16 Agosto 2016
Quando um repórter me perguntou semana passada sobre se eu era a favor de diaconisas, primeiramente hesitei e, então, respondi: “Se existem diáconos homens, deve existir diáconos mulheres”.
A reportagem é de Thomas Reese, publicada por National Catholic Reporter, 11-08-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
A imprensa está interessada nesse assunto porque o Papa Francisco nomeou uma comissão para estudar a questão das diaconisas, incluindo como membro a nossa estimada colega do National Catholic Reporter Phillis Zagano.
Em seus inúmeros escritos, Zagano tem mostrado que houve mulheres ordenadas ao diaconato na Igreja primitiva. Elas desapareceram no Ocidente por volta da mesma época em que os diáconos deixaram de existir. Se houve diaconisas no passado, segundo tal argumento, não há razão para que não as tenhamos hoje.
Considero convincente este argumento, mas francamente, mesmo se não houvesse no passado diaconisas, ainda sim eu defenderia a ordenação de mulheres ao diaconato hoje, da mesma forma como defendo a ordenação de mulheres ao sacerdócio. Verdade seja dita: Jesus não escolheu mulher alguma para estar entre os Doze Apóstolos, mas não escolheu nenhum gentil também. Teríamos, realmente, uma escassez de padres hoje caso o sacerdócio estivesse limitado a cristãos judeus.
Hoje, a Igreja faz muitas coisas que Jesus e os primeiros cristãos não faziam. Por exemplo, eles não reconheceriam a Eucaristia como nós a celebramos atualmente, nem entenderiam por que estamos fazendo-a em nossas igrejas em vez de em nossas casas, e ficariam assustados com todas as estátuas (ídolos) em nossas igrejas. Antes de as estátuas serem aceitas, a Igreja passou por uma Controvérsia Iconoclasta muito desagradável. E, durante a Reforma, essa controvérsia irrompeu novamente.
Ainda hoje a Igreja Católica tem dificuldades em lidar com mudanças. Durante os últimos dois papados, toda discussão em torno de uma mudança séria era suprimida. Hoje, a janela fechada após o Concílio Vaticano II foi reaberta. Isso não quer dizer que toda e qualquer nova proposta deve ser aceita; significa que nós deveríamos estar abertos a um diálogo sério e ao debate a respeito de mudanças na Igreja, em particular quanto ao papel da mulher nela. Esse debate deveria ocorrer sem xingamentos. Ele deve acontecer na forma de amigos em Cristo, que buscam o que é melhor para o Povo de Deus.
O leitor irá notar que eu disse ter hesitado quando perguntaram se eu apoiava mulheres diáconos. Essa minha hesitação não é com elas, mas com toda a ideia de diáconos da forma como atualmente é praticada nos Estados Unidos.
A renovação do diaconato foi proposta no Concílio Vaticano II como uma solução à escassez de sacerdotes nativos em territórios missionários. Na verdade, os bispos da África disseram: não, obrigado. Preferiram usar catequistas leigos em vez de diáconos.
Foi nos EUA onde o diaconato decolou. Dos aproximadamente 45 mil diáconos permanentes no mundo, cerca de 18.500 – ou em torno de 40% – estão neste país. Quase 80% desses diáconos encontram-se no ministério ativo, segundo o Centro de Pesquisa Aplicada no Apostolado (Center for Applied Research in the Apostolate), mas somente 6 em cada 10 destes diáconos ativos são financeiramente remunerados pelo pelos seus ministérios. Portanto, a maioria dos diáconos americanos são ministros que atuam em tempo parcial e/ou não são remunerados.
Acho isso estranho. A Igreja americana tem muitos ministros leigos remunerados trabalhando em tempo integral enquanto, ao mesmo tempo, tem diáconos ordenados trabalhando em tempo parcial, onde a maioria ganha a vida fazendo trabalhos fora da Igreja. Por que estamos ordenando ministros para atuar em tempo parcial e não ministros em tempo integral?
Por favor, observem que não estou dizendo que os diáconos não fazem um bom trabalho na Igreja.
Mas a verdade é que um leigo ou uma leiga pode fazer tudo o que um diácono faz.
Um leigo, ou leiga, pode presidir uma celebração da Palavra, ou um funeral, coisas que os diáconos normalmente fazem.
A verdade é que um leigo não pode dar a homilia depois do Evangelho na missa. Mas aqui temos apenas uma regra de Direito Canônico, que pode facilmente ser alterada. Não há necessidade de ordenar pessoas para que elas possam dar homilias. Apenas uma mudança na lei.
É verdade, os diáconos podem batizar, mas também o podem os leigos. Eu fui batizado por uma irmã da Congregação de São José no hospital quando acharam que eu iria morrer logo após o nascimento. É por isso que o meu nome do meio é Joseph. Os batismos por leigos e leigas sempre foram reconhecidos pela Igreja.
Diáconos podem testemunhar um casamento, porém na teologia católica os ministros do Sacramento do Matrimônio são as duas pessoas que estão se unindo. O padre ou o diácono simplesmente assiste (Cânone 1108). Não há motivos para que um leigo não realize essa função. Com efeito, o Cânone 1112 permite assim proceder sob certas circunstâncias.
A verdade é que há diáconos pela mesma razão que há bispos auxiliares, porque assim eles ganham mais respeito. O clericalismo está tão enraizado na vida católica que as pessoas dão uma deferência maior a um diácono do que a um leigo; os padres e as pessoas conferem uma maior deferência a um bispo auxiliar do que a um padre, mesmo se o padre for vigário geral. A ordenação dá um status para além da competência real da pessoa.
Há, no entanto, um jeito de salvar o diaconato. Dar-lhe um ministério que sirva a uma necessidade real, um ministério que os leigos possam fazer – a unção dos enfermos.
Hoje, se alguém em sua família estiver morrendo e você telefona para o centro paroquial horas depois, é mais provável que irá receber um correio de voz do que um padre. Nos EUA, as chances de você ser ungido no leito de morte são minúsculas. Se tiver sorte, poderá estar em um hospital quando o padre for fazer uma visita periódica. Ou você pode viver numa paróquia que unge idosos e pessoas adoecidas uma vez por mês numa missa em dia de semana. Do contrário, boa sorte.
Permitir que diáconos confiram a unção aos enfermos dar-lhes-ia um ministério sacramental que vai ao encontro de uma necessidade pastoral importante em nosso país.
Não há muitos exemplos históricos de que diáconos ungiram os enfermos, mas curiosamente há casos de que diaconisas ungiram enfermas, da mesma forma como diaconisas ungiam mulheres no batismo. “São Epifânio diz isso, e Jean Daniélou, entre outros, o reafirma”, segundo Zagano.
Não seria maravilhoso se os atos históricos das diaconisas dessem os elementos precedentes para se permitir que tanto os diáconos como as diaconisas possam dar a unção aos enfermos? Eis uma outra razão por que espero que a Igreja autorize haver mulheres ordenadas ao diaconato.
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Maria de Magdala. Apóstola dos Apóstolos. Revista IHU On-Line n. 489.
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Diaconisas? Sim. Diáconos? Talvez - Instituto Humanitas Unisinos - IHU