19 Junho 2020
Naquele tempo, disse Jesus a seus apóstolos:
“Não tenham medo deles, pois não há nada de escondido que não venha a ser revelado, e não existe nada de oculto que não venha a ser conhecido. O que digo a vocês na escuridão, repitam à luz do dia, e o que vocês escutam em segredo, proclamem sobre os telhados”.
“Não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma. Pelo contrário, tenham medo daquele que pode arruinar a alma e o corpo no inferno! Não se vendem dois pardais por alguns trocados? No entanto, nenhum deles cai no chão sem o consentimento do Pai de vocês. Quanto a vocês, até os cabelos da cabeça estão todos contados. Não tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pardais”.
“Portanto, todo aquele que der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante do meu Pai que está no céu. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, eu também o renegarei diante do meu Pai que está no céu”.
Leitura do Evangelho segundo Mateus, capítulo 10,26-33. (Correspondente ao 12º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
A leitura do evangelho de hoje situa-se no contexto do diálogo de Jesus com seus discípulos e discípulas. Continua oferecendo- lhes as recomendações sobre a missão que levarão adiante e suas consequências. Lembremos que, segundo a tradição, os destinatários do evangelho de Mateus são os cristãos/ãs de origem judaica. Ao longo de seu escrito, o evangelista mostra de diferentes formas o ambiente de claro confronto com as autoridades judaicas.
No momento em que foi escrito o evangelho de Mateus, os cristãos sofriam a hostilidade e opressão do Império Romano com uma grande mostra da força militar. Lembremos também da existência de grupos rebeldes dispostos a eliminar o que não estivesse de acordo com eles. Uma grande hostilidade se acrescentava no dia a dia e por isso a perseguição até a morte aparecia no
horizonte próximo das comunidades cristãs.
No domingo passado refletimos sobre a origem do chamado de Jesus aos discípulos quando vê as multidões que estavam abatidas como ovelhas que nãotêm pastor. Assim Jesus os faz partícipes da sua missão e recomenda-lhes estendê-la por todo o mundo, levando a Boa Notícia do Reino para todo o mundo. A comunidade cristã vive e cresce no meio de diferentes tensões, buscando levar adiante a proposta de Jesus que obviamente entrava em confronto com as autoridades religiosas, com os interesses do império e dos grupos rebeldes.
“Não tenham medo”. Jesus traz conforto a sua comunidade. Haverá perseguições, dificuldades, incompreensões que podem gerar um medo que os paralise ou os faça desistir da sua missão, mas Jesus garante sua presença que os consola e apoia.
A pandemia que perpassa o mundo, nos diferentes países e situações sociais e culturais, gera medo porque, como disse o historiador Francisco Martinez Hoyos: “Apesar da modernidade do nosso mundo hiperconectado, a humanidade continua sendo muito, muito frágil. E medos nos assombram como sempre”. É o medo do contágio do covid, o vírus diante do qual a ciência procura reagir com prontidão, mas não pode impedir sua propagação e seu contágio nem suas consequências. E isto pode gerar o vírus do medo.
“Não há nada de escondido que não venha a ser revelado”. Jesus nos consola com suas palavras. Tudo será manifesto, nada ficará escondido. Ele chama-nos a não ter medo porque tudo aquilo que hoje se realiza na escuridão será conhecido.
Quantas pessoas hoje que, perpassando a dor e o medo do contágio, continuam fazendo o bem, contribuindo com os mais abandonados, levando comida aos mais desprotegidos, entregando-lhes solidariamente água e outros instrumentos para impedir seu contágio?
Pessoas que possivelmente atuem caladamente porque sua atitude pode ser rejeitada pelas suas amizades, ou ainda pela sua família. Atitudes que permanecem no segredo porque a sociedade não as aceita, porque têm medo. Por isso, a comunidade dos amigos e amigas de Jesus não pode ficar calada. Como Maria, tem a missão de ser servidora da Palavra de Deus, o que a faz ser neste mundo voz profética, libertadora e terna.
"Não tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pardais”. Jesus convida-nos a agir sem medo, a viver com liberdade, porque nossa vida e a vida de toda pessoa humana é muito mais valiosa que tudo aquilo que possa atingir sua liberdade. Cada um e cada uma recebe do Pai seu olhar e seu amor misericordioso que não tem limites. Esse amor de Deus Pai e Mãe é nossa força para levar adiante sua missão neste momento que nos toca viver.
Encorajados/as por este cuidado amoroso que Deus tem por nós, e pelo testemunho de tantos homens e mulheres que na nossa América Latina souberam ser fiéis ao projeto de Deus, sofrendo a perseguição e até a morte, continuemos nossa “carreira” na construção de um mundo de acordo com o sonho de Deus Pai-Mãe.
Meditemos uma vez mais a mensagem do papa Francisco no domingo de Ramos: “Hoje, no drama da pandemia, diante de tantas certezas que desmoronaram, diante de tantas expectativas traídas, no senso de abandono que nos aperta o coração, Jesus diz a cada um: ‘Coragem, abra o seu coração ao meu amor. Você sentirá a consolação de Deus que o sustenta’. O drama que estamos atravessando neste tempo nos impulsiona a levar a sério aquilo que é sério, a não nos perdermos em coisas de pouca importância; a redescobrir que a vida não serve se não se serve. Porque a vida é medida pelo amor”. (Mensagem do papa no Domingo de Ramos: “Não tenham medo. Vocês não estão sozinhos”)
Jesus nos convida uma vez mais a escutar novamente suas palavras e não deixar que o medo condicione nosso agir, mas, pelo contrário, colocar nossa confiança nele que está no meio de nós!
Como remarcou Francisco: “Sintam-se chamados a colocar as suas vidas em jogo. Não tenham medo de gastá-la por Deus e pelos outros”.
Que importa, que ao chegar
eu nem pareça pássaro!
Que importa se ao chegar
venha me rebentando
caindo aos pedaços,
sem aprumo
e sem beleza!...
Fundamental
é cumprir a missão
e cumpri-la
até o fim!...
Dom Helder Camara
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O que está oculto será conhecido - Instituto Humanitas Unisinos - IHU