20 Setembro 2018
“Um homem extraordinário para tempos extraordinários.” Bono Vox, histórico vocalista da banda U2, sintetiza em poucas palavras a sua impressão sobre Francisco, o papa argentino com quem parece compartilhar a preocupação com o aumento da pobreza, a falta de educação e a “fera selvagem” do capitalismo no mundo.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican News, 19-09-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O rockstar foi recebido em audiência privada pelo pontífice na Casa Santa Marta, nessa quarta-feira, 19, à tarde. Tendo chegado por volta das 16h30 ao Vaticano, Bono conversou com Jorge Mario Bergoglio por mais de 40 minutos a portas fechadas.
O motivo da visita foi apresentar ao papa os resultados da One, organização sem fins lucrativos da qual ele é cofundador, ativa no campo da educação, com mais de 10 milhões de membros em todo o mundo (três milhões na África), mas, acima de tudo, criar uma sinergia com a Scholas Occurrentes, a fundação argentina que se tornou pontifícia por vontade de Francisco e que foi criada anos atrás também por vontade de Bergoglio, à época, cardeal de Buenos Aires, para garantir uma formação e uma educação para centenas de milhares de crianças, jovens e adolescentes de 190 países através da arte e do esporte.
No entanto, esse não foi o único tema abordado por Bono, ou Paul David Hewson, seu nome de batismo, com Sua Santidade. “Deixamos a conversa fluir para onde queria”, contou, usando seus característicos óculos com lente azul no banco da Sala de Imprensa vaticana normalmente ocupado por bispos e cardeais, aos jornalistas e cinegrafistas que, avisados sobre a sua chegada, chegaram numerosamente.
Natural de Dublin, Bono abordou com o papa a questão dos abusos do clero na Irlanda, uma das chagas mais dolorosas da Igreja da ilha, da qual ela se recuperou com muito esforço, depois de décadas de compromissos com a prevenção e a proteção, de pedidos de perdão e de indenizações.
Menos de um mês depois da viagem do papa, “inevitavelmente também discutimos sobre a Irlanda”, disse Bono Vox. “Eu compartilhei as minhas sensações sobre o que aconteceu na Igreja, expliquei-lhe que, para alguns, parece que os abusadores foram mais protegidos do que as vítimas.”
“Eu pude ver a dor no seu rosto, eu acho que ele foi sincero”, acrescentou o cantor que, em 1999, encontrou-se com João Paulo II e, 10 anos depois, em 2009, com Bento XVI na audiência com os artistas na Capela Sistina.
Com Bergoglio, ele também falou sobre “as mudanças que devem ocorrer em nível local e sobre como devemos repensar a ‘fera selvagem’ que é o capitalismo, que não é imoral, mas amoral, e requer o nosso compromisso”.
Também não faltou uma menção sobre os temas “do futuro do comércio e de como promover o desenvolvimento sustentável, tema com o qual (o papa) está muito comprometido”, como demonstra a encíclica “verde” Laudato si’.
Falando da sua organização One, Bono explicou que “um dos temas centrais neste momento é o fato de que 130 milhões de meninas não vão à escola por serem meninas”. Acompanhado do diretor mundial da Scholas, José Maria del Corral, o vocalista do U2 ressaltou: “Estamos muito interessados na educação e estamos tocados por aquilo que a Scholas está fazendo: são coisas muito inovadoras com as quais está se preparando o futuro, uma educação em muitos contextos diferentes, ao lado das pessoas nas comunidades”.
Um projeto que se enquadra “na visão deste papa, de trabalhar em nível local, unir o micro com o macro”. O projeto de colaboração certamente será realizado, mas “não decidimos o que vamos fazer juntos, pois agora só tivemos um enamoramento recíproco”, brincou Bono, entre as risadas dos jornalistas.
“É um pensamento bastante radical. Estamos falando de ensinar as pessoas a contar e a escrever, e a ter acesso à arte e à matemática avançadas”, confiantes de que “nunca é tarde demais”.
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Bono Vox: ''O papa é extraordinário. Conversamos sobre os abusos, e eu vi a sua dor'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU