Na primeira parte da entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo destacou como o capitalismo, ou “Velho Cap”, como ele diz, ainda se mostra potente, capaz de recuperar sua natureza inquieta e criativa para chamar para si um protagonismo no mundo de hoje. O professor também refletiu sobre como a concepção de uma “nova economia” tem de, essencialmente, passar por questões que ainda não foram resolvidas do antigo – que na verdade é o atual – modelo. “Para começo de conversa, digo que as questões suscitadas nas origens da vida moderna ainda não obtiveram resposta. Nos tempos de prosperidade, elas hibernam e ai dos que ousam despertá-las. Mas no fragor das crises elas voltam a assombrar o mundo dos vivos’, observa.
Belluzzo, ainda no trecho da entrevista publicada ontem, analisou as inferências do papa Francisco na economia, insistindo para que se adotem outros modelos que levem em conta o equilíbrio das formas de vida do planeta e a necessidade de centrar o olhar nos mais pobres. “Em 2013, o papa Francisco ofereceu aos católicos e cristãos a Primeira Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. Assim como as encíclicas Rerum Novarum de Leão XIII, Mater et Magistra e Pacem in Terris de João XXIII, a exortação apostólica de Francisco abordava as vicissitudes e alegrias da vida cristã no mundo contemporâneo”, aponta. E avalia: “os olhares do nosso tempo perderam de vista a ideia de comunidade cristã, expressão tantas vezes repetida no texto do Papa e incrustada nas origens do cristianismo. Jacques Le Goff diz com razão que no cristianismo primitivo e no judaísmo a eternidade não irrompia no tempo (abstrato) para "vencê-lo". A eternidade não é a "ausência do tempo", mas a dilatação do tempo ao infinito. Depois da encarnação, o tempo adquire uma dimensão histórica. Cristo trouxe a certeza da eventualidade da salvação, mas cabe à história coletiva e individual realizar essa possibilidade oferecida aos homens pelo sacrifício da cruz e pela ressurreição”.
No trecho da entrevista que publicamos hoje, Belluzzo retoma os desafios para compreender esse capitalismo “transmutante” do século XXI. “As tendências da dinâmica capitalista reafirmam sua ‘natureza’ como modalidade histórica cujo propósito é a acumulação de riqueza abstrata, monetária”, indica. Ainda traz uma análise da dura realidade brasileira diante desse cenário. “No Brasil submetido ao poder dos “mercados”, o desemprego não cede, a extrema pobreza avança, a mortalidade infantil progride. Os candidatos centristas e seus economistas não conseguem escapar da carceragem do ajuste fiscal que lançou o país na depressão deflagrada em 2015”, aponta. “No debate brasileiro, os ditos especialistas dizem e repetem que os desvalidos e os mais pobres, na defesa de seus interesses, estão a atacar o orçamento. Já os sabichões, esses não, eles encarnam a racionalidade, exercida do alto de seus escritórios almofadados”, acrescenta.
Por fim, o professor ainda reflete sobre o campo das Ciências Econômicas e os limites da forma como vem sendo apreendida, especialmente pelas novas gerações de economistas, atualmente. Além disso, também olha para a relação China e Estados Unidos, nesse mundo que parece se realinhar entre outros polos. “De uma perspectiva geopolítica e geoeconômica, a inclusão da China no âmbito dos interesses americanos é o ponto de partida para a ampliação das fronteiras do capitalismo, movimento que iria culminar no colapso da União Soviética”, adianta.
Belluzzo durante conferência no IHU (Foto: Ricardo Machado)
Luiz Gonzaga Belluzzo é graduado em Direito pela Universidade de São Paulo - USP, mestre em Economia Industrial pelo Instituto Latino-Americano e Caribenho de Planejamento Econômico e Social – Ilpes/Cepal e doutor em Economia pela Universidade de Campinas - Unicamp. Foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. É um dos fundadores da Faculdades de Campinas - Facamp, onde é professor. Publicou recentemente Manda quem pode, obedece quem tem prejuízo (São Paulo: Facamp-Editora Contracorrente, 2017). Também é autor de Capital e suas metamorfoses (São Paulo: Unesp, 2013), Os antecedentes da tormenta: origens da crise global (Campinas: Facamp, 2009), Temporalidade da Riqueza - Teoria da Dinâmica e Financeirização do Capitalismo (Campinas: Oficinas Gráficas da Unicamp, 2000), entre outras obras.
A íntegra da entrevista pode ser lida também em Cadernos IHU ideias, no. 286, disponível aqui.
A edição impressa pode ser solicitada escrevendo para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
IHU On-Line – Quais os desafios para compreender o capitalismo de nosso tempo? E de que forma as transformações pelas quais tem passado, visando a sua adaptação para que supere crises, pode nos inspirar a concepção de saídas de um sistema econômico que destrói o planeta, aumenta as desigualdades e exclui?
Luiz Gonzaga Belluzzo – What is Wrong with Capitalism? [1], indagam os editores do Project Syndicate [2], site onde desfilam figuras do andar de cima da opinião econômica. Entre os escalados para desvendar os enigmas do capitalismo “errado” estão, entre outros, Joseph Stiglitz [3], Mariana Mazzucato [4], Yanis Varoufakis [5] e Raghuram Rajan [6].
Diante de turma tão ilustre e respeitável, sinto algum constrangimento em divergir, senão das respostas, muitas instigantes, mas, sim, da pergunta: O que está errado com o Capitalismo?
Ao responder que não há nada errado, assumo um risco nada desprezível. Essa foi a sensação que me perseguiu durante e após a leitura do best-seller The Myth of Capitalism [7] de Jonathan Tepper [8]. O autor encara a morte da concorrência perfeita como o epitáfio do verdadeiro (sic) capitalismo.
Em minha modesta opinião, depois de libertado das disciplinas e amarras sociais que o domesticaram nos Trinta Anos Gloriosos do imediato pós-guerra, o velho capitalismo reconciliou-se com sua natureza inquieta e criativa. Tão inquieta e criativa que rapidamente transmutou a concorrência perfeita em concorrência monopolista. Livre, leve e solto em seu peculiar dinamismo, amparado em suas engrenagens tecnológicas e financeiras, o Velho Cap promoveu e promove a aceleração do tempo e o encolhimento do espaço. Esses fenômenos gêmeos podem ser observados na globalização, na financeirização e nos processos de produção da indústria 4.0.
A nova fase da digitalização da manufatura é conduzida pelo aumento do volume de dados, ampliação do poder computacional e conectividade, a emergência de capacidades analíticas aplicadas aos negócios, novas formas de interação entre homem e máquina, e melhorias na transferência de instruções digitais para o mundo físico, como a robótica avançada e impressoras 3D.
É intenso o movimento de automação baseado na utilização de redes de "máquinas inteligentes". Nanotecnologia, neurociência, biotecnologia, novas formas de energia e novos materiais formam o bloco de inovações com enorme potencial de revolucionar outra vez as bases técnicas do capitalismo. Todos os métodos que nascem dessa base técnica não podem senão confirmar sua razão interna: são métodos de produção destinados a acelerar a produtividade social do trabalho e intensificar a rivalidade empresarial na busca da ocupação dos mercados.
Os avanços da inteligência artificial, da internet das coisas e da nanotecnologia, das novidades do 5G, se associaram ao deslocamento espacial da grande empresa e acentuaram as assimetrias entre países, classes sociais e empresas. A globalização financeira e a deslocalização produtiva são filhos diletos da estratégia competitiva da grande empresa comandada pela fúria inovadora e concentradora dos mercados financeiros, em prejuízo da capacidade de regulação dos Estados Nacionais. Os movimentos competitivos das empresas financeirizadas que impulsionam as cadeias globais de valor executam a abstração da vida, fragilizando os espaços jurídico-políticos nacionais onde se abrigam os mortais cidadãos.
Os bancos e os fundos são a cola do sistema ao fazer 95% de toda a movimentação financeira: transações cambiais, hedge, pagamentos, transações comerciais, investimentos. É uma ilusão imaginar que relações entre a economia real e a economia monetário-financeira são de oposição e exterioridade. São relações contraditórias, mas não opostas, inerentes à dinâmica do capitalismo em seu movimento de expansão, transformação e reprodução.
Aí estão inscritas como cláusulas pétreas a concentração e centralização do controle do capital monetário em instituições financeiras de grande porte, cada vez mais interdependentes, que submetem a seu domínio a produção e a distribuição da renda e da riqueza.
As tendências da dinâmica capitalista reafirmam sua "natureza" como modalidade histórica cujo propósito é a acumulação de riqueza abstrata, monetária. No livro Darkness by Design [9], publicado recentemente, Walter Mattli [10] desvenda as relações de poder nos mercados financeiros: “Elas são centrais para explicar o funcionamento dos mercados, quer no sentido da política como meio de determinar ganhadores e perdedores, quer na acepção mais geral dos mercados como instituições essencialmente políticas, nas quais as relações de poder são fundamentais”.
O capital monetário concentrado nas grandes instituições apoderou-se da gestão empresarial, impondo práticas destinadas a aumentar a participação dos ativos financeiros na composição do patrimônio, inflar o valor desses ativos e conferir maior poder aos acionistas. A lógica da valorização dos estoques de riqueza financeira passou a comandar o movimento das “economias reais”.
IHU On-Line – Podemos afirmar que a Ciência Econômica tem, na atualidade, se rendido a lógicas tecnocráticas? Como compreender a ausência das perspectivas da economia política nos debates mais recentes?
Luiz Gonzaga Belluzzo – O mal é a política, lamentam os “físicos da sociedade”. A política dos interesses e os interesses da política, dizem eles, se intrometem frequentemente no jogo da economia, quebrando a harmonia de interesses promovida pela ação dos indivíduos racionais. Na revista New Yorker, John Lanchester [11], autor do livro How to Speak Money [12], escreveu um artigo instigante a respeito das relações entre Economia e Humanismo.
Em 1974, escreve Lanchester, sete países africanos juntaram forças para combater a Cegueira dos Rios, doença tropical provocada pela picada de insetos. A Organização Mundial da Saúde supervisionou o programa, um sucesso retumbante que impediu a cegueira de milhares de africanos pobres.
Convidados para avaliar os resultados, economistas do Banco Mundial não foram capazes de afirmar se valeu a pena o esforço coletivo. Na opinião da turma da ciência econômica, a análise de custo-benefício foi “inconclusiva”. As pessoas beneficiadas eram tão pobres que preservar sua visão tem baixo impacto monetário.
No Brasil submetido ao poder dos “mercados”, o desemprego não cede, a extrema pobreza avança, a mortalidade infantil progride. Os candidatos centristas e seus economistas não conseguem escapar da carceragem do ajuste fiscal que lançou o país na depressão deflagrada em 2015. A vira-latice fiscal ganhou tal força nas manifestações que os “centristas” ousam desrespeitar as recomendações do FMI. Outrora famigerado, o organismo de Bretton Woods [13], sem abandonar suas proverbiais prudências, exercita suas ousadias.
Em documento publicado em julho de 2017, o Fundo reforça a recomendação já prolatada em outras ocasiões: “a composição dos planos de consolidação em termos dos diversos instrumentos fiscais é importante. Por exemplo, um corte no investimento tem um impacto mais negativo sobre o crescimento em comparação a um corte nos gastos primários. Assim, as autoridades devem procurar preservar o investimento público para apoiar o crescimento e o emprego”. O novo texto insiste nas recomendações proclamadas na edição de outubro de 2014 do World Economic Outlook.
No debate brasileiro, os ditos especialistas dizem e repetem que os desvalidos e os mais pobres, na defesa de seus interesses, estão a atacar o orçamento. Já os sabichões, esses não, eles encarnam a racionalidade, exercida do alto de seus escritórios almofadados.
Devastados pelo desemprego, pela insegurança e pela fome, indivíduos de carne e osso respondem com suas capacidades à avalanche de “fake ideas” disseminadas pelos ditos “especialistas”. Há quem se disponha a atemorizar os brasileiros desgraçados com os horrores do calote da dívida ou da hiperinflação, caso a reforma da Previdência não seja aprovada.
As arengas dos especialistas se acovardam ao enfrentar os escandalosos desequilíbrios de poder e riqueza. Diante da reação dos perdedores às reformas propostas, resta aos intelectuais do establishment prosseguir na tradição de empregar palavras sem conceito e gritar “populismo!!!”. Isso quando não recomendam mais sacrifícios. Como sentencia a parêmia sertaneja: “os relho é que vareia, os lombo é sempre os mesmo”.
Sou tentado a mudar o registro e buscar apoio de Jean-Paul Sartre [14] e Adam Smith [15] para entender os desencontros entre, digamos, as elites bem-pensantes e o povaréu mergulhado nas trevas do populismo!!!. Na Crítica da Razão Dialética [16], Sartre se recusa a conceber o homem como uma coisa.
A despeito das armadilhas das estruturas socioeconômicas que tentam transformar o cidadão em um serviçal da rotina, dos costumes e do conformismo, o homem da razão dialética se caracteriza pelo impulso incontido à superação de uma situação que o transformou naquilo que pretendem que ele seja. Para desapontamento dos pretensos artífices da “coisificação”, mulheres e homens estão condenados à liberdade.
O iluminista e filósofo moral Adam Smith define o indivíduo a partir da liberdade exercida mediante a propensão humana natural para a troca. A motivação egoísta do intercâmbio de mercadorias, no entanto, está ancorada na simpatia mútua, na sociabilidade enraizada na inclinação benevolente para o outro.
Nas trevas da economia vulgar, dogmática que nos assola com um rosário de banalidades, a versão smithiana do indivíduo afetivo e socializado degenerou nas hipóteses "científicas" que suprimem as diferenças entre os papéis sociais dos indivíduos concretos para aprisioná-los na má abstração do homem racional ocupado em maximizar sua escala de utilidades.
Para os iluminados do Anti-Iluminismo, a história das sociedades deve culminar na adesão incondicional ao cálculo utilitarista para extirpar definitivamente os artificialismos da política. A política da Polis, essa invenção de instituições e espaços populistas, sempre empenhada em colocar empecilhos à ação racional dos indivíduos. Formas “naturais e também superiores da sociabilidade – os nexos monetários e mercantis – aparecem como as condições para se alcançar simultaneamente a Liberdade, a Igualdade e a fruição da máxima Utilidade para todos. A fórmula do mercado não só garante – diante das restrições de recursos e da tecnologia – os melhores resultados do metabolismo econômico, como também oferece o modelo ideal para as relações entre governantes e governados.
Apanhada às pressas de alguma interpretação da filosofia da história de Hegel [17], essa gororoba é a glória, mas também a miséria do novo pensamento das classes cosmopolitas e dominantes, que espalham a sua descoberta de Nova York a Jacarta, de Londres a Buenos Aires. Glória, porque, finalmente, foi possível arrebatar o estandarte do reformismo das mãos dos adversários que julgavam ter a sua posse definitiva. Miséria porque, sob muitas máscaras, o jogo do mercado desregulado ameaça os fundamentos da ordem estabelecida, ao promover o fracionamento das sociedades, cada vez mais divididas entre os integrados e os excluídos, ao mesmo tempo em que fomenta a busca desesperada por formas de identificação “primárias”, religiosas, étnicas e “tribais”, mutuamente hostis e declaradamente inimigas dos valores republicanos.
IHU On-Line – Como a Economia, enquanto ciência, campo de saber, pode responder ao chamado estado de crises que se vive no Brasil e no mundo de uma forma que não se restringe à lógica financeirista?
Luiz Gonzaga Belluzzo – As teorias novo-clássicas, com expectativas racionais, levaram ao paroxismo o modelo de equilíbrio geral: afirmam que a estrutura do sistema econômico no futuro já está determinada agora. Isto porque a função de probabilidades que governou a economia no passado é a mesma distribuição de probabilidade que a governa no presente e a governará no futuro. Haveria por detrás das ações humanas estruturas naturais capazes de garantir a reprodução, quase sem atritos, das relações sociais. Tudo o que é sólido não se desmancha no ar. As teorias econômicas dominantes e suas políticas permanecem espremidas entre a mitologia do equilíbrio e os manuais de instrução das arrumadeiras de casa ou de alfaiates especializados em ajustar fatiotas. Os fâmulos da ciência econômica se entregam à farsa pseudocientífica dos modelos engalanados por matemática de segunda classe.
Thomas Sargent [18], um dos corifeus das expectativas racionais, nos oferece uma obra-prima da teologia da racionalidade dos agentes e dos mercados perfeitos e competitivos: “As pessoas dentro do modelo têm muito mais conhecimento sobre o sistema em que estão operando do que os economistas ou econometristas que estão usando o modelo para entender seu comportamento. Em particular, os econometristas enfrentam problemas de estimar a distribuição de probabilidades e as leis de movimento que são presumidas de conhecimento dos agentes. As estimativas e técnicas de inferência das expectativas racionais presumem que os agentes no modelo conheçam o que os econometristas estão estimando”.
A matriz intelectual dessa ridicularia repousa nos fundamentos do individualismo metodológico que sustentou certezas econômicas e políticas dos últimos 40 anos. Aviadas nos gabinetes das universidades e das consultorias, essa coleção de crenças está apoiada em esquemas conceituais grotescos. A turma das expectativas racionais entregou a chamada ciência econômica às forças do pensamento mítico, em nome da despolitização e da “limpeza ideológica”. A consequência dessa empreitada não foi apenas o irrealismo descuidado, mas as sucessivas e persistentes escaramuças para esconder o funcionamento concreto das economias capitalistas, um organismo em permanente transformação ao longo da história, na efetivação de suas leis de movimento.
São muitas as reações ao “descolamento” da teoria dominante diante do movimento concreto das economias contemporâneas. Entre tantas, é interessante observar o desenvolvimento da Econofísica que se utiliza das teorias da complexidade e da álgebra relacional para (re)colar as estruturas e os processos econômicos na avalanche de dados acumulados pela ciência da computação.
No livro Decoding Complexity. Uncovering Patterns of Economic Complexity [19], o físico James Glattfelder [20] escreve: “a característica dos sistemas complexos é que o Todo exibe propriedades que não podem ser deduzidas das Partes individuais. Em suma, a teoria da complexidade trata de investigar como o comportamento macro decorre da interação entre os elementos do sistema”.
No movimento histórico das economias concretas estão abrigadas a irreversibilidade e a emergência do novo nas estruturas complexas, pesadelo dos economistas que dormem e sonham com modelos reversíveis e atemporais de equilíbrio geral, símiles de joguinhos de lego. Nos modelos macroeconômicos contemporâneos, sejam eles novo-clássicos ou neokeynesianos, todos inspirados pela teoria das expectativas racionais, as flutuações da economia em torno de sua trajetória de equilíbrio decorrem de “choques exógenos”, como mudanças tecnológicas ou na preferência dos consumidores; os mecanismos automáticos de ajuste operarão forte e rapidamente.
A economia tenderia automaticamente a passar de um estado de equilíbrio a outro, graças à operação das “forças naturais” do mercado. A “hipótese das expectativas racionais” fundamenta os modelos de equilíbrio geral dinâmicos e estocásticos, para reivindicar a estabilidade da economia de mercado. A “otimização” dos indivíduos racionais foi sintetizada no agente representativo que conhece a estrutura “real” da economia, bem como sua trajetória provável.
No artigo “La Preuve dans les Sciences Economiques” [21], Michel Aglietta [22] afirma que Leon Walras [23] conceituou seu modelo como “economia pura”. Kenneth Arrow [24] e Gérard Debreu [25], apoiados na matemática dos espaços compactos, demonstraram a existência de equilíbrio com o teorema do ponto fixo. Nenhum deles, no entanto, deixou de reconhecer que os resultados eram normativos. “O equilíbrio geral definia um mundo econômico matematicamente perfeito. Ninguém foi capaz de mostrar os caminhos que deveriam ser seguidos para se alcançar tal equilíbrio”.
IHU On-Line – De que forma o senhor observa a formação das novas gerações de economistas? Qual o papel das escolas de economia na formação desses profissionais e como, de fato, têm agido na atualidade?
Luiz Gonzaga Belluzzo – Como faz meu amigo Mino Carta [26], indaguei meus botões a respeito da separação entre conhecimento e interesse. Eles resmungaram: as recomendações e análises dos economistas, prestadas em boa-fé, estão eivadas de valorações e pressupostos não revelados. Os famigerados botões foram adiante: as ostentações de rigor e cientificidade são incompatíveis com a natureza do objeto investigado. Esse, digamos, “incidente ontológico” é quase sempre ignorado pelos praticantes da “Ciência Triste”.
Na segunda metade do século XIX, a economia empreendeu a peregrinação em busca do Graal da Ciência. Tratava-se de mimetizar os procedimentos da mecânica clássica. Em sua trajetória rumo ao “progresso”, a economia ignorou as mudanças de paradigma promovidas pelas “rupturas” da termodinâmica, da física das partículas e da Teoria da Relatividade. Ilya Prigogine [27] e Isabelle Stengers [28] mostram que a fenomenologia descrita pela termodinâmica, pela física das partículas e pela Teoria da Relatividade “nos conduz a compreender um mundo em evolução, um mundo onde a “emergência do novo” reveste um significado irreversível... O ideal da razão suficiente supunha a possibilidade de definir a causa e o efeito, uma lei que estabelece equivalências reversíveis”.
Na dita ciência econômica, essas “equivalências reversíveis” estão contempladas em todas as formulações do modelo de Equilíbrio Geral assentadas na hipótese do indivíduo racional e maximizador. A irreversibilidade não está no dicionário dos modelos Dinâmicos Estocásticos de Equilíbrio Geral, o último grito da sabedoria econômica. Por isso não são dinâmicos coisa nenhuma.
É possível reivindicar uma complexidade ainda maior nos processos de conhecimento das ditas Ciências Sociais. Habermas [29], por exemplo, sugere que, além de estarem submetidas à confirmação empírica (ou à rejeição), as teorias da sociedade devem estar sujeitas à demonstração de que são “reflexivamente aceitáveis”. A investigação deve compreender não apenas as instituições e práticas sociais, mas também incluir as convicções que os agentes têm sobre a sua própria sociedade – investigar não apenas a realidade social, mas os saberes que se debruçam sobre ela. Uma teoria social é uma teoria a respeito das convicções dos agentes sobre a sua sociedade, sendo ela mesma uma dessas convicções. Os assim chamados cientistas sociais, sobretudo os economistas, costumam descuidar dos fundamentos cognitivos implícitos em seus procedimentos.
Desde a romaria dos jovens economistas brasileiros para as universidades americanas mais afamadas, a formação oferecida os tornou incapazes de absorver outros paradigmas. Na dita Ciência Econômica, é ominoso o fenômeno da vacinação anticartesiana. Essa mezinha imuniza o pensamento humano contra o perigosíssimo vírus da dúvida metódica. Digo ominoso, porque é necessário esconder as relações de poder embutidas nas estruturas de mercado.
Assim o Estado dessa turma balança entre os extremos da liberdade total de emissão monetária, apenas submetido às restrições da capacidade produtiva instalada e os rigores da disciplina fiscal imposta pela equivalência ricardiana. Os fiscalistas atribuem a David Ricardo [30] a ideia da ineficácia das políticas fiscais anticíclicas: os agentes racionais, aqueles que conhecem a estrutura da economia e sua evolução provável, antecipam o aumento de impostos no futuro para cobrir o déficit incorrido agora.
A incerteza que afetava as decisões empresariais no capitalismo de Keynes cede lugar à “otimização” dos indivíduos racionais que conhecem a estrutura da economia, bem como sua trajetória provável. Esse super-homem não se deixa enganar por “truques nominais” da política monetária e da política fiscal. A política econômica para reduzir o desemprego só resultaria em maiores taxas de inflação e necessidade de maiores impostos no futuro. Segundo o “teorema da equivalência ricardiana”, o agente racional sabe que o déficit fiscal de hoje será corrigido “estruturalmente” por mais impostos amanhã.
A força e o sucesso dessa teoria repousam em um conjunto de pressupostos simples: os indivíduos baseiam suas decisões em expectativas racionais; os mercados são bem organizados e o sistema de preços, rígidos ou flexíveis, funciona para alocar eficientemente os recursos; as flutuações da economia em torno de sua trajetória de equilíbrio decorrem de “choques exógenos”, como mudanças tecnológicas ou na preferência dos consumidores; os mecanismos automáticos de ajuste operarão forte e rapidamente; a demanda de moeda é estável, porque a função reserva de valor que suscita a demanda especulativa sumiu do mapa; por isso, os ativos financeiros e reais são altamente intercambiáveis; o consumo depende do valor descontado de todas as receitas futuras e não da receita corrente; o tropismo em direção à teoria quantitativa da moeda arquitetou a Nairu (taxa de desemprego não aceleradora da inflação), concebida para mimetizar o conceito de taxa natural de desemprego, como advertência aos perigos de estímulos “pelo lado da demanda”.
A economia tenderia automaticamente ao equilíbrio a longo prazo, graças à operação das “forças naturais” do mercado. A austeridade monetária e fiscal é reivindicada como panaceia destinada a restaurar rapidamente as “condições econômicas normais”. Isso significa o seguinte: uma vez desvendado o hiato do produto para definir o produto potencial, emerge a “realidade” escondida sob o véu dos valores nominais.
A pedra angular das estimativas do hiato do produto é a confiança na inflação como indicador principal dos desvios do produto potencial. Em trabalho recente do Bank of International Settlements sobre o tema, Borio [31], Disyatat e Juselius mostram a tautologia dos cálculos do hiato do produto: se há fortes tensões inflacionárias, a economia está sendo pressionada a crescer acima do produto potencial. Se há deflação, está crescendo abaixo.
Borio [69] constata que a verificação empírica dos modelos amparados nessa hipótese apresenta um dilema: ou os resultados não são economicamente plausíveis ou a hipótese supracitada da correlação entre inflação e desemprego é irrelevante para o cálculo do produto. Gentilmente, Borio et al. estão dizendo que o tratamento do hiato do produto está irremediavelmente comprometido com o vício da tautologia. Os resultados estão contidos nos supostos. Resta à política econômica satisfazer as expectativas dos agentes racionais, sinalizando que vai tomar as decisões necessárias para que todos acreditem na recondução da economia à trilha do “produto natural de equilíbrio”. E assim estamos de volta ao Nirvana da “economia da oferta”.
John Maynard Keynes concordaria parcialmente com a Modern Monetary Theory [32]. Maynard sustenta que no âmbito da “economia como um todo” é o gasto das empresas, das famílias e do Estado que “cria” a renda.
Keynes, no entanto, concebe a organização da sociedade como uma teia de relações hierarquizadas entre proprietários capitalistas e trabalhadores. “Se a firma decide empregar trabalhadores para usar o equipamento de capital e gerar um produto, ela deve ter suficiente comando sobre o dinheiro para pagar os salários e as matérias-primas que adquire de outras firmas durante o período de produção, até o momento em que o produto seja convenientemente vendido por dinheiro”.
A ideia de comando supõe não apenas a propriedade dos meios de produção, mas também o controle dos meios monetários capazes de mobilizá-los. Aqui surgem os bancos. A criação de liquidez decorre da concessão de crédito para financiar os gastos de investimento e de consumo, com a consequente acumulação de ativos e passivos nos balanços dos protagonistas já mencionados.
A inter-relação entre os balanços – ativos e passivos – dos agentes relevantes exige o exercício cuidadoso da política monetária soberana, sempre dilacerada entre o estímulo às decisões de gasto e a preservação do valor dos estoques de ativos – títulos de dívida e direitos de propriedade (ações) denominados na unidade de conta garantida pelo Estado.
Os governos não escapam das imposições dos mercados que negociam direitos sobre a renda e a riqueza. Participam emitindo títulos públicos – riqueza privada de alta qualidade, segurança e liquidez – para regular as condições do mercado monetário, sem comprometer a reprodução das relações de propriedade.
IHU On-Line – Como as disputas entre EUA e China podem nos levar a pensar sobre os limites do capitalismo ou na concepção de outro capitalismo?
Luiz Gonzaga Belluzzo – Henry Kissinger [33], em seu livro Sobre a China [34], descreve o processo de aproximação entre EUA e China durante a gestão Nixon (1968-1974) [35], da qual foi assessor de Segurança Nacional, como resultado de interesses comuns em frear a “ameaça do projeto de hegemonia soviética”. Narra que quando Zhou Enlai (ou Chou En-Lai) [36], premiê chinês no período, escreveu sobre o restabelecimento da amizade entre os povos chinês e americano, descreveu como uma atitude necessária para promover um novo equilíbrio internacional, não um estado final de relacionamento entre os povos.
