27 Fevereiro 2020
Na Igreja do Brasil, a quaresma está marcada desde o início da década de 1960 pela Campanha da Fraternidade. Já são 56 anos em que a Igreja do Brasil é convidada a refletir sobre temas concretos que ajudam a Igreja e a sociedade a aprofundar em questões que ajudam no crescimento pessoal e de fé. Em 2020, o tema a ser refletido é: “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”, e o lema “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”, inspirado no relato do bom samaritano.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
A Campanha da Fraternidade em 2020, quer ser momento para refletir, para se perguntar o que vem ocorrendo com a humanidade, que, ainda percebendo o aumento dos números dos sofrimentos, parece não mais sensibilizar-se com eles? Tentar encontrar as causas para responder a por que vemos crescer tantas formas de violência, agressividade e destruição?
Lançamento da Campanha da Fraternidade | Foto: Luis Miguel Modino
Em Manaus, já se tornou uma tradição o lançamento da Campanha da Fraternidade, cada ano num local diferente da cidade, num ambiente que ajude a enxergar realidades concretas abordadas no tema. A Praça dos Remédios é um dos locais onde tem maior concentração de moradores de rua, que infelizmente tem se tornado parte da praça, não provocam uma reação de compaixão nos muitos transeuntes que cada dia passam num dos locais onde o comercio se concentra.
Diante dessa realidade somos desafiados a vencer a globalização da indiferença, assumindo as atitudes do bom samaritano, a sermos mais humanos. Essa ideia estava presente nas palavras de Dom Tadeu Canavarros, bispo auxiliar de Manaus, que falava diante dos presentes, chegados de muitas das paróquias e áreas missionárias da arquidiocese, mas também representantes dos poderes públicos. Ele afirmava que “a Campanha da Fraternidade, sempre nos traz conversão e solidariedade em situações bem concretas de nossa realidade, marcada pelo individualismo, pela tirania do dinheiro, pelo capitalismo selvagem e pela globalização da indiferença”. Diante disso, a Quaresma nos lembra que “a conversão não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social”, segundo o bispo auxiliar.
Lançamento da Campanha da Fraternidade | Foto: Luis Miguel Modino
O tema da Campanha da Fraternidade enfatiza que a vida é dom e compromisso, que reclama a necessidade de ver, solidarizar-se e cuidar, de ser uma Igreja samaritana, um elemento que a Igreja da Amazônia tem refletido em ocasião do Sínodo, que faz um chamado a ter essa atitude de cuidado com a natureza e com as pessoas, com os pobres, pois o grito da Terra e o grito dos pobres é o mesmo.
Esse cuidado da vida que a natureza encerra é um elemento que deve estar na vida do cristão, segundo Dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus. Se referindo àqueles que vivem nas ruas das nossas cidades, eles se perguntava qual é o sentido da vida desses nossos irmãos? O desafio que a Campanha da Fraternidade está colocando na nossa frente é “abraçar a nossa vida como um grande dom, apreciar o dom da nossa vida”, segundo o arcebispo, que enfatizava a necessidade do “compromisso para amar o outro, servir o outro, cuidar do outro”.
Numa sociedade onde a desconfiança para com o outro está cada vez mais presente, Dom Leonardo, partindo do texto evangélico que inspira a Campanha da Fraternidade em 2020, destacava que “um samaritano cuida de alguém que não era do seu povo, que era inimigo, ele viu que alguém estava ferido à beira da morte”. Junto com isso, ele enfatizava a necessidade de “estar ao lado de quem tem perdido o sentido da vida, de quem perdeu o horizonte”. Segundo ele, “esta Campanha da Fraternidade vai nos ajudar a percebermos como é grande viver, mas como é grande viver cuidando dos outros”. É por isso, que o arcebispo de Manaus fazia um chamado a descobrir que “só nos realizaremos se percebermos realmente o sentido da vida, sua plenitude, quando nós sairmos de nós mesmos”.
Lançamento da Campanha da Fraternidade | Foto: Luis Miguel Modino
No Evangelho a gente descobre como fazer realidade a revolução do cuidado, do zelo, da preocupação mutua, a estabelecer relações de mútuo cuidado, compaixão, ternura, a fomentar a cultura do encontro. A inspiração para isso a encontramos no olhar de Jesus, Ele tem um olhar que vê e permanece, que se envolve, que se compromete. Por isso, o olhar dos discípulos missionários deve ser aqueles que leva a se deixar afligir pelas situações que contrariam o plano de Deus e atentam contra a vida em sua múltiplas formas. Um exemplo dessa atitude a encontramos em Santa Dulce dos Pobres, referência da Campanha da Fraternidade de 2020, canonizada pelo Papa Francisco em 13 de outubro de 2019.
No Brasil, a desigualdade social é uma realidade muito presente, com múltiplas situações de vida abandonada. Essas desigualdades sociais se situam como raiz de muitos males que desumanizam e desfiguram a dignidade do homem e da mulher. Frente ao olhar de Jesus, é comum um olhar que destrói a natureza, um olhar da indiferença, que exclui a vida. Mas também está presente o olhar da solidariedade social, são muitas as histórias de pessoas que se comprometem com a vida. A Campanha da Fraternidade tem que nos levar a nos perguntarmos qual é o nosso olhar, a assumir a compaixão de Jesus, que nos leve a romper com a indiferença, a assumir um olhar que se compromete com o outro, a viver uma compaixão que faz ter mais coração na mãos e mais justiça no coração.
A Campanha da Fraternidade é “uma oportunidade que o Senhor nos da para vencermos a indiferença, para podermos sentir a dor do outro”, segundo Dom José de Albuquerque, bispo auxiliar de Manaus. Ele destacava que “ao longo da quaresma todos nós somos chamados a realizarmos gestos concretos, a sermos solidários”. A Igreja do Brasil está diante de uma oportunidade de gerar experiências de solidariedade e inclusão, vivendo atitudes que possibilitem acolher, proteger, promover e integrar.
Banner da Campanha da Fraternidade 2020 (Ilustração: CNBB)
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“A Campanha da Fraternidade vai nos ajudar a perceber como é grande viver, mas como é grande viver cuidando dos outros”, afirma Dom Leonardo Steiner na abertura da CF - Instituto Humanitas Unisinos - IHU