31 Mai 2016
Sobre as palavras do Papa Francisco a respeito da possibilidade de que, em um futuro bastante próximo, as mulheres poderão desempenhar cargos cada vez mais importantes na Igreja, falamos com Alberto Melloni, historiador italiano, estudioso da história do cristianismo e especialista no Concílio Vaticano II.
A reportagem é de Maristella Iervasi, publicada no jornal L'Unità, 30-05-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Você ficou impressionado com os dados da pesquisa SWG sobre o sacerdócio? Há um grande número a favor entre os italianos. Esperava esse "veredito"?
Não: parece-me o testemunho de uma sociedade em que se possuem cada vez menos os códigos de compreensão daquilo que acontece no mundo religioso. Por exemplo, as perguntas sobre as mulheres no ministério eclesiásticos ou no sacerdócio são "pegadinhas", porque muitas mulheres já exercem um ministério: é o sacerdócio, o batismal; todos os cristãos e as cristãs o têm. O sacerdócio ministerial é outra coisa e diz respeito a um problema que todos os bispos conhecem: isto é, como garantir um cuidado das comunidades.
Também na Europa, hoje, são muitos os lugares onde mulheres e homens, mães e pais de família, freiras ou consagrados, exercem um "ministério": isto é, garantem à comunidade a escuta da Palavra, a vida litúrgica e a experiência da própria comunhão. A questão é se esse ministério pode ou deve se encaixar no presbiterado ou no diaconato, ou se se deve aceitar que ele possa assumir formas imprevisíveis. O ponto, em suma, não é só o do sexo do clero ou da condição em relação ao matrimônio, mas à vida das comunidades. A pesquisa diz que muitas pessoas esperam soluções diversas para isso – que, aliás, são muito antigas – em curto prazo.
A questão das diaconisas é a enésima reviravolta do papa. Quanto Bergoglio "forçou" o tema e quanto essa mudança já amadureceu na elaboração da Igreja Católica?
O discurso do papa traz consigo uma história muito longa, que é a história do ministério pluriforme na Igreja. Desde sempre, em todas as igrejas cristãs, buscou-se dar forma ao que é necessário para garantir a entrega do Evangelho, da Eucaristia, da vida em comum. Esse serviço, no Novo Testamento, é confiado a figuras dos mais diversos nomes: existem comunidades que são regidas por uma estrutura semelhante à das sinagogas, com os "higúmenos" (os guias); outras falam de "mestres" para indicar os chefes das comunidades; há ainda os profetas etc. Mas há três perfis que, entre os séculos II e III, se tornaram a forma-padrão do ministério, ou seja, o dos bispos, dos padres e dos diáconos. Três palavras não sagradas, mas técnicas: para indicar os cuidadores, os anciãos e os servidores.
Então, o que aconteceu?
Na Igreja do Oriente e na Igreja do Ocidente, esse modelo da chamada ordem tripartite se afirmou e se tornou muito estável: mesmo que, por exemplo, no Ocidente, o diaconato se tornou apenas uma passagem para se tornar padre. Essa configuração só foi posta em discussão pelas Igrejas da Reforma no século XVI, com a doutrina do pastorado e, em algumas, o cancelamento do episcopado. Outras Igrejas, como a anglicana, conservaram o sistema tripartite. A Igreja Católica Romana decidiu no Concílio Vaticano II retomar o problema do ministério e restaurou o diaconato como grau separado da ordem, e decidiu dar esse ministério também aos homens casados, os chamados "viri probati".
E foi uma passagem importante?
Fundamental e muito importante, porque, por um lado, ela reconhecia que o ministério não é só um poder capacitador, mas também uma função para a comunidade; e, depois, reconhecia que o celibato, que era apenas um costume venerável e respeitável da Igreja latina que se tornara um requisito exclusivo há cerca de 11 séculos, podia ser um caminho, mas não o único. E o diaconato chamado "uxorado", isto é, dado a pessoas casadas, ao lado do diaconato celibatário, implicava que se teria padres escolhidos entre os casados, ao lado de padres escolhidos entre os célibes. E muitos bispos – Dom Gilberto Baroni, em Reggio Emilia, fez isso com Giovanna Gabbi – admitiram as mulheres aos cursos do diaconato, considerando como iminente uma decisão de abertura sobre isso. Ao contrário, isso não aconteceu. E, de fato, precisamente a ordenação das mulheres ao ministério se tornou, no fim do século XX, um ponto de dilaceração entre as Igrejas: Igrejas reformadas, evangélicas e anglicanas que a procediam, e Igrejas católicas e ortodoxas que a negavam.
Na Igreja Católica, depois, houve o documento de João Paulo II.
João Paulo II fez em 1994 uma carta apostólica, a Ordinatio sacertodalis, defendendo que a Igreja não tinha poder para decidir sobre isso: como se a masculinidade do ministro que age "in persona Christi" pertencesse à ordem das coisas reveladas. Tratava-se de uma tese que se prestava a forçações. Na realidade, temos o testemunho de um ministério feminino, temos também o testemunho de um diaconato feminino e temos também o nome de uma: Febe, diaconisa da Igreja da Cencreia.
Por isso, aquilo que o Papa Francisco fez, ao dizer que a função das diaconisas deve ser novamente estudada, foi uma "forçação da forçação", que restaurava um nível adequado de discussão. Teria sido impensável dizer que a ordenação feminina de Igrejas inteiras é contra a revelação e que aquilo que a Igreja Católica não tinha vontade de fazer era a única possibilidade. Reabrir uma discussão sobre o ministério feminino e das batizadas é algo de grande relevo e reconfortante.
Quais são as razões históricas do atraso "católico" em relação a outras confissões, valdense, anglicana...?
Não é um atraso "político": é uma questão de maturidade teológica. O tema foi abandonado pelos teólogos, que preferem questões fáceis e inócuas. Portanto, é necessária a retomada de um diálogo aberto, sem raivas e sem superficialidades, para construir nas Igrejas um consenso "sinodal". Que não é o instrumento que faz aflorar uma maioria ampla (faz-se isso no conclave), mas faz emergir um consenso profundo (essa é a sinodalidade e a conciliaridade).
O Papa João XXIII disse a Capovilla no leito de morte uma frase muito bonita: "Não é o evangelho que muda. Somos nós que começamos a compreendê-lo melhor". Esse é o ponto da Igreja: saber que a fidelidade ao Evangelho não está apenas atrás, mas também à frente. E nessa fidelidade há a igualdade entre os batizados, que é um eixo dogmático irrenunciável, e há a fidelidade à Eucaristia como experiência real, tanto no plano histórico, quanto no plano teológico. É impensável que exista uma doutrina "verdadeira" do ministério que torne impossível um acesso "verdadeiro" à vida eucarística comunitária.
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Diaconisas? "Foi uma 'forçação da forçação' por parte do papa". Entrevista com Alberto Melloni - Instituto Humanitas Unisinos - IHU