21 Agosto 2018
Nas últimas décadas, fomos envolvidos em uma aceleração da inovação – principalmente tecnológica - que mudou nosso estilo de vida e nos fornece ferramentas e meios até agora quase inimaginável. Aconteceu na mobilidade, na saúde, na comunicação e na produção. Quase não há nenhum setor que não tenha sido transformado pela busca de uma vida mais saudável e mais segura, mais confortável e mais cômoda, mais bonita e mais interessante. Nesse desenvolvimento tornou-se novamente evidente, como em muitas outras passagens históricas, que a inventividade do homem e sua capacidade produtiva encontram seu verdadeiro motor nas suas perguntas, em suas exigências e nos seus desejos.
O artigo é de Bernhard Scholz, publicado por Il sole 24 Ore, 18-08-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
"The persuit of happiness", a busca da felicidade, como declara a Constituição dos Estados Unidos, é, sem dúvida, um fator fundamental e decisivo para os diversos processos inovadores e o consequente crescimento econômico. Mas, entre todas as questões que se colocam diante de tal afirmação, existem duas que são particularmente intrigantes: podemos ter certeza de que a busca pela felicidade que se focou na inovação realmente levou a uma maior felicidade? E por que essa busca pela felicidade - comum a todos os homens - não levou o mesmo desenvolvimento a todos os lugares criando, às vezes novas pobrezas e, sempre, desigualdade?
O título do Meeting de Rimini deste ano apresenta-se no horizonte dessas questões como uma verdadeiro e própria provocação: "As forças que movem a história são as mesmas que tornam o homem feliz".
Se uma das principais forças que movem a história é a busca pela felicidade, a história da humanidade ensina-nos que essa busca se expressou, primeiro, como religiosidade, como crescente consciência de que a realização da vida não pode ser alcançada através das capacidades humanas. Para sermos totalmente felizes, precisamos de um fator que não se resume ao humano, mas que possa ser experimentado pela própria humanidade. Assim, as várias formas de religiosidade moldaram profundamente a vida cotidiana e cultural abrindo ou fechando também determinadas possibilidades e ambições científicas e econômicas.
Na verdade, não existe uma economia "neutra" que não dependa de bases culturais específicas; não existe nenhuma inovação devida a alguma dinâmica automática. Tudo depende de uma ideia de felicidade que vem antes, como afirma, em relação à história do Ocidente, o fascinante livro de Rodney Stark, A vitória da razão - Como o cristianismo gerou liberdade, progresso e riqueza. O fato que a tradição judaico-cristã tenha concebido o mundo como uma criação confiada ao homem, abriu às suas perguntas, exigências e desejos o espaço para investigar e transformar os dons da natureza, incentivando o empreendedorismo e a criatividade pessoal e social. O desenvolvimento técnico, científico e econômico que surgiu disso - não desprovido de muitas contradições e aspectos críticos - assumiu ao longo dos séculos uma relevância global, tornando-se o pressuposto de uma determinada ideia de progresso humano. Tal ideia, no entanto, gradualmente descolou-se de suas origens religiosas, adquirindo por si própria uma espécie de valência religiosa: o homem que se salva exclusivamente graças às suas habilidades técnicas e científicas.
Assim, hoje, nos encontramos em um momento que, com razão, Ulrich Beck definiu como "a metamorfose" do mundo, em que as aporias dos tantos riscos e desequilíbrios que criamos com as nossas forças prometeicas emergem com crescente clareza, entregando-nos um cenário marcado por profundas incógnitas e radicais descontinuidades não só políticas, mas também e, sobretudo, culturais e econômicas.
A mesma confiança em um progresso que traga "automaticamente" o homem para a felicidade é agora reconhecida pela maioria como sendo irracional. Como vice-versa, não poucos cientistas encontraram justamente em seus estudos indícios que nos convidam a ir além da pura razão científica.
E é por isso que se impõe a todos nós a pergunta: qual é a felicidade que estamos procurando e como, a partir dessa busca, podemos chegar a sistemas econômicos, tecnologias e relações sociais que correspondam às nossas exigências mais autênticas? Que forças, movendo a história, fazem o homem feliz? E como pode a religião acompanhar com uma autenticidade cada vez maior o difícil enfrentamento das questões que derivam da ciência e do desenvolvimento tecnológico?
Então, os temas que serão propostos no Meeting de Rimini sobre o futuro da organização do trabalho e do cuidado com a saúde, da comunicação e da mobilidade, da ecologia e da distribuição mais justa da produção, adquirem o peso certo: se desses fatores nós esperávamos a felicidade, ficaríamos inevitavelmente desapontados. Se, por outro lado, procurarmos uma felicidade que reconheça a esses fatores a sua verdadeira dignidade, seremos cada vez mais felizes em procurar torná-los os mais humanos possíveis. As inovações não nos tornam felizes por si só, mas se forem úteis para todos, nos ajudam a descobrir e compartilhar os tantos bens que a busca pela felicidade nos oferece. E nos tornar cada vez mais gratos pelos talentos recebidos.
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Na busca da felicidade, o verdadeiro motor da inovação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU