28 Fevereiro 2020
Naquele tempo, Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Demônio. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: "Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães". Jesus respondeu-Lhe: "Está escrito: 'Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus'".
Então o Demônio conduziu-O à cidade santa, levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe: "Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: 'Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra'". Respondeu-lhe Jesus: "Também está escrito: 'Não tentarás o Senhor teu Deus'".
De novo o Demônio O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-Lhe: "Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares". Respondeu-lhe Jesus: "Vai-te, Satanás, porque está escrito: 'Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto'". Então o Demônio deixou-O e logo os Anjos se aproximaram e serviram Jesus.
Leitura do Evangelho de Mateus capítulo 4,1-11. (Correspondente ao 1º Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico.)
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Na Quarta-feira de Cinzas iniciamos um tempo novo do Ano Litúrgico que está dentro do ciclo pascal, o tempo de Quaresma. Este é o tempo de preparação para a Páscoa, a grande festa da fé cristã.
Neste tempo de Quaresma o povo de Deus é convidado a iniciar junto com Jesus a passagem pelo deserto, de maneira semelhante à do antigo povo de Israel que partiu durante quarenta anos pelo deserto para ingressar na terra prometida. A diferença substancial é que a terra prometida que nos é dada de presente é o coração de Deus Pai e Mãe, ao qual a humanidade toda tem acesso por Jesus Cristo.
A Campanha da Fraternidade “é um modo privilegiado pelo qual a Igreja no Brasil vivencia a Quaresma. Há mais de cinco décadas, ela anuncia a importância de não separar a conversão do serviço aos irmãos e irmãs, à sociedade e ao planeta, nossa Casa Comum”.
Dom Leonardo Ulrich Steiner, partindo do texto evangélico que inspira a Campanha da Fraternidade em 2020, destacava que “um samaritano cuida de alguém que não era do seu povo, que era inimigo, ele viu que alguém estava ferido à beira da morte”. Segundo ele, “esta Campanha da Fraternidade vai nos ajudar a percebermos como é grande viver, mas como é grande viver cuidando dos outros” e “só nos realizaremos se percebermos realmente o sentido da vida, sua plenitude, quando nós sairmos de nós mesmos”.
São dias de conversão pessoal e comunitária, para abraçar mais plenamente o projeto de Jesus. Neste contexto, a Campanha da Fraternidade, lançada a cada Quaresma desde 1964, aponta cada ano para um aspecto da vida pessoal e social que merece maior atenção.
O tema da Campanha da Fraternidade 2020 é: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”, e o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” inspirado no relato do bom samaritano (Lc 10,33-34).
A Campanha nos convida “a olhar de modo mais atento e detalhado para a vida” (Texto-Base). Ora, “olhando transversalmente as diversas realidades”, a Campanha “nos interpela a respeito do sentido que estamos atribuindo à vida em suas diferentes dimensões: pessoal, comunitária, social e ecológica”. Que no tempo da Quaresma “possamos nos dispor a uma profunda conversão da cultura da morte para a cultura da vida” (Ib. 25). O objetivo geral da CF 2020 é: “Conscientizar, à luz da Palavra de Deus, para o sentido da vida como Dom e Compromisso, que se traduz em relações de mútuo cuidado entre as pessoas, na família, na comunidade, na sociedade e no planeta, nossa Casa Comum”.
O Evangelho de hoje apresenta-nos Jesus na sua passagem pelo deserto, onde ele foi tentado pelo Diabo. Nós não estamos isentos de sofrer tentações. Qual é a raiz das tentações que sofre Jesus? A resposta podemos descobrir nas propostas que o tentador faz a Jesus.
Cada uma delas busca desviar Jesus de sua missão neste mundo, que é fazer a vontade do Pai, levar adiante o seu Projeto. Por isso Jesus vence as tentações voltando-se para o Pai, buscando força e refúgio na sua Palavra. Como bom judeu, conhecedor da Torá, Ele responde fazendo uso de textos do Deuteronômio: "Não só de pão vive o homem"; "Você adorará o Senhor seu Deus, e somente a ele servirá"; "Não tente o Senhor seu Deus".
Nos textos da Palavra de Deus, na sua mensagem, nas atitudes de Jesus e das primeiras comunidades cristãs convertem-se em nossa inspiração para tornar possível o compromisso e cuidado das pessoas que estão ao nosso redor. Estabelecer relações de mútuo cuidado, compaixão, ternura, e fomentar assim uma cultura do encontro. “Jesus tem um olhar que vê e permanece, que se envolve, que se compromete. Por isso, o olhar dos discípulos missionários deve ser aquele que leva a se deixar afligir pelas situações que contrariam o plano de Deus e atentam contra a vida em suas múltiplas formas”.
Nesta Quaresma somos chamados a levar a sério nossa irmandade num país onde a desigualdade social é uma realidade muito presente. Como disse Dom Leonardo Steiner: “Essas desigualdades sociais se situam como raiz de muitos males que desumanizam e desfiguram a dignidade do homem e da mulher. Frente ao olhar de Jesus, é comum um olhar que destrói a natureza, um olhar da indiferença, que exclui a vida. Mas também está presente o olhar da solidariedade social, são muitas as histórias de pessoas que se comprometem com a vida. A Campanha da Fraternidade tem que nos levar a nos perguntarmos qual é o nosso olhar, a assumir a compaixão de Jesus, que nos leve a romper com a indiferença, a assumir um olhar que se compromete com o outro, a viver uma compaixão que faz ter mais coração nas mãos e mais justiça no coração.”
Como disse Dom José de Albuquerque, “A Campanha da Fraternidade é uma oportunidade que o Senhor nos dá para vencermos a indiferença, para podermos sentir a dor do outro”. Neste tempo de Quaresma estamos diante de uma “oportunidade de gerar experiências de solidariedade e inclusão, vivendo atitudes que possibilitem acolher, proteger, promover e integrar”.
O sentido que buscas
chega sozinho a ti
ao transformar uma ferida
em uma janela,
ao construir uma ponte
com as pedras de um muro,
ao recolher uma angústia
e convertê-la em palavra,
ao encontrar vivos em outros
teus dias perdidos,
ao olhar a pobreza
e contemplar profecia.
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear as coisas internamente
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Um olhar de solidariedade social - Instituto Humanitas Unisinos - IHU