Por: MpvM | 30 Setembro 2022
"Ele (Deus) continua a se revelar e se fazer presente na história da humanidade por meio de todas as suas criaturas. No entanto, a nós que abraçamos a fé cristã, porque nos sentimos encontrados e identificados com a vida de Cristo, cabe a missão de realizar o que o sacramento do batismo significa, ou seja, buscar cotidianamente ser outro “Cristo” no mundo, conforme nos convida o Papa Francisco neste mês missionário. Ou seja, sermos os seus olhos para ver as injustiças e reconhecer as boas atitudes; sermos as suas mãos para amparar o caído e, se preciso for, para lavar o pé daquele que pode ser o inimigo; sermos os seus pés para irmos ao encontro das realidades esquecidas, mas também para celebrar a vida. Enfim, reconhecermos que somos servos por amor e para amar, impulsionados pela nossa fé para testemunhar que somos a Igreja de Cristo em missão no mundo."
A reflexão é de Mery Elizabeth de Sousa, fsp, Religiosa da Congregação Filhas de São Paulo. Ela é bacharel em teologia pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP - PE) 2018.Tem experiência em formação de lideranças, especialmente em formação bíblica.
1ª Leitura - Hab 1,2-3; 2,2-4
Salmo - Sl 94,1-2.6-7.8-9 (R. 8)
2ª Leitura - 2Tm 1,6-8.13-14
Evangelho - Lc 17,5-10
Acabamos de concluir um mês significativo para a Igreja do Brasil, o mês da Bíblia. Esta breve contextualização nos lança para o convite que a liturgia deste domingo nos faz. Então, convido você a recordar comigo alguns aspectos dos textos deste dia.
A primeira leitura (Hab 1,2-3; 2,2-4) é do livro do profeta Habacuc, escrito provavelmente num contexto de inquietude característica do período entre o fim do VII e início do VI século a.C. Uma das épocas mais críticas da experiência histórica de Israel. Neste contexto o profeta fala e questiona sobre a justiça e sobre o papel de Deus no mundo, apesar de estar seguro que YHWH é um Deus justo. Nota-se que a estrutura literária deste texto se dá em forma de diálogo, entre o profeta e o seu Deus. O profeta não está indiferente à realidade que o cerca e, por isso, parece que deseja chamar a atenção de Deus, talvez como uma forma de pedir ajuda para compreender os acontecimentos a sua volta. O profeta pede a Deus para que ele veja a iniquidade, a maldade, as destruições, a prepotência, as discussões e a discórdia. Deus também não está indiferente e, por isso, lhe responde falando de um prazo definitivo, de um desfecho que não falhará, deixando claro que “quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé”.
O refrão do Salmo (Sl 94,1-2.6-7.8-9) pode ser compreendido também como uma exortação: “Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus”. É bonito perceber neste Salmo algumas palavras que nos ajudam a formular uma imagem de Deus. Este Salmo diz que Deus é o “rochedo que nos salva”, “o Deus que nos criou”, “nosso pastor”. E, por fim, o salmista expressa um desejo: “Oxalá ouvísseis hoje a sua voz... não fecheis os corações como vossos pais, apesar de terem visto as minhas obras”.
Na segunda leitura (2Tm 1,6-8.13-14), encontramos Paulo dirigindo-se a Timóteo e à comunidade, exortando a reavivar o dom de Deus, e completa: “Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho”.
O Evangelho de hoje (Lc 17,5-10), segundo a comunidade de Lucas, começa com um pedido dos apóstolos ao Senhor: “Aumenta a nossa fé!”. Jesus dá atenção a este pedido e lhes responde dizendo: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: Arranca-te daqui e planta-te no mar,e ela vos obedeceria”. E, para tornar ainda mais abrangente o sentido do que estava dizendo, Jesus usa de uma breve parábola para questionar: quem de vós “vai agradecer ao empregado, porque fez o que lhe havia mandado?”.
O convite deste evangelho não é para que sejamos ingratos a ponto de não reconhecer algo que foi realizado, ainda que não tenha sido mais do que a obrigação de alguém, nem tampouco leva-nos a nos sentirmos indignos de qualquer tipo de reconhecimento. Porém, acredito que o convite está em desenvolvermos uma consciência madura do significado e da responsabilidade da nossa fé, porque está fundamentada numa experiência de encontro com uma pessoa, o Cristo, conforme nos fala o Documento de Aparecida. Um encontro que se realiza no concreto das nossas vidas e nos inquieta a uma mudança de comportamento. Aqui retomo a última frase da primeira leitura para dizer que não acredito num Deus que deseja matar, mas sim num Deus que deseja resgatar. Por isso, compreendo que, quando nos encontramos com este Deus que se revelou na pessoa de Jesus Cristo, consequentemente somos impulsionados a transformar nosso estilo de vida. Mudança para fazer morrer “aquilo que não é correto” e que vive dentro de cada um de nós, para então dar lugar ao que é justo. Ou seja, tornamo-nos aqueles que estão com o coração aberto para ouvir, hoje, a voz de Deus que nos fala, por meio da Palavra.
Mas, não só! Certamente, porque Deus está clamando por meio de inúmeras situações como aquelas ditas pelo profeta e por tantas outras situações que podem até nos desanimar, ou até mesmo nos levar a duvidar da presença de Deus. Porém, somos convidados a reavivar a chama do DOM da FÉ, conforme nos convida Paulo. Crendo no mistério da encarnação, vida, morte e ressurreição de Cristo, seremos capazes de reconhecer que “nada é impossível para Deus”, e que Ele continua a se revelar e se fazer presente na história da humanidade por meio de todas as suas criaturas. No entanto, a nós que abraçamos a fé cristã, porque nos sentimos encontrados e identificados com a vida de Cristo, cabe a missão de realizar o que o sacramento do batismo significa, ou seja, buscar cotidianamente ser outro “Cristo” no mundo, conforme nos convida o Papa Francisco neste mês missionário. Ou seja, sermos os seus olhos para ver as injustiças e reconhecer as boas atitudes; sermos as suas mãos para amparar o caído, e se preciso for, para lavar o pé daquele que pode ser o inimigo; sermos os seus pés para irmos ao encontro das realidades esquecidas, mas também para celebrar a vida. Enfim, reconhecermos que somos servos por amor e para amar, impulsionados pela nossa fé para testemunhar que somos a Igreja de Cristo em missão no mundo.
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