Por: João Flores da Cunha-IHU | 22 Agosto 2016
Uma tentativa de reflexão sobre as ocupações das escolas públicas no Rio Grande do Sul enquanto fenômeno social. Esse foi o mote da fala de Eduarda Bonara Kern, professora da rede pública estadual e municipal do Rio Grande do Sul, intitulada “Ocupa tudo: limites e possibilidades da (re)invenção das escolas no RS”, realizada na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros – IHU no dia 18-08-2016. A palestra faz parte do evento IHU Ideias.
Kern acompanhou a ocupação dos alunos no IEE Pedro Schneider, de São Leopoldo, que se deu paralelamente a uma greve de professores. Ela é licenciada e bacharela em Ciências Sociais pela UFRGS, especialista em Informática na Educação pela PUCRS e mestranda em Ciências Sociais na Unisinos.
A socióloga observou que a insatisfação dos estudantes provoca reações mais rápidas do que os pedidos dos docentes. Ela acredita que o fato de algumas reivindicações terem sido atendidas com rapidez mostra que os órgãos de Estado responsáveis pela Educação têm mais receio dos alunos. Esses seriam mais imprevisíveis, enquanto os professores estariam limitados por conta do vínculo institucional com o Estado.
Ela notou também que os movimentos eram “muito contrastantes”: o dos estudantes era mais dinâmico do que os professores, ou seja, aqueles se mostravam capazes de tomar decisões mais rápidas do que seus docentes sobre os procedimentos a serem tomados. Em relação ao que mudou na escola Pedro Schneider após a ocupação, ela ponderou que há dificuldade na análise por se tratar de eventos recentes, mas acredita que a experiência afetou os alunos que participaram da ocupação, e não aqueles que estiveram ausentes.
Kern destacou que os movimentos funcionam a partir de exemplos. Ou seja, a ideia que provoca as ocupações no Rio Grande do Sul seria: “se funcionou em São Paulo, vamos tentar também”. A professora citou o manual sobre como invadir e manter ocupada uma escola elaborado por estudantes do Chile, e que foi utilizado no movimento de São Paulo. Trata-se de “informações em rede que são reapropriadas por outras pessoas”, disse ela.
Em sua palestra, a professora exibiu o seguinte vídeo, produzido pelo Coletivo Catarse, sobre a ocupação no Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre:
A professora disse que é possível que as ocupações sejam a maior herança de junho de 2013, mas destacou não enxergar, nos alunos, consciência desse processo. Ela observou que essa análise pode implicar subestimar os jovens, mas que acredita que, embora engajados e ativos nas ocupações, eles não têm consciência do que esse movimento pode representar socialmente. “A gurizada tá tenteando. Quem colar, colou”, disse.
Em relação ao resultado das ocupações, ela discorda da visão de algumas entidades de que o movimento teria alcançado uma vitória. Para Kern, as concessões do governo estadual significaram apenas o adiamento da discussão da PL-44 para janeiro.
Um movimento como o das ocupações deixa mais perguntas do que certezas e desestabiliza as estruturas sociais, segundo a professora. Ela notou que a escola é uma instituição muito mais rígida do que flexível, e que o desafio seria ir além da renovação das estruturas tradicionais, ou seja, não se limitar a, no máximo, renovar o que que já existe, e sim buscar criar uma nova organização. Kern acredita que o movimento que ganhou visibilidade com mais de 150 ocupações no Rio Grande do Sul não se esgotou. “Vem coisa pela frente”, afirmou.
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As lutas e os sentidos das ocupações das escolas no RS - Instituto Humanitas Unisinos - IHU