18 Abril 2018
Um dos principais cardeais estadunidenses afirmou que a demissão de funcionários LGBT da Igreja é "uma questão muito difícil".
Joseph Tobin, cardeal de Newark, falou em uma conferência na Universidade de Villanova na semana passada. Durante a sessão de perguntas, perguntaram sobre os vários funcionários da Igreja que perderam o emprego em conflitos trabalhistas que tinham relação com o fato de serem LGBT. A Revista América publicou sua resposta:
"'Acho que é uma pergunta muito difícil”. Acrescentou ainda que "a Igreja está avançando em relação à questão dos casais homossexuais”, embora não tão rápido quanto algumas pessoas gostariam. Diálogo, para ele, é fundamental.
"'O que eu digo para as pessoas que estão em um relacionamento homossexual e querem ensinar é: 'Como você faz isso? Ajude-me a entender. Como você expressa a plenitude da posição católica sobre a questão moral e justifica... as escolhas que fez para sua vida? Só me ajude a entender isso'", disse. "Às vezes as pessoas me ajudam a entender mesmo".
A informação é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 17-04-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A fala de Tobin refutava a ideia de uma Igreja menor e mais pura. Ele disse aos participantes da conferência que "apenas o Senhor, em última análise, que pode julgar quem pertence ou não pertence" à Igreja. O cardeal também reconheceu que a Igreja tem enfrentado muitas críticas sobre o que para muitos é um foco na sexualidade:
"Nas últimas décadas a Igreja tem sido um tanto marginalizada por muitos pelo que veem como uma preocupação com a ética sexual. Ela não pode inverter sua ética sexual, mas o Papa Francisco mostrou que existem outras questões em que a Igreja e o mundo podem trabalhar juntos... Este também é um passo no caminho de volta ao Vaticano II”.
Tobin admitiu a possibilidade de a Igreja atual diminuir à medida que as pessoas deixam o catolicismo ou param de praticar regularmente, mas concluiu a palestra com uma observação de esperança:
“Mas também há os aventureiros... assim como houve desde o início, que, quem sabe com certa timidez no começo, mas depois com coragem, conduzidos pelo Evangelho e por sua consciência, vão até as margens — talvez perto, talvez longe — e se engajam na luta pela justiça, pela igualdade, pelo reconhecimento da dignidade infinita de todo ser humano e pela paz".
O recente comentário do cardeal Tobin sobre a demissão de funcionários LGBT da Igreja reflete amplamente outro, anterior, que ele fez logo após ser nomeado para o Colégio dos Cardeais pelo Papa Francisco, em 2016. Depois de estabelecer a diferença entre o papel de um professor e de um diretor financeiro, o cardeal disse:
"Eu gostaria de falar com essa pessoa e perguntar: ‘Você encontra alguma dissonância dentro de si mesmo entre ensinar fielmente o que a Igreja ensina e as escolhas que você faz em sua vida?’”
O histórico do cardeal Tobin sobre questões LGBT é bastante positivo. No ano passado, ele recebeu um grupo de peregrinos LGBT à Catedral de Newark, um momento que um participante considerou que parecia "um milagre". Os leitores de Bondings 2.0 elegeram essa recepção como a segunda melhor notícia católica LGBT de 2017. Depois, Tobin explicou sua decisão de oferecer tal acolhida, dizendo que as pessoas LGBT tinham direito aos seus cuidados pastorais como quaisquer outras. Ele também endossou o livro do Pe. James Martin, S.J., Building a Bridge (Construindo uma ponte, tradução livre), considerando-o "corajoso, profético e inspirador".
Como arcebispo em Indianápolis, durante um referendo estadual que proibiria o casamento homossexual, a resposta Tobin, por meio de um porta-voz, foi que os católicos "têm o direito de tomar suas próprias decisões sobre estas questões". Tobin também defendeu as mulheres religiosas dos Estados Unidos quando o Vaticano começou suas investigações contra elas, em partes por apoiarem a igualdade LGBT.
É um passo positivo que o cardeal tenha se engajado por duas vezes na luta contra os abusos aos funcionários LGBT e aliados na Igreja. O silêncio tem sido o comportamento mais comum entre as autoridades da Igreja dos EUA, apesar de mais de 70 funcionários da Igreja terem perdido o emprego por conflitos trabalhistas relacionados a questões LGBT desde 2007. (Veja a lista completa aqui.) Ainda melhor é que a disposição de Tobin para falar é equilibrada com seu desejo de ouvir com atenção. Ele parece realmente aberto a aprender sobre como os funcionários LGBT da Igreja administram o emprego juntamente às crenças pessoais e escolhas de vida. Realizar reuniões em que haja esse tipo de diálogo seria um bom próximo passo para a questão deixar de ser “muito difícil" e passar a ser uma solução justa baseada no Evangelho.
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Demissão de funcionários LGBT da Igreja é uma "questão muito difícil", diz cardeal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU