25 Fevereiro 2019
Em frente ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, mulheres atingidas de Brumadinho e toda a Bacia do Rio Paraopeba aguardavam por uma resposta da Justiça. Elas foram protestar contra a mineradora Vale, compartilhar suas lutas e se unir umas às outras, na esperança de continuar suas vidas com dignidade um mês após o crime do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão. Gisele, Thamires, Marlúcia, Marina, Maria, Jucilene, Irani e Jaqueline, mulheres, água e energia não são mercadoria!
O ensaio é de Isis Medeiros, com texto de Thainá Nogueira do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB, publicado pelo portal do MAB, 21-02-2019.
Moradora de Córrego do Feijão, em Brumadinho
“Eles avisaram nós, sabe?! Na hora de fazer o treinamento, a sirene iria tocar e a gente teria que correr, e nós corremos. Mas não adiantou nada, a Vale correu água em nós, barro! Morreu muita gente, minha sobrinha, três primos do meu marido, fora os que ainda estão em baixo do barro. Eu espero que eles paguem.”
Agricultora e moradora de Parque das Cachoeiras, em Brumadinho
“Eles sabiam muito bem o que estava acontecendo, e não tiveram responsabilidade para tirar as pessoas que estavam ali próximas. Eu acho que é um grande injustiça da Vale e das outras mineradoras que usam o mesmo método de barragem que ela usa. Já vai fazer um mês do rompimento da barragem e até hoje não resolveram nada! O que a gente está comendo e bebendo é de doação, da Vale não tivemos resposta nenhuma, esperamos que hoje a gente tenha uma resposta digna.”
Moradora da comunidade Pires, em Brumadinho
“A gente quer resposta. Eles ainda querem jogar o rejeito lá (em Pires) e fazer a gente de cobaia, dizendo que vão limpar o Rio, mas isso é conversa pra gente. Nós não queremos uma Barra Longa lá.”
Moradora de Brumadinho
“A morte dos meus amigos era mais lucrativa do que o reparo na barragem e as devidas providências por parte da Vale. Eu sei que é difícil, que vai demorar anos e é uma luta longa mas espero que hoje seja um pouquinho de esperança. Mas mesmo se não for a gente vai continuar lutando. Daqui pra frente vai ser assim, a gente não pediu pra isso acontecer, mas agora que aconteceu eles vão ter que aguentar, o povo organizado, o povo unido, todos juntos.”
Agricultora e moradora de Mário Campos
“A barragem rompeu pela falta de respeito com o próximo. Ela rompeu pela falta de compreensão de achar que o capitalismo vale mais do que uma vida. Eu espero que a Vale responda criminalmente pelo que eles fizeram porque o dinheiro não pode falar acima de tudo e de todos. E eu também quero que na audiência de hoje seja resolvida a situação de todos, não só para aqueles que a Vale acha que foram atingidos “diretamente”, e nós seriamos atingidos “indiretamente”. Na verdade, TODOS foram atingidos diretamente, porque acabando com o rio atinge agricultura, e os pescadores.”
Moradora da comunidade Padre João, em Esmeraldas
“Eu espero que a gente seja assistida de perto. A situação nossa, é que o Rio sujou muito! Lá tinha um movimento muito bom de pescadores e nós todos trabalhamos com isso. Eu, por exemplo, vendo marmitex e tem também o pessoal do comércio. Lá era um ponto que as pessoas iam para se divertir, acampar e pescar e hoje não tem mais nada disso. De ontem pra hoje piorou demais a situação lá, por causa das chuvas.”
Moradora de Pompéu
“A situação nossa está muito difícil, principalmente em relação à água. Não sabemos como vamos fazer com as nossas famílias, com os agricultores, pescadores. Mas estamos aqui, organizados e juntos para que essa reunião de hoje nos dê respostas para o futuro.”
Moradora de São Joaquim de Bicas
“Aconteceu em Mariana, agora em Brumadinho e se a gente não parar eles, vai continuar acontecendo porque eles estão acabando com Minas Gerais. Só estão visando lucro. Nossa reivindicação maior é que ter água pros moradores porque nós não temos saneamento básico na nossa comunidade, estamos tomando a água com medo de passar mal. Já teve gente com dor de barriga e alergia.”
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Atingidas: Da lama à luta! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU