21 Janeiro 2017
Agências americanas e britânica e Organização Meteorológica Mundial confirmam que o ano passado foi o mais quente de todos os tempos e dizem que 2017 também estará no alto da lista.
A reportagem é de Claudio Angelo, publicada por Observatório do Clima, 18-01-2017.
Média de temperaturas de 2012 a 2016. Imagem: Nasa
O ano de 2016 teria sido o mais quente da história mesmo na ausência do El Niño, e 2017 deverá ser um dos três mais quentes. As afirmações foram feitas por cientistas de duas agências do governo americano nesta quarta-feira (18), durante a divulgação dos dados finais sobre o recorde batido no ano passado.
Já era sabido que 2016 seria o ano mais quente de todos os tempos desde o início dos registros globais, em 1880. Nesta quarta-feira, três dos principais centros de monitoramento climático do planeta disseram quanto: a Nasa e a Noaa (Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera), nos EUA, e o MetOffice, o serviço britânico de meteorologia. Eles apontam que o planeta fechou o ano passado 1,1ºC mais quente que a média do período pré-industrial. Os dados foram referendados pela
Organização Meteorológica Mundial, a OMM.
O número é inferior ao 1,2ºC que havia sido previsto pela própria OMM no fim do ano passado e também menor que o 1,3ºC que o serviço europeu de climatologia Copernicus divulgou no começo do mês. No entanto, ainda nos deixa “mais próximos do que gostaríamos de estar” do limite de 1,5ºC do Acordo de Paris, disse Gavin Schmidt, diretor do Centro Goddard de Estudos Espaciais da Nasa.
Embora as metodologias tenham diferenças significativas, todos concordam que 2016 bateu o recorde anterior, de 2015, que por sua vez havia batido o recorde de 2014. É a primeira vez desde o final da década de 1930 que o mundo vê três anos seguidos de aquecimento. A maior parte do aquecimento ocorreu nos últimos 35 anos, com 16 dos 17 anos mais quentes da história no século 21.
“Os dados estão todos cantando a mesma canção, mesmo que eles entoem notas diferentes de um ano para o outro”, comparou Derek Arndt, chefe da Divisão de Monitoramento Ambiental da Noaa, em entrevista coletiva na tarde de quarta-feira
Seis séries de dados mostram a mesma tendência de aquecimento em relação à média de 1961 a 1990
O registro da Nasa tem o maior viés de alta, por assim dizer, colocando o planeta em 2016 0,99ºC mais quente do que a média do século 20 (a Noaa fala em 0,94ºC). Isso porque a agência espacial americana computa em suas séries de dados anuais as temperaturas da bacia do Ártico, algo que a Noaa e o MetOffice não fazem.
E o Ártico definitivamente saiu da casinha em 2016: o aquecimento na região no ano foi de 4ºC acima da média de 1951 a 1980. Isso causou uma redução de 12,58% na cobertura de gelo marinho permanente – a menor já registrada num ano desde o início das medições com satélites, há 38 anos –, com derretimento acontecendo em pleno inverno. “O Ártico está aquecendo de duas a três vezes mais rápido que o resto do mundo”, afirmou Gavin Schmidt.
Segundo a OMM, a temperatura em 2016 foi 0,7ºC superior à de 2015.
O recorde é atribuído ao El Niño forte de 2015 e 2016 sobreposto a uma tendência de longo prazo de aquecimento global.
Schmidt e Arndt afirmaram, porém, que os recordes dos dois últimos anos teriam acontecido mesmo na ausência do fenômeno.
“O El Niño contribuiu para um quarto a um terço das temperaturas acima da média que vimos”, disse o pesquisador da Noaa, mostrando os recordes mensais de temperatura num gráfico: “Se você olhar os meses de El Niño, eles foram mais quentes.
Os meses de La Niña [a fase oposta ao El Niño, de resfriamento do Oceano Pacífico] foram mais quentes. E os meses neutros foram mais quentes”.
Efeito do El Niño nas temperaturas: gráfico mostra meses de El Niño (em vermelho), de La Niña (azul) e sem sinal de nenhum dos dois (cinza); compare 2015/16 com o El Niño de 1998. Imagem: Noaa
Segundo Schmidt, o El Niño contribuiu com 10% do sinal de aquecimento, enquanto o aquecimento global de longo prazo causado pelos gases de efeito estufa contribuiu com 90%. “O El Niño foi um fator este ano, mas 2015 e 2016 teriam sido recordes mesmo sem ele”, tuitou o cientista da Nasa.
O prognóstico para 2017 não é muito diferente. Embora a Nasa e a Noaa não antevejam um recorde, dado a fase La Niña no Pacífico, a tendência de longo prazo de aquecimento permanece. Os pesquisadores dizem que ficaremos acima de 1ºC acima do pré-industrial pelo terceiro ano consecutivo – e possivelmente por muitas gerações.
“Acho que ficará entre os cinco mais, talvez o terceiro”, disse Schmidt.
E, no que depender do novo governo dos EUA, outros recordes virão. Os dados foram divulgados três dias antes da posse de Donald Trump, um negacionista do aquecimento global que nomeou negacionistas do aquecimento global para alguns dos principais postos da administração.
Seu secretário de Estado, Rex Tillerson, é presidente da Exxon, a empresa que mais fez para financiar o negacionismo climático. Em sabatina no Senado na semana passada, Tillerson afirmou que o aquecimento existe, mas que nossa capacidade de prever seus efeitos “é muito limitada”.
Questionados pelos jornalistas sobre que mensagem os novos dados passam ao novo governo americano, Schmidt e Arndt desconversaram. Entre as ameaças da equipe de Trump esteve a de cortar financiamento para pesquisas sobre clima.
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Nasa: 2016 seria recorde mesmo sem El Niño - Instituto Humanitas Unisinos - IHU