De uma perspectiva geopolítica e geoeconômica, a inclusão da China no âmbito dos interesses americanos é o ponto de partida para a ampliação das fronteiras do capitalismo, movimento que iria culminar no colapso da União Soviética.
A relação econômica sino-americana promoveu o fluxo de investimento dos Estados Unidos para a China, a exportação de manufaturas com ganhos de escala refletidos em baixos preços da China para os EUA, o endividamento para sustentar o consumo das famílias americanas submetidas à estagnação ou queda dos rendimentos. Foi na força do dólar e na resiliência de seu mercado financeiro que a grande empresa americana sustentou a migração de suas fábricas para regiões de menor custo relativo.
As empresas deslocaram sua produção manufatureira para as regiões em que prevalecem relações favoráveis câmbio/salários, economias de escala, absorção de tecnologia e alta produtividade do trabalho. As entradas de “investimento de portfólio” no mercado americano financiaram a saída líquida de capital produtivo. Nesse jogo da grande finança com a grande empresa, conforma-se uma mancha manufatureira que pulsa em torno da China.
Avaliado pela Paridade do Poder de Compra, o PIB da China em 2018 chegou a mais de 23,313 trilhões de dólares contra 19,495 trilhões dos Estados Unidos e 3,3 trilhões do Brasil. A Paridade do Poder de Compra busca medir o valor da produção dos países em um dólar “comum”, levando em conta os preços internos de cada país.
O livro China versus West [37] de Ivan Tselichtchev dá a dimensão da transformação ocorrida. Nos anos 1980 a economia chinesa detinha os mesmos 1% do Brasil de participação no comércio mundial; em 2010 sua participação saltou para 10,4%, contra 8,4% dos EUA, 8,3% da Alemanha. Durante a primeira década do novo milênio a taxa de crescimento média anual da economia chinesa foi de 10,5%, contra 1,7% dos EUA e 0,9% da Alemanha. Ao final da década a China respondia por 42% da produção mundial de televisores a cores, 67% dos produtos de vídeo, 53% dos telefones móveis, 97% dos PCs e 62% das câmeras digitais.
Os chineses usam das políticas industriais, de normas destinadas a favorecer as empresas nacionais em detrimento das estrangeiras. Apoiam abertamente a concentração e fusão, usando as grandes estatais como núcleos destinados a coordenar este processo de constituição de conglomerados, que, no futuro próximo, devem emular os keiretsu japoneses [38] ou os chaebols da Coreia do Sul [39].
A estratégia da China combina, até agora com sucesso, a atração do investimento direto estrangeiro em parceria com as empresas locais, privadas e públicas, a absorção de tecnologia e a fixação de metas de exportação e de geração de saldos positivos na balança comercial.
Integrar a economia significa conquistar mercados, ampliar o superávit comercial e manter rigoroso controle sobre o movimento de capitais. A determinação da taxa de câmbio não pode ser deixada aos mercados, mas é um instrumento de competitividade. Isto, obviamente, é motivo de escândalo para os economistas liberais.
É impossível resistir à constatação de que a China enfrenta os desafios da globalização com concepções e objetivos que desmentem a propalada perda de importância das políticas nacionais e internacionais de industrialização e desenvolvimento. Em 2013, o presidente Xi Jinping [40] lançou o projeto a Nova Rota da Seda [41], um programa de longo prazo para promover investimentos e conexões com todas as regiões do mundo. A Belt and Road Initiative busca não só aprofundar as relações da China com seus vizinhos asiáticos, mas, sobretudo, visa à disputa da hegemonia da Nova Ordem Mundial, construída a partir de sua espetacular expansão.
Em discurso de abertura do 19º Congresso do Partido Comunista da China [42], o presidente Xi Jinping discorreu a respeito da economia de mercado com características chinesas. A formulação estratégica é do Partido Comunista da China povoado de 80 milhões de membros. O sistema de consultas da base para a cúpula e vice-versa é marcado por várias instâncias de avaliação e decisão. Uma vez tomada a decisão, as burocracias de Estado, os gestores das empresas estatais, os governos provinciais, o People’s Bank of China, todos cuidam de implementar as diretrizes. Obedecem às máximas de Deng Xiao Ping: “não importa a cor do gato, se o bicho caça ratos” ou “atravessar o rio das reformas saltando as pedras”. Devagar e sempre é o lema da economia à moda chinesa.
O presidente XI Jinping anunciou as políticas de “ampliação do papel do mercado” e de reforço às empresas estatais. O propósito é alentar o empreendedorismo e a inovação. Em sua edição de 22 de julho de 2017, a revista The Economist publicou um artigo com o título de “Seleção Antinatural. ” A matéria trata do “modo chinês” de articulação entre o público e o privado. A revista lamenta o programa em curso de fusões das empresas estatais (SOEs): “a agência do governo organizou a fusão de portos, ferrovias, produtores de equipamentos e empresas de navegação... Essas ações parecem destinadas a promover campeões nacionais”.
O desenvolvimento econômico chinês é um caso explícito de simbiose entre o Estado e a iniciativa privada. Desde os anos 1980, e sobretudo a partir dos anos 1990, há uma clara relação entre um Estado que rege um amplo processo de regulação do investimento.
O Estado planeja, financia em condições adequadas, produz insumos básicos com preços baixíssimos e exerce invejável poder de compra. Na coordenação entre o Estado e o setor privado está incluída a “destruição criativa” da capacidade excedente e obsoleta mediante reorganizações e consolidações empresariais, com o propósito de incrementar a “produtividade” do capital. A iniciativa privada dá vazão a uma voraz sede de acumulação de capital através de investimentos em ativos tecnológicos, produtivos e comerciais.
