04 Outubro 2018
"O Sínodo dos Bispos, apesar de ser um instrumento episcopal, é chamado para representar todo o povo de Deus, mas não faz isso e não quer fazê-lo: as mulheres, de fato, ainda são minoria, hoje apenas um décimo dos participantes. Além disso, não têm direito de voto, embora o voto tenha sido estendido a outros membros do Sínodo que não são sacerdotes. Poderão se manifestar: esta é a concessão, vamos chamá-la assim, desta edição. Estamos amarguradas por tudo isso".
Poucas horas antes da abertura no Vaticano do Sínodo dos Bispos dedicado aos jovens e os desafios vocacionais que os afetam (também haverá uma reflexão sobre a questão da moral sexual), fala Paola Lazzarini, socióloga e fundadora de "Mulheres para a Igreja". O seu grupo, junto com "Catholic Women Speak" e "Women’s Ordination Conference", protesta contra a pouca consideração que mais uma vez o Sínodo reserva às mulheres e se dirige para aquele décimo de presença feminina que vai sentar-se na assembleia para que se faça promotor do direito de voto das mulheres católicas: "Esperamos que sejam as próprias mulheres convidadas a participar a levantar a voz para ser ouvidas, em nome de todas nós."
A entrevista é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 03-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O encontro destes dias ocorre depois de um processo de consulta mundial nascido nos conselhos pastorais e presbiteriais do qual participaram também as mulheres. Não é suficiente?
As mulheres não participam dos conselhos presbiteriais, obviamente, mas apenas daqueles pastorais e muitas vezes ali também estão em minoria. No entanto, são as mulheres que levam adiante muitas associações católicas ativas em vários campos, dirigem a maioria das aulas de catecismo, são presença viva e determinante em muitas paróquias e em muitas obras de caridade, no entanto, no final, são relegadas para as margens de todos os processos de tomada de decisão. O Sínodo é apenas a ponta do iceberg.
Nos trabalhos de preparação os jovens falaram sobre as mulheres?
Claro. E muitos deles responderam dizendo que o principal ponto de referência são as mães. Mas, no entanto, estas mães não estão no Sínodo. Por quê?.
Na edição de outubro da "Mulher Igreja Mundo", suplemento mensal do "L'Osservatore Romano", o padre Matt Malone, jesuíta e diretor de "America", fala do ''inveterado hábito do clero de não procurar interlocutores femininas, e pensar que as mulheres não tenham nada de interessante para dizer." As mulheres, escreve ele, "não se sentem bem acolhidas na Igreja". A Igreja ainda é muito masculina?
Que impressão passa uma Igreja em cujo Sínodo dos trezentos participantes chama apenas trinta mulheres? Não só são poucas, mas nem mesmo podem votar o documento final que, como sabemos, se aprovado pelo Papa vai se tornar parte do magistério. O fato que desta vez poderão falar e não mais apenas falar quando convidadas a fazê-lo, não pode satisfazer.
O que você acha do sacerdócio feminino?
As razões para negá-lo me parecem pouco consistentes, mas isso quem sabe explicar melhor do que eu, são os teólogos. Eu – como mulher - o que realmente acho intolerável é que as jovens, as mulheres, que, depois de um discernimento considerem ter sido chamadas para o sacerdócio sejam tratadas como visionárias. Isso significa, entre outras coisas, que o primado da consciência e do exercício de discernimento podem ser ignorados quando se trata de mulheres e, inclusive, sem que se possa falar abertamente.
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‘Deem a nós mulheres o direito de voto’. O apelo ao Papa para o novo Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU