09 Junho 2017
Mover os investimentos financeiros dos combustíveis fósseis, como carvão, gás, petróleo, para outros setores dos mercados de ações, compatíveis com a sustentabilidade ambiental, de acordo com uma estratégia de finanças responsáveis e éticas. Esse é um dos projetos que está sendo trabalhado há alguns anos pelo Movimento Católico Global pelo Clima (The Global Catholic Climate Movement), órgão nascido em 2014, que, depois, cresceu com o impulso da encíclica do Papa Francisco Laudato si’ e do qual fazem parte mais de 400 organizações.
A reportagem é de Francesco Peloso, publicada por Vatican Insider, 06-06-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um tema particularmente sensível às vésperas do próximo “G7” sobre o ambiente, que será realizado em Bolonha, de 10 a 12 de junho, mas que será precedido e acompanhado por muitas iniciativas, dentre as quais não faltam as de caráter religioso e inter-religioso, porque a salvaguarda da Criação – como indica o próprio pontífice – também é uma questão em que se encontram as diversas fés e tradições.
De fato, é nesse campo que as diversas Igrejas cristãs podem dialogar entre si e, depois, com o Islã e o judaísmo, assim como ocorrerá nos próximos dias em Bolonha, por iniciativa da Conferência Episcopal Italiana, do arcebispo, Dom Matteo Zuppi, e da FOCSIV (Federação de Órgãos Cristãos do Serviço Internacional Voluntário, na sigla em italiano).
Além disso, é também nesse campo que as finanças podem se tornar um instrumento virtuoso, ainda mais à luz do acordo de Paris de 2015 (Conferência do Clima, COP 21), com base no qual foram feitos compromissos importantes internacionais em nível internacional para a redução das emissões poluentes, a fim de diminuir o ritmo e pôr uma barreira ao aquecimento climático.
Por outro lado, o fenômeno já está influenciando negativamente diversas regiões do planeta, atingindo em particular os países africanos e asiáticos mais pobres, alimentando fenômenos migratórios e crises agrícolas e alimentares.
Nos últimos dias, além disso, causou espanto na opinião pública mundial a decisão da Casa Branca de sair do acordo de Paris, escolha criticada por diversos governos e pelo próprio Vaticano. No entanto, assinalam as organizações católicas envolvidas na campanha para deter o aquecimento global, “a decisão de Trump fez surgir uma espécie de efeito contrário: nunca se falou tanto dos acordos de Paris quanto nesse período”.
De fato, dizem os organizadores da campanha pelo desinvestimento em combustíveis fósseis, drenar recursos financeiros para esse setor significa aproximar a obtenção dos objetivos estabelecidos pelos acordos de Paris, embora não se trate de uma operação fácil.
No caso das organizações católicas – como as ordens religiosas – que começam a aderir à campanha, o objetivo é mover os recursos investidos para o fundo de pensões ou para as obras de caridade e de solidariedade, dos combustíveis fósseis a investimentos éticos; o que significa seguir um código ético (com base no qual, dentre outras coisas, evita-se destinar recursos ao comércio de armas) capaz de orientar a transferência dos próprios bens móveis.
Foram identificadas 200 companhias de extração de minérios que devem ser evitadas, uma espécie de lista negra dos maiores poluidores globais. É uma operação que pode levar tempo (para evitar também que se torne perdedora sob o perfil econômico). Por isso, foi estabelecido um período de cinco anos para completar a operação.
A iniciativa pode parecer pouca coisa, mas não é: o movimento de desinvestimento é global e envolve, além da rede católica, muitos organismos e investidores leigos; centenas deles já aderiram à campanha, e o peso de tal ação ética coordenada em âmbito financeiro cresce rapidamente ao som de bilhões de dólares desinvestidos e se torna um modelo que faz prosélitos.
Assim aconteceu que ordens religiosas masculinas e femininas, universidades católicas, dioceses, associações, um pouco de cada vez, estão tentando desinvestir para investir novamente com base em determinados parâmetros éticos.
“A reação dos católicos à mudança – disse Tomas Insua, diretor do Global Catholic Climate Movement – está avançando exponencialmente. Desde a recusa de investir em combustíveis fósseis à instalação de painéis solares nos telhados das igrejas, um número sempre maior de católicos está adotando ações concretas para proteger a criação e as pessoas vulneráveis em suas comunidades, mas não só.”
Além disso, despertou grande preocupação a situação criada no G7 realizado na Itália em maio passado, em Taormina, durante o qual não houve a unanimidade sobre a questão do aquecimento global, ao contrário.
“Diante desse impasse político – observou o presidente da FOCSIV Itália, Gianfranco Cattai – diversas organizações católicas se comprometem em nome da Laudato si’ a promover a justiça social e climática mediante compromissos concretos de desinvestimento nos combustíveis fósseis. Esperamos que tal ação possa ser um apelo aos líderes internacionais para se envolverem no combate das mudanças climáticas.”
Nesse contexto, entre as últimas adesões à campanha, encontramos a Arquidiocese de Pescara, a província italiana da Companhia de Jesus (que seguiu o exemplo da canadense), a rede interdiocesana Nuovi Stili di Vita, mas também as Irmãs Franciscanas dos Estados Unidos, a província de São José da Congregação da Paixão de Jesus Cristo (ou seja, a província inglesa dos passionistas; anteriormente também dos passionistas da Austrália, Nova Zelândia e Vietnã haviam aderido).
Já haviam feito parte do projeto as salesianas Filhas de Maria Auxiliadora de Milão e Nápoles, a FOCSIV, diversos órgãos australianos e ingleses, e ainda as universidades católicas estadunidenses de Georgetown e Dayton.
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Laudato si’ e o compromisso dos católicos: adeus aos combustíveis fósseis - Instituto Humanitas Unisinos - IHU