Não há espaço para o rentista, devidamente desestimulado a canalizar sua sede de lucros para investimentos socialmente estéreis. Na China o rentier não precisa de eutanásia. Títulos públicos têm remuneração discreta. Os mercados de capitais são regulados para evitar supervalorizações (e superdepreciações) de ativos. O controle do fluxo de capitais especulativos garante a independência da política monetária e a estabilidade do yuan. As verdadeiras oportunidades de lucros extraordinários estão nos investimentos que geram inovações, que adensam a cadeia produtiva, que criam empregos. Não há espaço para investimentos socialmente estéreis.
Na edição de sexta-feira, 11 de maio de 2018, o jornal Valor Econômico publicou um artigo do economista de Harvard, Dani Rodrik [43]. Instigante para as dúvidas de uns, contestador às certezas de outros, o texto avalia o conflito comercial Estados Unidos-China. Sabem todos e mais alguns, que o conflito foi deflagrado pelo idiossincrático neoprotecionismo de Donald Trump.
Deixemos Trump entregue a seus twiters e vamos acompanhar Rodrik em suas meditações sobre a China. Diz ele: “O sucesso fenomenal da globalização da China se deve tanto às políticas industriais não ortodoxas e criativas quanto à liberalização econômica do regime. A proteção seletiva, os subsídios ao crédito, as empresas estatais, as normas de conteúdo nacional e os requisitos de transferência de tecnologia tiveram um papel em transformar a China na potência industrial que é.”
Dani Rodrik prossegue em suas elucubrações: “A atual estratégia da China, a 'Made in China 2025', pretende ampliar essas conquistas a fim de catapultar o país para o status de economia avançada. A China participa da globalização com o que poderíamos chamar de regras de Bretton Woods, pelos ditames do regime muito mais permissivo que regulou a economia mundial no início do período do pós-guerra. Como me explicou uma autoridade chinesa, a estratégia é abrir a janela, mas instalar uma tela sobre ela. A China recebe ar fresco (investimento externo e tecnologia) ao mesmo tempo em que mantém os elementos prejudiciais (fluxos de capital voláteis e importações instabilizadoras) do lado de fora”.
A China apostou no controle de capitais para administrar uma taxa de câmbio real competitiva, sustentou a dominância dos bancos estatais na oferta de crédito, manteve os juros baixos para “carregar” as reservas trilionárias e empreender um gigantesco programa de investimento em infraestrutura, incentivando a absorção de tecnologia, com excepcionais ganhos de escala e de escopo.
IHU On-Line – Qual sua leitura quanto à política econômica que vem sendo empregada pelo governo de Jair Bolsonaro?
Luiz Gonzaga Belluzzo – No seminário A Nova Economia Liberal patrocinado pela Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro, o liberalismo da Escola de Chicago prometeu vestir fatiota nova em carcaça velha. Entre esgares de sapiência e olhos esbugalhados, Guedes repetiu as promessas de limpar a área dos pênaltis roubados pelo time do Estado intervencionista e ineficiente em prejuízo do mercado lépido e criativo. A limpeza começa com a reforma da Previdência e a desvinculação das despesas orçamentárias, continua nas privatizações radicais e avança para a abertura comercial unilateral da economia.
Propósitos tão louváveis quanto a consigna Deus Acima de Tudo: a reforma da Previdência e a desvinculação das despesas ensejariam o equilíbrio fiscal a longo prazo, a grana das privatizações seria utilizada para reduzir a dívida pública e a abertura comercial da economia favoreceria a competitividade das empresas brasileiras submetidas aos confortos do protecionismo.
O economista austríaco Friedrich Hayek, ilustre libertário, escreveu em 1973 o artigo “Economic Freedom and Representative Government”: “Há um conflito irreconciliável entre democracia e capitalismo – não se trata da democracia como tal, mas de determinadas formas de organização democrática... Agora, tornou-se indiscutível que os poderes da maioria são ilimitados e que governos com poderes ilimitados devem servir às maiorias e aos interesses especiais de grupos econômicos”.
O economista português Francisco Louçã [44] lembra: Friedrich Hayek escreveu em 1962 uma carta ao ditador Salazar [45], explicando a motivação para o envio do seu livro The Constitution of Liberty, que o devia ajudar “na tarefa de desenhar uma Constituição que previna os abusos da democracia”.
Louçã ainda registra: tendo visitado o Chile quando a ditadura estava bem estabelecida – e os seus desmandos estavam demonstrados e eram públicos e notórios –, Hayek expressou a sua adesão à nova ordem numa entrevista ao principal jornal do regime, o El Mercurio, em 19 de abril de 1981. Nela declarava sem ambiguidades que “a democracia precisa de uma boa limpeza por um governo forte”. Uma boa limpeza. As palavras foram cuidadosamente escolhidas: “Como compreenderão, é possível a um ditador governar de modo liberal. E também é possível a uma democracia governar com total falta de liberalismo. Pessoalmente, eu prefiro um ditador liberal a um governo democrático a que falte liberalismo”.
O importante nessa concepção é a ênfase na capacidade do mercado livre de empecilhos de mobilizar e fluidificar os recursos individuais. O corpo de propostas "reformistas" rotuladas de liberais ou neoliberais está comprometido com a ideia de que é preciso liberar as forças criativas do mercado. Na esteira do apoio decisivo do Estado, as corporações globais passaram a adotar padrões de governança agressivamente amparadas nos procedimentos da concorrência monopolista. As empresas subordinaram seu desempenho econômico à "criação de valor" na esfera financeira, repercutindo a ampliação dos poderes dos acionistas.
As estratégias de localização da corporação globalizada e a revolução tecnológica promoveram transtorno nas vidas das Comunidades. Isso aconteceu no mesmo período em que as novas formas financeiras contribuíram para aumentar o poder das grandes corporações em suas relações com os empregados e terceirizados. As fusões e aquisições suscitaram um maior controle dos mercados e promoveram campanhas contra os direitos sociais e econômicos, considerados um obstáculo à operação das leis de concorrência. A abertura dos mercados e o acirramento da concorrência coexistiram com a tendência ao monopólio e, assim, impediram que os cidadãos, no exercício da política democrática, exercitassem o direito de decidir sobre a própria vida.
