04 Janeiro 2019
Há dois eventos em 2019 que marcarão a história do papado de Francisco e do catolicismo romano do século XXI.
A opinião é do historiador italiano Alberto Melloni, professor da Universidade de Modena-Reggio Emilia e diretor da Fundação de Ciências Religiosas João XXIII, de Bolonha. O artigo foi publicado por La Repubblica, 31-12-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Há dois eventos em 2019 que marcarão a história do papado de Francisco e do catolicismo romano do século XXI. O primeiro compromisso é a reunião dos presidentes das Conferências Episcopais no fim de fevereiro, sobre a pedofilia no clero. Essa assembleia expressa uma sinodalidade a partir de baixo (exceto na Itália, os presidentes das Conferências Episcopais são eleitos) e uma autoridade única. Necessária para romper um feitiço.
A crise que flagelou a Igreja não é uma crise do clero, mas sim o resultado do comportamento de bispos impotentes, antes, e, depois, iludidos que bastava repetir frases prontas como “tolerância zero” e “vergonha” para curar uma chaga que não podia ser resolvida centralizando os processos em Roma, mas sim libertando-se do demônio do clericalismo e da heresia de uma “honra” igrejeira, que não existe no cristianismo. O risco de que essa assembleia se concentre em artifícios jurídicos é grande.
O Papa Francisco indicou recentemente um caminho, que é o único compatível com a justiça necessária e o perdão: entregar sem hesitação os culpados e os suspeitos à justiça civil, cuidar das suas vítimas. Se os bispos seguirem esse caminho, a crise acabará. Se eles se perderem em busca da repressão “católica” de um crime enorme, a crise se tornará a arma a ser usada antes, dentro e depois do conclave do ano dois mil e sabe-se lá quando.
O segundo compromisso é o Sínodo da Amazônia, convocado em Roma em outubro. A desoladora astúcia dos grandes episcopados, a covardia dos teólogos carentes de valorização hierárquica e dos estrategistas dos movimentos eclesiais fez com que, diante da queda quantitativa e qualitativa do clero (que dura há quase dois séculos), todos fingiram que não era com eles.
Assim, caberá aos bispos da Amazônia dizer que a eucaristia, que é o pivô da vida cristã, importa mais do que o celibato: e serão eles que pedirão e obterão que os padres sejam escolhidos não só entre aqueles que têm uma vocação celibatária que talvez deveria ser testada por mais tempo, mas também entre aqueles que têm uma vocação conjugal.
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Bispos contra os escândalos e o clericalismo: a verdade sobre duas grandes cúpulas eclesiais em 2019. Artigo de Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU