26 Março 2018
Para os católicos, uma palestra sobre Jesus não parece ser controversa. No entanto, o Pe. James Martin, ao falar sobre o tema na Catedral do Santo Nome, em Chicago, na noite de quinta-feira, 22 de março, atraiu cerca de 150 manifestantes. Do outro lado da rua da igreja, eles cantaram hinos e rezaram o terço. Seguravam cartazes dizendo: “A ponte para o pecado do Pe. Martin ofende a Deus” e “O pecado cria abismos, e não pontes” – referências ao título de seu livro Building a Bridge [Construindo uma ponte], que pede diálogo entre a Igreja Católica e as pessoas LGBT.
A reportagem é de Emily McFarlan Miller, publicada por Crux, 24-03-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Os apoiadores também apareceram na catedral para a primeira de várias palestras de Martin nesta semana. O jesuíta foi convidado para falar na Arquidiocese de Chicago após críticas contra ele por parte de sites católicos de ultradireita e de alguns escritores católicos conservadores. Essa repercussão após a publicação de seu livro no ano passado levou ao cancelamento de várias de suas conferências.
Cerca de 150 manifestantes se reuniram do outro lado da rua enquanto o Pe. James Martin SJ dava uma palestra intitulada “Encontrando Jesus”, no dia 22 de março, na Holy Name Cathedral, em Chicago. Em comparação, a palestra esgotou todos os 1.200 ingressos (Foto: Emily McFarlan Miller/RNS)
Os manifestantes pertenciam a um grupo de leigos católicos chamado Sociedade Americana para a Defesa da Tradição, Família e Propriedade, de acordo com o diretor de sua sucursal de Chicago, Preston Noell. Ele disse que o grupo participou das campanhas online que levaram ao cancelamento de três das palestras de Martin no ano passado.
Foi quando o cardeal Blase Cupich, de Chicago, convidou o autor jesuíta para dar uma série de palestras sobre Jesus – tema de pelo menos uma de suas palestras canceladas – na Arquidiocese de Chicago durante os últimos dias da Quaresma, época penitencial observada por muitos cristãos rumo à Páscoa.
“Isso tudo é muito, muito prejudicial e nocivo à fé. Por isso, achamos que ele não deveria receber uma plataforma. Estou muito decepcionado com o fato de ele estar aqui na minha cidade, acolhido, infelizmente, pelo cardeal Cupich”, disse Noell, acrescentando que ele reza por Martin todos os dias.
Martin disse ao Religion News Service em uma entrevista antes de sua palestra que o convite de Cupich em setembro foi “muito bem-vindo, porque foi um lembrete para as pessoas de que o que estou dizendo é inteiramente fiel aos evangelhos e ao ensinamento da Igreja”.
Building a Bridge foi endossado por vários bispos e dois cardeais. A capa da edição revisada e ampliada divulgada no início deste mês traz as palavras do cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, Família e Vida do Vaticano, chamando-o de “um livro bem-vindo e muito necessário”.
A recepção que Martin teve em eventos similares foi “extremamente positiva”. Em uma recente aparição em Los Angeles, contou, as pessoas fizeram uma fila de três horas para compartilhar suas histórias e receber seu autógrafo. Havia “muitas lágrimas e abraços e gratidão, principalmente”.
“É uma porcentagem extremamente pequena de pessoas que são contra a mensagem, mas isso não é surpreendente. Sempre houve homofobia e ódio na Igreja – até mesmo Jesus teve que lidar com escribas e fariseus que não queriam abrir seus corações para as pessoas”, disse ele ao Religion News Service.
Dentro da catedral na quinta-feira à noite, os bancos estavam lotados. Os ingressos para a palestra, que contou com muitos momentos bem-humorados, estavam esgotados – todos os 1.200 – e restavam apenas 20 ou 30 para a palestra da noite seguinte, de acordo com a arquidiocese.
Martin abriu sua palestra “Encontrando Jesus: conhecendo o Cristo da fé e o Jesus da história”, agradecendo a Cupich pelo convite. E, valendo-se de sua reputação como humorista, Martin também pediu desculpas àqueles que vieram pelo fato de ele não ser a Ir. Jean, a freira de 98 anos e capelã da equipe de basquete masculino da Loyola University Chicago, que alcançou o status de “celebridade internacional” durante o March Madness [campeonato nacional de basquete universitário dos Estados Unidos].
E ele falou sobre Jesus.
“Você não pode domar Jesus. Humanidade e divindade fazem parte de sua história. Cortar as partes desconfortáveis, e não é de Jesus que estamos falando, é criação nossa”, disse Martin, padre jesuíta, autor de best-sellers e editor da revista America.
Marilynn Pathiyil, que participa a Igreja de São Patrício em Chicago, foi à palestra depois de ler o livro de Martin “Sabedoria jesuíta para (quase) tudo” (Editora Sextante). Ela sentiu que o livro mudou sua vida, disse, “como se ele tivesse escrito apenas para mim”.
Pathiyil disse que os manifestantes do lado de fora fizeram-na se sentir triste, “como se eles estivessem perdendo o que estava em jogo”, e que ela passou a maior parte da hora que esperou na fila em volta do quarteirão para entrar na catedral rezando por eles. Ela não sabe tudo sobre as opiniões de Martin sobre a inclusão de pessoas LGBT na Igreja, afirmou, mas, “até onde eu li e compreendi, trata-se apenas de ser inclusivo e amá-las, ser gentil e tratá-las como seres humanos. E eu concordo com todas essas coisas”.
“Eu acho que todos somos chamados a fazer isso. É por isso que, quando os vi, eu me senti triste. Não se trata de mudar a doutrina da Igreja, se é isso que eles estão questionando. Trata-se apenas de amar”, disse ela.
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Palestra do Pe. James Martin em Chicago reúne mais de 1.000 participantes e 150 manifestantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU