20 Junho 2018
“É a unidade cristã posta em prática”. O secretário-geral do Conselho Mundial das Igrejas (CMI), Olav Fykse Tveit, revelou emocionado ante a visita do Papa Francisco à Genebra, nesta quinta-feira, para celebrar os setenta anos de vida desse centro internacional do ecumenismo
A reportagem é de Cameron Doody, publicada no Religión Digital, 19-6-2018. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo
“Foi uma decisão muito importante [a do Papa] quando aceitou o convite”, disse o pastor luterano norueguês. “Mostra que a Igreja Católica Romana tem a mesma agenda que às demais igrejas”.
A viagem de Bergoglio, declarou o pastor Tveit, é “um sinal de esperança de que conflitos e divisões bastante profundos, inclusive, possam superar por meio do diálogo e de levar a sério um ao outro”. Conflitos e divisões essas que o CMI vem vencendo pouco a pouco nesta sete décadas de existência, ao agrupar sob o seu guarda-chuva 350 igrejas anglicanas, protestantes e ortodoxas que representam mais de 500 milhões de cristão de mais de uma centena de países.
E ainda que a divisão entre protestantes e católicos estará na mente de todos nesta quinta, na cidade de Calvino, as diferenças que surgiram com a Reforma não são as únicas que ameaçam a unidade cristã hoje, segundo o secretário-geral do CMI. Atualmente "há uma espécie de luta pela alma do cristianismo”, alertou Tveit, colocando como exemplo de tal batalha as diferenças entre as várias Igrejas em torno “da sexualidade humana e a vida familiar”, e a politização da fé nos Estados Unidos.
Ainda assim, com esta apropriação da fé pela política em alguns lugares, “há um tipo de ímpeto a estar mais unidos, e a visita do Papa é um sinal disto”, continuou o pastor. A mensagem de Francisco de amor, de tolerância, de justiça e de paz pode ser um denominador comum para toda pessoa de fé, prosseguiu, com o que “muitos cristãos, sejam católicos ou não, o veem [o Papa] como uma voz forte para o que queremos dizer hoje como cristãos”.
“Queremos pedir justiça, trabalhar pela paz, e dar uma mensagem do amor de Deus, de inclusão, de esperança para aqueles que o necessitem”, afirmou Tveit, acrescentando que ao predicar esta mesma mensagem o Papa “fala para todos os cristãos”.
O Patriarca Bartolomeu, da Igreja Ortodoxa. Foto: Religión Digital
Outro líder do cristianismo mundial que se somou às celebrações dos setenta anos do CMI foi o Patriarca Ecumênico, Bartolomeu, quem em sua própria visita a Genebra celebrou a “larga peregrinação comum” do conselho ecumênico “na caminhada da unidade, do testemunho cristão, do compromisso a favor da justiça, a paz e o cuidado com a Criação”.
“Damos graças a Deus que guiou nossos passos e lhe rogamos que nos proteja e apoie para continuar recorrendo juntos esse caminho, com o mesmo ímpeto e igual fervor”, disse o primus inter pares dos ortodoxos do mundo, domingo passado em um serviço comemorativo na Catedral de São Pedro.
Elogia a rica experiência que acumulou nessas sete décadas de vida, o Patriarca insistiu em que “hoje temos a obrigação de olhar para o devir, continuar nossa peregrinação comum para a unidade, a justiça e a paz”. Tarefa que não será fácil, reconheceu o patriarca, já que “o diálogo é o início de um longo processo de compreensão mútua que exige muita paciência e abertura”.
“Não nos façamos ilusões! Até agora, as igrejas não foram capazes de superar sua divisão para alcançar a unidade tão desejada”, advertiu Bartolomeu, embora bem recordou que “nossa colaboração construtiva e fraternal no seio do Conselho Mundial de Igrejas nos fortalece em busca da unidade e no nosso testemunho da universalidade do Evangelho”. Frutos que de todas as formas, não pode amadurecer completamente “sem a graça divina”.
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“Francisco fala para todos os cristãos", diz Olav Fykse Tveit, secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU