10 Janeiro 2019
“O bode expiatório dos padres gays e até mesmo o pavor que as pessoas sentem diante dos horrendos detalhes do comportamento sexual de alguns padres desviam do fato de que o verdadeiro problema em toda essa confusão é que as lideranças da Igreja, por várias razões, não tinham nenhuma supervisão sobre o que estavam fazendo. Nenhuma verificação sobre suas decisões. Ninguém corrigindo seus erros.”
A opinião é de Francis DeBernardo, diretor-executivo da New Ways Ministry, 08-01-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em uma recente postagem no blog do National Catholic Reporter, escrito por Michael Sean Winters, intitulada “Os bons tempos não estão à frente para a Igreja dos EUA", o escritor fornece uma joia anônima de uma recente correspondência que ele recebeu:
“Uma das minhas irmãs religiosas favoritas trocou e-mails comigo durante as festas de fim de ano sobre a crise [dos abusos sexuais do clero]. ‘Os bispos precisam agir juntos e fazer uma agenda que reflita os Evangelhos. Ou nunca conseguirão resolver problema algum’, escreveu ela. ‘Quando a hierarquia virou as costas aos pobres, aos sofredores, aos marginalizados, aos refugiados, ao ambiente, quando viraram as costas para a paz e a pena capital, e optaram pelas guerras culturais (todas ligadas à sexualidade humana), eles cometeram um enorme erro pastoral.’ Sua acusação continuava: ‘Eles também investigaram os gays nos nossos seminários nos Estados Unidos; eles investigaram as freiras nos Estados Unidos. A hierarquia estadunidense permitiu que essas coisas acontecessem. Clássica desorientação. Eles não defenderam as freiras, não defenderam as pessoas gays que viviam bem no sacerdócio e na vida religiosa. Há uma certa traição aí, uma certa traição da confiança que o povo de Deus deposita – ou costumava depositar – neles.’”
É difícil acrescentar um comentário a essa citação, porque ela simplesmente afirma as coisas de maneira clara e direta. É o suficiente.
Winters apresentou essa citação depois de uma longa e valiosa análise que chegou à seguinte conclusão:
“O que a iteração da crise de 2018 expôs foi que ainda há algo de doentio na cultura clerical, e isso fica mais manifesto na incapacidade de criar qualquer meio de responsabilização episcopal. Em suma, não há tanto uma crise de abusos sexuais, mas sim uma crise eclesiológica.”
O bode expiatório dos padres gays e até mesmo o pavor que as pessoas sentem diante dos horrendos detalhes do comportamento sexual de alguns padres desviam do fato de que o verdadeiro problema em toda essa confusão é que as lideranças da Igreja, por várias razões, não tinham nenhuma supervisão sobre o que estavam fazendo. Nenhuma verificação sobre suas decisões. Ninguém corrigindo seus erros.
Embora a discussão sobre a dimensão sexual desse fenômeno possa criar histórias muito sensacionais, a história real é a história mais mundana e entediante do modo como a Igreja Católica é governada ou, neste caso, mal governada.
A postagem de Winters, que é a sua visão do que 2019 pode ter reservado para a Igreja Católica, tem outra seção, porém, com a qual eu discordo fortemente. Ele escreve:
“A esquerda católica amadurecerá em algo consequente? Infelizmente, eu duvido. Muitos católicos progressistas já foram embora, e muitos dos que permanecem, parecem presos nos anos 1970 em suas preocupações e em suas soluções. Há uma grande preocupação com a sexualidade humana e com as questões LGBT, mas uma escassez de escrita inteligente e informada sobre o assunto, muito pouco que se destaque como algo que apenas um católico poderia escrever.”
Também é difícil acrescentar um comentário a essa citação, mas pelas exatas qualidades opostas da citação anterior. A opinião de Winters é vaga e não específica. Isso não é nenhuma surpresa, já que ele frequentemente castiga aqueles que ele considera como a “esquerda católica”, mas, além de fazer acusações de “estar preso nos anos 1970” e de não ter uma “escrita inteligentes e informada sobre o assunto”, ele diz muito pouco. Nenhum detalhe. Nenhuma evidência.
Eu gostaria de saber por que ele faz as declarações que faz. Como ele não fornece nenhum detalhe de apoio, sua acusação soa simplesmente como um xingamento.
Em um ponto, ele está claramente errado empiricamente. Não é apenas a “esquerda católica” (o que quer que esse grupo seja) que está preocupada com as questões LGBT. Pesquisas após pesquisas nos últimos anos mostraram que o apoio a questões LGBT está claramente no mainstream católico. As questões LGBT não são apenas uma preocupação dos católicos liberais e progressistas, mas também de um número cada vez maior de católicos “no meio do caminho”.
Em vez de citar qualquer pesquisa ou pesquisas em particular, vou apenas direcionar os leitores interessados a olhar as postagens na categoria “Statistics” [Estatísticas] do Bondings 2.0, clicando aqui [em inglês]. Lá eles encontrarão uma riqueza de pesquisas que provam esse ponto.
O ano de 2019 será definitivamente um ano importante para a Igreja Católica. Eu não tenho grandes esperanças de grandes mudanças, quer sejam positivas ou negativas, para as questões LGBT. A verdadeira mudança acontece quando os corações mudam. Essa é a verdadeira revolução. Teremos tempos difíceis pela frente? Com certeza. Deus estará conosco através deles? Com certeza ainda maior.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Igreja dos EUA: rumo a tempos difíceis em 2019? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU