14 Dezembro 2018
Os padres italianos disseram que queriam "abrir as portas de todas as paróquias" para migrantes expulsos dos centros de acolhimento, num momento em que a lei sobre a imigração introduzida pelo governo de direita ameaça criar milhares de sem-teto.
Em 28 de novembro, o parlamento italiano aprovou o chamado decreto Salvini, que prevê o cancelamento de proteção humanitária para aqueles que não têm direito a asilo, mas não podem retornar ao seu país. Logo após, vários municípios aplicaram a regra, empurrando centenas de pessoas para um limbo. A Igreja Católica expressou sua profunda desaprovação. "Do nosso lado o discurso é muito claro. Antes de tudo, um profundo senso de solidariedade deve prevalecer. As pessoas não podem ser colocadas nessas situações. No centro deve haver sempre a pessoa humana e a sua dignidade", declarou Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano. De acordo com o Ministério do Interior italiano, entre 2016 e 2017 a Itália concedeu proteção humanitária para 39.145 requerentes de asilo, que de acordo com o decreto Salvini correm o risco de encontrar-se sem abrigo nas próximas semanas.
A reportagem é de Lorenzo Tondo, publicada por Internazionale, 14-12-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
No início de dezembro, o ministério enviou uma carta ao centro de acolhimento de Mineo, na Sicília, anunciando a expulsão de cinquenta pessoas.
O bispo de Caltagirone, Calogero Peri, ofereceu quarenta leitos em um imóvel de propriedade da igreja para acomodar aqueles que correm o risco de serem expulsos. "E se os leitos não forem suficientes? Já falei com os outros bispos: abriremos as portas das igrejas, de todas as paróquias em nosso território" afirma Peri: "Isso não é uma questão de política. Isso é sobre estar do lado dos seres humanos. Vocês sabem que na Itália, neste momento, é um crime abandonar cães na rua, enquanto não é abandonar as pessoas? Aliás, abandonar homens, mulheres e crianças é exigido por uma lei".
Que a Igreja Católica seria forçada a aceitar um número cada vez maior de migrantes, era esperado desde agosto, quando Salvini impediu o desembarque na Itália de 177 migrantes que estavam a bordo do navio Ubaldo Diciotti, da Guarda Costeira italiana.
No final, foi a igreja que resolveu a crise, prometendo assistência a cem migrantes.
Quando a polícia se apresentou em um centro de acolhimento na província de Crotone para despejar uma família nigeriana com um bebê de seis meses, o padre Rino Le Pera, diretor regional da Caritas, levou a família para uma nova casa.
"Eu não podia acreditar nos meus olhos", diz ele. "Eles iam colocar uma menina de seis meses na rua. Seis meses! Vocês entendem? Quando me contaram, saí correndo e encontrei um lugar para eles. Mas eu teria também disponibilizado minha casa para acomodar aquela família ". Os 24 requerentes de asilo da Isola Capo Rizzuto foram os primeiros migrantes expulsos após a aprovação do decreto.
"Estamos prontos para o pior e preparamos quartos e camas geridos pela Diocese de Crotone para quando as autoridades despejarem outros migrantes dos centros de acolhimento", explica Le Pera.
De acordo com os dados da Conferência Episcopal Italiana (CEI), publicados pelo jornal católico Avvenire, em 2017, a igreja já recebeu 25 mil migrantes em suas instalações, graças também aos fundos europeus para os refugiados encaminhados para o Ministério do Interior. Por outro lado, 2.700 requerentes de asilo foram ajudados com fundos oriundos do Vaticano. Em Palermo o padre salesiano Enzo Volpe passou sete anos nas ruas da capital siciliana orando com as prostitutas nigerianas, como Blessing, uma jovem expulsa do centro de acolhimento da Isola Capo Rizzuto. "Deixar no meio da rua essas garotas que são vítimas de exploração sexual é um gesto desumano", afirma ele. "Sem proteção, elas se tornam presas das máfias italianas".
Em Vicofaro, na província de Pistoia, o pároco Massimo Biancalani há muito recebe os migrantes na igreja de Santa Maria Maior, onde oferece leitos e sacos de dormir para dezenas de pessoas que passam a noite no edifício.
Biancalani atraiu a ira de Salvini, mas o papa enviou uma carta de solidariedade ao padre.
"Continue a receber os migrantes, eu estou com você".
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Itália. A Igreja se revolta contra o decreto dos migrantes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU