Por: Ricardo Machado | 23 Março 2018
A dobra do mundo em sua versão 4.0 deixa no passado a estabilidade de quaisquer certezas. Ainda que isso não seja sinônimo de novidade iluminada, afinal há um tanto de teoria, muitas vezes chamada de pós-estruturalista, que há décadas inscreve um enorme ponto de interrogação nas verdades estabelecidas, na quarta revolução industrial isso aparece com ainda mais força. “A revolução 4.0 é uma transformação na forma de se relacionar, não simplesmente na forma de produção. Há uma nova cultura baseada no compartilhamento, possibilitadas pelos hiperlinks e que agora estão gerando um novo tipo de pensamento”, pontua Fábio do Prado, professor e reitor do Centro Universitário FEI.
Para o professor, “a grande característica das sociedades do futuro é que seremos eternos aprendizes. As novas tecnologias exigem atualizações constantes. O ciclo da obsolescência será ainda maior”. O debate em que trouxe a revolução 4.0 para o centro da discussão foi realizado na noite da quarta-feira, 21-3-2018, com a conferência A formação profissional no contexto da revolução 4.0, dentro do 2º Ciclo de estudos Revolução 4.0. Impactos aos modos de produzir e viver.
Fábio do Prado na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU (Fotos: Ricardo Machado/IHU)
O futuro 4.0 tem, além de suas exigências por novas competências, contradições que produzem paradoxismo, sobretudo por suas incertezas. É disso que vem as dicotomias quando levamos em conta que sequer as promessas da Terceira Revolução Industrial foram cumpridas e já estamos diante de novas e mais ousadas apostas. “Ainda estamos na revolução 2.5, mas sou otimista e temos que começar as transformações. Não podemos ficar parados no nosso contexto. É preciso gerar condições de criação de um ecossistema capaz de reverter o quadro apresentado. Não é um mar de rosas, de fato, mas temos que começar a mudar nossa forma de atuar nas universidades para produzir profissionais que vão gerar tecnologias capazes de nos tirar dessa situação”, pontua.
Outro imperativo do mundo 4.0 é a necessidade de desenvolver uma abordagem complexa em todos aqueles que pretendem integrar o mundo do trabalho. “Os trabalhadores mais qualificados terão mais facilidade de se adaptarem ao novo mundo. O grande problema fica para as funções menos qualificadas porque haverá um achatamento salarial devido à questão da competitividade”, destaca.
Nesse sentido, o professor aponta que devem surgir políticas públicas para sustentar as pessoas desempregadas, sobretudo no Brasil, onde esse problema é enorme, mas isso sequer faz parte da agenda pública. Outro aspecto de relevo, é que a revolução 4.0 pode afetar negativamente nossas habilidades sociais e capacidades de empatia, o que dificulta a produção de complexidade. “Estamos perdendo o poder da contemplação, da pausa, da admiração. E justamente o que estamos perdendo com a tecnologia é o que mais nos será exigido como diferencial de mercado como profissionais”, frisa.
De acordo com Fábio do Prado, a tendência é que a educação e a formação dos novos profissionais sejam, cada vez mais, personalizadas. “As escolas deverão se transformar em centros de desenvolvimento de convivência para favorecer trabalhos de co-working. O grande segredo é formar aprendizes ao longo de toda uma vida e tornar a educação e a formação continuada acessível a todos”, projeta.
Dentre as habilidades que serão essenciais para o futuro breve estão os conhecimentos básicos nos campos da ciência, tecnologia, engenharia e matemática, além de criatividade, pensamento crítico e sistêmico. “A nova ciência vem descaracterizar a influência das crenças do individualismo com coadaptação e coprodução. As organizações e seus líderes devem fazer aquilo que os sistemas vivos fazem com tanta habilidade”, propõe.
Há, porém, uma certa contradição entre conteúdo e forma. Isso porque, segundo Prado, as perguntas que moverão o mundo não deverão ser feitas pelos professores, mas pelos alunos. “Se os professores se sentem mais confortáveis com perguntas, o aprendizado se torna uma aventura mais interessante”, sustenta. A dificuldade no processo é romper com a bolha social e digital em que muitos jovens fazem parte. “Não há outra forma senão de provocar os alunos a se afastarem da rotina e começar a olhar para o futuro. Como eu posso dentro da carreira produzir transformações por meio de projetos multidisciplinares? É preciso trabalhar individualmente e em conjunto. A palavra de ordem a é autonomia”, assevera.
Ao finalizar a conferência, o professor lembrou que, mesmo diante de todos os avanços tecnológicos de automação industrial e inteligência artificial, “o futuro que queremos ainda tem o talento da vida humana como o grande protagonista das transformações”. “Cometer erros diferentes é sinal de que estamos aprendendo coisas novas. O aluno tem que ser protagonista e inovar o tempo todo, estender os horizontes e tentar estimular o que ele pode transformar como profissional. Ao professor cabe fazer esse trabalho de forma cada vez mais sistêmica, com aulas fascinantes e inspiradoras e os alunos se sentindo parte desse processo e responsáveis pela transformação como pessoa”, complementa.
Fabio do Prado
Fábio do Prado é bacharel e licenciado em Física pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestre em Ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA e doutor em Geofísica Espacial pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe. É membro da Sociedade Brasileira de Física - SBF e da Associação Brasileira de Ensino de Engenharia – Abenge. Atualmente é reitor do Centro Universitário FEI, vice-presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras – Crub, coordenador suplente do Fórum das Instituições de Educação Superior Confiadas à Companhia de Jesus no Brasil – Fories e segundo vice-presidente da Associação das Universidade confiadas à Companhia de Jesus na América Latina – Ausjal.
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