todos os meios para servir o Sínodo estejam disponíveis, mas especialmente à REPAM", chamada a continuar e ser, depois do Sínodo, um instrumento para "interpretar e acompanhar a implementação deste grande Sínodo e identificar e discernir quais são os chamados essenciais e fundamentais em que entra em jogo o futuro da nossa Igreja", conclui López.
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Conferência em Georgetown marcou a perspectiva da territorialidade do trabalho eclesial, segundo Maurício López - Instituto Humanitas Unisinos - IHU