02 Setembro 2016
Fala o bispo de Estocolmo, que descreve a pequena comunidade católica em uma realidade de maioria protestante, fortemente marcada pela secularização. Bergoglio abrirá, no dia 31 de outubro, o denso calendário para recordar o 500º aniversário da Reforma, encontro promovido pela Federação Luterana Mundial e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.
A reportagem é de Sarah Numico, publicada no sítio do Servizio di Informazione Religiosa (SIR), 31-08-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
No próximo dia 31 de outubro, o Papa Francisco estará em Lund, na Suécia, para uma comemoração que vai marcar o início do denso calendário que, em escala mundial, foi preparado para recordar o 500º aniversário da Reforma. O evento sueco foi desejado pela Federação Luterana Mundial (FLM) e pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos para "destacar os 50 anos de constante diálogo ecumênico entre os católicos e os luteranos e os dons dessa colaboração", explica uma nota conjunta da FLM e do Pontifício Conselho.
Serão dois os momentos da comemoração: na histórica catedral da cidade, onde, em 1947, foi fundada a FLM, será realizada uma celebração baseada no guia litúrgico "Oração Comum", que se inspira no documento de 2013 "Do conflito à comunhão", em que, pela primeira vez, católicos e luteranos releram juntos os 500 anos da Reforma.
Um segundo momento, pensado para os jovens, será em Malmö: três horas em que serão apresentadas "atividades que se concentram no compromisso com o testemunho comum e o serviço ao mundo de católicos e luteranos". Na manhã do dia 1º de novembro, o Papa Francisco celebrará uma missa para os católicos suecos.
O bispo de Estocolmo, Dom Anders Arborelius, carmelita descalço, aborda com o SIR as características da sua comunidade.
Pode nos fazer um retrato da Igreja Católica na Suécia, os seus pontos fortes e as suas dificuldades?
A Igreja Católica na Suécia é uma pequena minoria, da qual participa cerca de 1,5% da população total, ou seja, 115 mil registrados (no país, vivem muitos mais, mas não estão registrados oficialmente). A maioria dos católicos são imigrantes ou descendentes de imigrantes, divididos em quatro grandes grupos: poloneses, croatas, latino-americanos e médio-orientais. De católicos autóctones, há poucos, mas, todos os anos, há conversões, em sua maioria de pessoas de cultura médio-alta. A Igreja aqui, portanto, é verdadeiramente universal e multicultural, e, no entanto, há um sentido de unidade, embora possa ser difícil unir os grupos. Muitos preferem ter a missa nas suas línguas ou ritos. Por outro lado, graças à imigração, a Igreja cresce, e fazem-se necessários mais templos. Recentemente, conseguimos adquirir igrejas protestantes, e usamos regularmente uma centena delas, convidados pelos protestantes, em lugares onde não as temos. Contamos ainda com um certo número de mosteiros contemplativos: é uma característica da nossa situação que haja essa abertura à espiritualidade.
O que o senhor pode dizer sobre a cooperação ecumênica e inter-religiosa? A atividade do Conselho de Igrejas parece muito intensa...
Na Suécia, vivemos uma relação muito harmoniosa entre as Igrejas em nível humano e pessoal. Naturalmente, existem dificuldades no plano dogmático e ético, mas há uma boa colaboração nos temas sociais. A parte mais fecunda do ecumenismo é a da espiritualidade. Além disso, o Conselho de Igrejas é muito unido no seu esforço em favor dos refugiados. O diálogo inter-religioso também é muito positivo, especialmente com os judeus.
Como descreveria a sociedade sueca? Quais são as maiores necessidades que o senhor percebe?
A Suécia é uma sociedade pós-protestante e secularizada, mas o é há tanto tempo que, agora, as pessoas estão ficando cada vez mais interessadas pelas questões ligadas à religião. O materialismo e o hedonismo são muito fortes, assim como a atitude individualista que gerou muita solidão e depressão.
Milhares de imigrantes chegaram no seu país: como está a situação? Há lugar, dinheiro, trabalho, assistência médica, escolas para todos? A Suécia está preparada para enfrentar a difícil tarefa da integração?
No ano passado, chegaram cerca de 160 mil pessoas à Suécia, e houve dificuldades para acolhê-las, mas também encontramos muito apoio por parte da sociedade civil. A Suécia é um país rico, e, pessoalmente, eu acho que temos a possibilidade de acolher a todos. Ao mesmo tempo, estão se difundindo rapidamente sentimentos anti-imigrantes.
Qual a atitude dos suecos em relação à próxima visita do papa?
As pessoas estão muito interessadas, há muita simpatia pelo papa como pessoa. A sua visita terá um significado ecumênico relevante.
Que expectativas o senhor tem para essa ocasião?
Espero sinceramente que a visita do papa possa reforçar a fé cristã de muitos na Suécia, seja a que Igreja pertençam. Ele vem para todos, não só para nós, católicos. Em todos os casos, ele poderá ajudar a nós, católicos, a crescer na unidade e a nos tornarmos mais conscientes da nossa tarefa de difundir o Evangelho com a palavra e com a ação.
Rumo à Suécia: católicos e luteranos entre memória e globalização
O Papa amplia para dois dias sua visita à Suécia para comemorar a Reforma Luterana
Papa irá à Suécia para o Jubileu da Reforma: reações protestantes
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"A Suécia está à espera de Francisco. A visita será um evento ecumênico." Entrevista com Dom Anders Arborelius, bispo de Escolmo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU