"Acostumados a viver a fé como uma tradição familiar, uma herança ou apenas mais um costume, somos incapazes de descobrir todo o poder que ela tem para nos humanizar e dar um novo sentido às nossas vidas. Por isso, é triste observar quantos homens e mulheres abandonam uma fé vivida de forma inconsciente e irresponsável para adotar uma atitude de descrença tão inconsciente e irresponsável quanto sua posição anterior".
O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, referente ao Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 12,32-48, que corresponde ao 19º Domingo do Tempo Comum, Ano C, publicado por Religión Digital, 04-08-2025.
Um dos riscos que enfrentamos hoje é cair em uma vida superficial, mecânica, rotineira e superlotada. Não é fácil escapar. Com o passar dos anos, os projetos, objetivos e ideais de muitas pessoas acabam desaparecendo. Muitas acabam acordando todos os dias apenas para "se virar".
Onde encontrar um princípio humanizador, desalienador, capaz de nos libertar da superficialidade, da massificação, da perplexidade ou do vazio interior?
É impressionante a insistência com que Jesus fala de vigilância. Poderíamos dizer que ele entende a fé como uma atitude de vigilância que nos liberta da insensatez que domina muitos homens e mulheres, que caminham pela vida sem qualquer meta ou objetivo.
Acostumados a vivenciar a fé como uma tradição familiar, uma herança ou apenas mais um costume, deixamos de descobrir todo o poder que ela tem para nos humanizar e dar um novo sentido às nossas vidas. Por isso, é triste ver quantos homens e mulheres abandonam uma fé vivida de forma inconsciente e irresponsável para adotar uma atitude de descrença tão inconsciente e irresponsável quanto sua posição anterior.
O chamado de Jesus à vigilância nos convoca a despertar da indiferença, da passividade ou do descuido com que frequentemente vivemos a nossa fé. Para vivê-la com lucidez, precisamos compreendê-la mais profundamente, compará-la com outras atitudes possíveis diante da vida, ser gratos por ela e tentar vivê-la com todas as suas consequências.
A fé é a luz que inspira nossos critérios de ação, a força que impulsiona nosso compromisso de construir uma sociedade mais humana e a esperança que anima toda a nossa vida cotidiana.