01 Outubro 2018
Este mês de outubro na Igreja Católica será vivido quase inteiramente (de 3 a 28) como "sínodo", um caminhar juntos sob a orientação do Papa, convergindo a Roma para questionar-se e refletir sobre os jovens e o discernimento vocacional.
O artigo é de Enzo Bianchi, monge italiano, publicado por Vita Pastorale, outubro de 2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
É um evento que poderia ser significativo. E talvez também decisivo para a presença dos jovens na Igreja, uma porção do povo de Deus que está se reduzindo, especialmente no ocidente. E que corre o risco de faltar à Igreja de amanhã.
Nestes anos de preparação e espera, ouvi repetidamente a pergunta: "Mas não poderia ser possível um Sínodo que não fosse só sobre os jovens, mas também dos jovens?". De fato, a assembleia sinodal é composta de cerca de duzentos bispos, por alguns especialistas e auditores, mas certamente não é uma assembleia de jovens.
Alguns deles estarão presentes, mas o Sínodo é uma instituição episcopal, não uma assembleia eclesial. Os padres sinodais são, na verdade, "padres" e não podem ser os jovens.
Mas outra perplexidade também me ocorreu: que jovens? Os jovens estão presentes em todo o planeta, em todas as Igrejas espalhadas pelo mundo, mas o que os une, além de sua idade, da juventude em comum? Não creio que um jovem de Milão tenha muito em comum com um jovem da Nigéria. Assim como um jovem de Nova York, que é diferente de um jovem da Eritreia. Essas evidências poderiam nos levar a julgar o Sínodo como um empreendimento impossível, porque muito grande é a diferença e muito articulada é a complexidade da vida nas diferentes áreas continentais e regionais.
No entanto, deve-se reconhecer que, uma vez que houve uma consulta aos jovens em muitas igrejas locais, a sua escuta seria possível se o trabalho do Sínodo for realizado de maneira ordenada. De forma a chegar a identificar como as Igrejas regionais podem responder às expectativas dos jovens e abrir a eles caminhos que os tornem sujeitos eclesiais, protagonistas da vida cristã. Tendo já participado como especialista em dois Sínodos dos bispos e, portanto, tendo adquirido alguma experiência no ordo laboris, espero que desta vez, ao ordenar as intervenções, se leve em consideração o Instrumentum laboris e a "regionalidade" das propostas, sugestões e questionamentos submetidos à atenção da assembleia sinodal.
De minha parte, como auditor convidado pelo Papa Francisco ao Sínodo, gostaria de dar uma humilde contribuição proveniente da escuta dos jovens em várias Igrejas locais da Europa ocidental neolatina e de minha comunidade. Muitas vezes apresentei aos jovens a pergunta: "O que vocês gostariam que a Igreja dissesse sobre vocês e para vocês jovens? Como vocês jovens se sentem e gostariam de se sentir sujeitos protagonista em suas Igrejas locais?". As respostas foram muito variadas e, ao lê-las cuidadosamente, encontrei confirmação para minha esperança: as novas gerações não estão perdidas para a fé cristã, mas são muito exigentes em sua busca. E, embora nos surpreendendo, eles não se distanciaram de Jesus Cristo e do Evangelho.
Desta escuta dos jovens, gostaria de apresentar algumas urgências que o Sínodo poderia analisar.
Em primeiro lugar, os jovens temem uma certa retórica da Igreja em relação a eles: chamá-los de uma maneira obsessiva "futuro da Igreja" ou "sentinelas do devir", não é suficiente para integrá-los. Eles querem ser reconhecidos como Igreja já hoje, presente da Igreja, porção do povo de Deus.
Eles querem se sentir sujeitos eclesiais hoje, em sua condição juvenil, é claro, mas sem sentir-se chamados apenas para o amanhã da Igreja.
Mas também deve ser dito que os jovens não querem ser lisonjeados, mimados pelos cristãos adultos: simplesmente querem ser levados a sério. Pedem que sua diferença seja acolhida, também aceitando o fato de que nem sempre podem ser compreendidos. Desejam que se mostre confiança neles, apoiando sua busca sem terá pretensão de dirigi-la. Quanto a essa sua busca, será bom levar em conta algumas realidades já estabelecidas na leitura sociológica e na chamada pastoral juvenil, realidades que não devem ser edulcoradas nem deformadas porque resultam dificultosas e dolorosas. Até o que é crítico, que fere os adultos na Igreja, deve ser ouvido, assumido ou não removido, de modo que possa ser "pensado" à procura de possíveis respostas.
Em outras oportunidades escrevi que para as novas gerações "Deus" já é uma palavra indiferente. E, em alguns casos, demasiado ambígua. Não só as imagens de Deus recebidas da tradição são contestadas e parecem incapazes de interessar os jovens, mas estes creditam que podem viver bem sem a procura por Deus. Estariam então perdidas as "antenas da fé", segundo a expressão de Armando Matteo?
Sem dúvida, a busca dos jovens é, acima de tudo, a busca de si mesmos, a busca de se tornarem si mesmos, um caminho de humanização para viver uma vida significativa e ter uma existência "salva". Como podemos responder a essa busca que talvez seja a única que hoje aproxima os jovens do Ocidente? A tentação - generalizada, lamento dizer, mesmo dentro da Igreja - é aquela de responder com um "teísmo ético terapêutico", isto é, com uma afirmação nebulosa de Deus da qual deriva a possibilidade de uma vida eticamente boa que conduz a se sentir bem com si mesmos. Essa, infelizmente, também é a espiritualidade dominante na Igreja. E os olhos cegados não podem discernir que assim ocorre o esvaziamento da fé cristã. Hoje se tenta falar de Deus aos jovens e, para ser eficaz, se recorre à imagem de um Deus "energia primordial" que está à nossa disposição para nos dar uma vida marcada pelo bem-estar interior e psíquico. Ocorre, então, estar atentos e conscientes de que, para os jovens, a palavra "Deus" já se tornou estranha e não substituível com um "sagrado" ou um "divino" forjado por nós e pelas nossas angústias. Estou convencido de que essa estranheza da palavra Deus seja, na realidade, uma chamada para ser verdadeiramente cristãos, na prática de ir a Deus apenas através de Jesus Cristo: "Ninguém vem ao Pai, Deus, senão por mim" (Jo 14,6).
Urge, então, "mostrar" Jesus Cristo aos jovens: assim será aberto o caminho para o Pai, para Deus. Hoje, ou se mostra Jesus com ações, comportamentos, estilo, palavras, ou estaremos condenados a tornar a esperança do Evangelho estranho para as novas gerações. Os jovens são sempre sensíveis a Jesus Cristo, estão intrigados pela sua humanidade, são tocados pela escuta atenta do Evangelho. Este é o caminho a ser percorrido sem medo: Jesus Cristo é aquele que com o Evangelho dá plenitude à vida humana, é aquele que torna possível para um jovem sentir-se gratificado por existir tal como existe. Jesus Cristo é aquele traz vida para a vida porque é ele o Evangelho, a boa nova que dá sentido à vida! Jesus Cristo é o "caminho" para ir a Deus: neste caminho é possível reconhecer até mesmo o seu corpo, que é a Igreja.
Minha esperança e oração é que no Sínodo ocorra a parrésia de colocar no centro do confronto sobre os jovens Jesus Cristo, aquele que nos ensinou a viver neste mundo (cf. Tt 2,12) como seres humanos dignos de tal nome. E ele nos doou com sua ressurreição a esperança do amor que vence a morte.
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Os jovens não estão perdidos para a fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU