28 Setembro 2022
Vivemos numa sociedade com conotações cada vez mais articuladas, como num caleidoscópio espiritual, social, político, em que se agitam as relações entre os diferentes indivíduos e populações e as mudanças das formas sociais básicas. Aqui se insere a relação entre "consciência e humanidade", que será discutida em um dia de estudo promovido pela Academia de estudos luteranos em Itália - Asli e pela Faculdade Teológica do Triveneto - (21 a 22 de outubro de 2022).
Vivemos em uma sociedade com conotações cada vez mais articuladas, como num caleidoscópio espiritual, social, político, em que se agitam as relações entre os diferentes indivíduos e populações e as mudanças das formas sociais básicas.
Atuar como autênticos seres humanos hoje assume a forma de viver de forma ética e a questão da ação autenticamente moral, ou seja, realmente humanizadora, diz respeito a cada indivíduo, independentemente de seu patrimônio e identidade cultural.
A relação entre consciência e humanidade estará no centro do dia de estudo “Consciência e humanidade. Fundamentos teóricos, fontes antigas, reflexões modernas e contemporâneas" que acontecerá nos dias 21 e 22 de outubro de 2022 em Pádua e online, na sede da Faculdade Teológica do Triveneto, organizada pela própria Faculdade e pela Asli - Academia de estudos luteranos em Itália, em colaboração com a Absi-Associação Bíblica da Suíça Italiana, Ise-Instituto Ecumênico San Bernardino, Veneza, e Cátedra Rosmini da Faculdade Teológica de Lugano.
Aprofundamos o tema com Don Franco Buzzi, presidente da Asli.
A entrevista com Don Franco Buzzi, presidente da Asli, é de Paola Zampieri, publicada por Settimana News, 26-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Tudo está conectado. Portanto, tudo deve ser colocado dentro de um contexto de relações, que se movem em uma dimensão de complexidade. Conexão e complexidade não podem ser separadas.
A complexidade nos leva a aprofundar, não a simplificar. Hoje, porém, falamos por slogan, pensamos em modalidade binária (sim/não, amigos/inimigos).
"Concordo com você: justamente como acontece hoje - ressalta Buzzi - com aquele processo, por enquanto largamente irreversível, de aritmetização da matemática, que conduziu, entre outras coisas, a todos os desenvolvimentos da chamada inteligência artificial e às questões colocadas pelo humanismo digital".
Professor Franco Buzzi, por que levantar a questão da consciência neste momento?
Porque o ser humano não pode delegar a outros a orientação a ser impressa em sua vida. Num tempo em que se questiona a singularidade e a irrepetibilidade do indivíduo humano, é mais do que nunca oportuno redescobrir o tema da consciência.
O que é consciência?
É fundamentalmente autoconsciência sobre a possibilidade de dispor de si mesmo, de orientar a própria vida não segundo critérios ditados pelo exterior e vividos acriticamente como impostos por outros (pela sociedade como um todo), mas a partir de uma profunda convicção interior, da qual nos é impossível derrogar.
E em que relação a consciência se coloca com a humanidade?
Todo ser humano é um centro de perspectiva a partir do qual se olha o mundo em sua totalidade, para nele intervir, especialmente no tecido das relações humanas, com decisões que respeitem a dignidade própria e alheia.
O tema do dia de estudo será explorado através de algumas categorias. A primeira a ser questionada será a revelação bíblica. O que é consciência na Sagrada Escritura?
Segundo a Sagrada Escritura, a consciência coincide com o "coração", não entendido no sentido fisiológico-anatômico, mas assumido como centro decisório da pessoa, diante de Deus e do próximo.
A filosofia levará a considerar a escolha moral. Como deve ser enfrentada a dimensão moral da nossa existência?
A "consciência" tem muitos níveis ou dimensões em que se exerce; não é apenas consciência "teorética" (o que diz respeito à consciência dos princípios da lógica e dos conhecimentos em geral, em todos os campos em que se realiza o esforço de elaborar e organizar um âmbito de saber); não é apenas consciência "estética", atenta e obediente à intuição do belo em todas as formas elaboradas pelas diversas artes.
É, antes de tudo, consciência "prática", voltada para a realização de algo no mundo natural e cultural: nesse sentido, é propriamente consciência da ação e da interação com os outros.
E a consciência ética?
Uma forma particular de consciência prática é a consciência "ética", que é responsável por descobrir aqueles princípios gerais, enraizados no humano, em virtude dos quais alguns comportamentos do ser humano, em igualdade de condições, aparecem como obrigatórios para todos os indivíduos humanos (ou pessoas) dentro das mais diversas formações sociais.
Se renuncia ao critério da obrigação, a ética perde seu elemento específico, reduzindo-se a uma lista pura e simples de comportamentos possíveis. Essa ciência comportamental certamente apresentará alguma utilidade, mas teria perdido a dimensão ética inalienável da ação humana.
A abordagem da ciência e das ciências humanas acende a questão da liberdade e responsabilidade versus condicionamentos e limites: como mediar?
A mediação é um ato de verdade e de liberdade, onde quer que haja tensões de qualquer tipo. As facetas da verdade impõem a arte da mediação, não para cair no relativismo ou na indiferença, mas para levar em conta aquela complexidade que você mencionou no início do seu discurso.
A afirmação da complexidade impõe também a renúncia a todas as formas de reducionismo: as funções cerebrais de tipo neurológico possibilitam, facilitam ou retardam o exercício da consciência, mas aquelas funções materiais, que hoje podem ser descritas por meio de imagens digitais, não são a própria consciência.
Da mesma forma, são muitas os condicionamentos naturais, biológicas, ambientais, culturais que circunscrevem o exercício de nossa liberdade, mas não a tiram, aliás, a exaltam no espaço de exercício que ela sempre obtém.
Na política, a mediação também pode contemplar o exercício do recuo estratégico diante de um mal momentaneamente inelutável e aparentemente insuperável, em vista de um acesso mais amplo e profundo ao terreno do verdadeiro, do justo, do belo e, tendencialmente, do bem de todos.
Por fim, a reflexão teológica: qual a vantagem de adotar uma perspectiva ecumênica?
Recorrendo a exemplos históricos atravessados pela história do cristianismo, chega-se mais fácil e conscientemente a colocar a questão da liberdade humana em relação à salvação do ser humano.
O pano de fundo da justificação pela fé defendida por Martinho Lutero é determinado por uma compreensão severa do "servo arbítrio" que, longe de negar o exercício da liberdade humana, garante absolutamente o primado da graça que redime.
Podemos indicar alguns caminhos, inclusive práticos, para viver de forma consciente e construtiva na sociedade contemporânea?
Há uma única pista com muitas ramificações convergindo para ela; é aquela indicada pelo Vaticano II, através do reconhecimento da liberdade religiosa, da mesma identidade de valor que qualifica cada ser humano e que exige o empenho de um diálogo constante que nunca se resigne a posições ideológicas ou simples contraposição de força, em cada campo, da ciência à arte, da política à economia, da justiça à caridade".
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Por uma sociedade autenticamente humana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU