19 Julho 2019
Enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou escutando a sua palavra. Marta estava ocupada com muitos afazeres. Aproximou-se e falou:
“Senhor, não te importa que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!” O Senhor, porém, respondeu: “Marta, Marta!” “Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada”.
Leitura do Evangelho de Lucas 10, 38-42 (Correspondente ao 16º Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Neste domingo continuamos a leitura do evangelho de Lucas. Jesus prossegue seu caminho a Jerusalém com seus discípulos e discípulas. Lembre-se que no domingo passado Jesus segue instruindo as pessoas que estão ao seu redor sobre a mensagem do Reino. Nesse momento meditamos sobre a explicação que oferece Jesus a um especialista nas leis sobre quem é o próximo. Jesus nos apresenta como próximo não somente as pessoas do próprio grupo familiar, mas toda pessoa que encontramos no caminho da vida, fundamentalmente as mais necessitadas.
Antes de voltar ao nosso texto, lembremos que Lucas escreve para uma comunidade de pessoas que na maioria não eram judeus. Possivelmente estas pessoas achavam muito difícil o cumprimento de todas as interpretações da Torá e era quase impossível levar adiante todas essas normas. Desta forma Lucas procura no seu evangelho apresentar Jesus e sua mensagem de uma forma simples, que seja possível para todos os que desejam segui-lo e ser seus discípulos e discípulas.
Neste momento Jesus entra num povoado e há duas mulheres, Marta e Maria, que o recebem na sua casa. Nelas visualiza duas atitudes diferentes, mas complementares. Durante muito tempo na Igreja simplificou o texto explicando-o como dois estilos de vida: a vida contemplativa e a vida ativa. Marta representava a vida ativa e Maria a contemplativa, ou a ação e a oração respectivamente.
Marta preocupa-se em acolher da melhor forma possível a pessoa que escolheu sua casa para levar adiante a lei da Hospitalidade, mas Maria “ficou escutando a sua palavra”. A hospitalidade é, sem dúvida, uma característica muito desenvolvida na cultura oriental. O livro do Gênesis, por exemplo, nos relata a hospitalidade generosa que oferecem Abraão e Sara aos três peregrinos perto do carvalho de Mamré (18,1-10). Hospitalidade que é recompensada com o cumprimento da promessa de um filho na velhice.
Pode-se observar o carinho que Jesus tem por Marta e Maria, sente-se à vontade na sua companhia. Não há diferença para Jesus entre Marta e Maria, as duas são suas amigas, suas discípulas. O que é diferente é a atitude que as irmãs têm em referência a Jesus. Marta acolhe a Jesus e como mulher de sua época se ocupa das coisas da casa, da comida, deixando o hóspede. Óbvio que o que faz é para ele, mas não está com ele. Enquanto Maria, transgredindo os prejuízos culturais, em lugar de estar atarefada nos ofícios domésticos, assume uma atitude própria do discípulo desse tempo ao colocar-se aos pés do Mestre para escutar sua Palavra, Marta reconhece em seu hóspede o Senhor, e assim o chama.
Jesus conhece o bom coração de Marta e seu sincero desejo de servi-lo, mas também vê que ela está preocupada demais nas suas ocupações, correndo de um lado para outro da casa, nem sempre com alegria.
Por isso é que a chama: “Marta, Marta...”. Não é um detalhe Lucas colocar o nome de Marta na boca de Jesus. Dessa maneira, ele está fazendo alusão ao estilo que no Primeiro Testamento se usava para narrar o chamado de Deus. Por exemplo, quando Deus aparece em sonhos a Samuel, o faz repetindo seu nome: “Samuel, Samuel...” (1Sm 3, 4). Ou seja, longe de “xingar” Marta, o que Jesus faz é convidá-la a segui-lo, a crescer como discípula dele.
E para isso é necessário que ela tenha a coragem de abandonar sua posição atual de mulher servente e passar a ser uma mulher livre de prejuízos e preconceitos, assumindo, assim, também ela sua dignidade de discípula de Jesus. Cabe perguntar-nos: de onde tira força Maria para protagonizar esta mudança cultural e religiosa, e assim, sem mais, se colocar aos pés de Jesus?
Jesus disse a Marta: “Maria escolheu a melhor parte”, escolheu estar com ele, colocar Jesus no centro de sua vida. Mas para poder fazer isso, antes esta mulher conheceu profundamente o amor de Jesus por ela.
Esse amor lhe deu forças para deixar de lado tudo aquilo que não a ajudasse a crescer na amizade com Jesus. Por isso vemo-la aos pés do Mestre, acolhendo ternamente seu olhar, seguindo com seus olhos os gestos de Jesus, escutando e guardando cada uma de suas palavras.
Aí está o segredo do/a discípulo/a de Jesus, cativados/as por Ele. Buscamos acolhê-lo para conhecê-lo e viver como ele viveu! Qual é nossa resposta, ou atitude diante da presença e convite de Jesus? Neste domingo, assim como em cada dia, temos a oportunidade de crescer como discípulo/a, acolhendo plenamente a palavra de Jesus e assim colocá-la em prática.
Peçamos ao Senhor que seu amor nos leve a escolhê-lo como a “melhor parte” de nossa vida.
Tão só melhor
que a melhor parte
que escolheu Maria
o difícil Todo.
Acolher o Verbo,
dando-se ao serviço.
Vigiar sua Ausência,
gritando seu nome.
Descobrir seu rosto
em todos os rostos.
Fazer do silêncio
a maior escuta.
Traduzir em atos
as Sagradas Letras.
Combater amando.
Morrer pela vida,
lutando na paz.
Derrubar os troncos
com as velhas armas
quebradas de ira,
revestidas de flores.
Cantar para o mundo
o Advento
que o mundo reclama
quiçá sem sabê-lo.
O difícil Todo
que soube escolher
a outra Maria...
Dom Pedro Casaldáliga.
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