[1] “O que está errado com o capitalismo?”, em tradução livre. (Nota da IHU On-Line)
[2] Project Syndicate: é uma organização internacional de mídia que publica e distribui comentários e análises sobre diversos tópicos globais importantes. Todos os artigos de opinião são publicados no site do Project Syndicate, mas também são distribuídos para uma ampla rede de publicações de parceiros para impressão. A partir de 2016, possui uma rede de 459 meios de comunicação em 155 países. (Nota da IHU On-Line)
[3] Joseph Stiglitz: ex-vice-presidente do Banco Mundial - Bird, foi chefe dos economistas no governo Clinton, Estados Unidos, e prêmio Nobel de Economia 2001. Ele é autor, entre outros, dos seguintes livros, traduzidos para o português: A globalização e seus malefícios (São Paulo: Futura, 2003) e Os Exuberantes anos 90 (São Paulo: Companhia das Letras, 2003). (Nota da IHU On-Line)
[4] Mariana Mazzucato (1968): economista italiana. É professora da cátedra RM Phillips de Ciência e Tecnologia da Universidade de Sussex. (Nota da IHU On-Line)
[5] Yanis Varoufakis (Atenas, 1961): economista, blogger e político grego membro do partido Syriza. É o atual ministro das Finanças do Governo Tsipras desde 2015 e um acérrimo opositor da austeridade. (Nota da IHU On-Line)
[6] Raghuram Govind Rajan (1963): economista indiano e acadêmico internacional. Foi o 23º governador do Reserve Bank of India entre setembro de 2013 e setembro de 2016. Entre 2003 e 2006, Rajan foi economista-chefe e diretor de pesquisa do Fundo Monetário Internacional. Em 2015, durante seu mandato no Banco da Reserva da Índia, ele também se tornou vice-presidente do Banco de Compensações Internacionais. (Nota da IHU On-Line)
[7] John Wiley & Sons, 2018. (Nota da IHU On-Line)
[8] Jonathan Tepper: um dos fundadores da Variant Perception, grupo de pesquisa macroeconômica que atende gerentes de ativos. Em parceria com Turi Munthe, fundou o Demotix, um site de jornalismo cidadão e agência de fotografia que recebeu fotografias de jornalistas freelancers e amadores e os divulgou para a grande mídia. Também trabalhou como analista de ações na SAC Capital e como vice-presidente de negociação proprietária no Bank of America. (Nota da IHU On-Line)
[9] Princeton University Press, 2019. (Nota da IHU On-Line)
[10] Walter Mattli: professor de Economia Política Internacional no Departamento de Política e Relações Internacionais da Universidade de Oxford. Também foi membro sênior da sociedade de relações internacionais de Oxford. (Nota da IHU On-Line)
[11] John Henry Lanchester (1962): jornalista e romancista britânico. Nasceu em Hamburgo, educado em Hong Kong e na Inglaterra; entre 1972 e 1980 na Gresham's School em Holt, Norfolk, depois no St John's College, em Oxford. (Nota da IHU On-Line)
[12] W. W. Norton & Company, 2017. (Nota da IHU On-Line)
[13] Conferência de Bretton Woods: nome com que ficou conhecida a Conferência Monetária Internacional, realizada em Bretton Woods, no estado de New Hampshire, nos EUA, em julho de 1944. Representantes de 44 países participaram da conferência. Nela foi planejada a recuperação do comércio internacional depois da Segunda Guerra Mundial e a expansão do comércio através da concessão de empréstimos e utilização de fundos. Os representantes dos países participantes concordaram em simplificar a transferência de dinheiro entre as nações, de forma a reparar os prejuízos da guerra e prevenir as depressões e o desemprego. Concordaram também em estabilizar as moedas nacionais, de forma que um país sempre soubesse o preço dos bens importados. A Conferência de Bretton Woods traçou os planos de dois organismos das Nações Unidas – o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. O fundo ajuda a manter constantes as taxas de câmbio, além de socorrer países com crises nas suas reservas cambiais, como no caso do Brasil e da Rússia, em 1998. O banco realiza empréstimos internacionais a longo prazo e dá garantia aos empréstimos feitos através de outros bancos. (Nota da IHU On-Line)
[14] Jean-Paul Sartre (1905-1980): filósofo existencialista francês. Escreveu obras teóricas, romances, peças teatrais e contos. Seu primeiro romance foi A náusea (1938), e seu principal trabalho filosófico é O ser e o nada (1943). Sartre define o existencialismo em seu ensaio O existencialismo é um humanismo como a doutrina na qual, para o homem, “a existência precede a essência”. Na Crítica da razão dialética (1964), Sartre apresenta suas teorias políticas e sociológicas. Aplicou suas teorias psicanalíticas nas biografias Baudelaire (1947) e Saint Genet (1953). As palavras (1963) é a primeira parte de sua autobiografia. Em 1964, foi escolhido para o prêmio Nobel de literatura, que recusou. (Nota da IHU On-Line)
[15] Adam Smith (1723-1790): considerado o fundador da ciência econômica tradicional. A Riqueza das Nações, sua obra principal, de 1776, lançou as bases para o entendimento das relações econômicas da sociedade sob a perspectiva liberal, superando os paradigmas do mercantilismo. Sobre Adam Smith, veja a entrevista concedida pela professora Ana Maria Bianchi, da Universidade de São Paulo - USP, à IHU On-Line n. 133, de 21-3-2005, e a edição 35 dos Cadernos IHU ideias, de 21-7-2005, intitulada Adam Smith: filósofo e economista, escrita por Ana Maria Bianchi e Antônio Tiago Loureiro Araújo dos Santos. (Nota da IHU On-Line)
[16] Lamparina, 2002. (Nota da IHU On-Line)
[17] Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831): filósofo alemão idealista. Como Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, desenvolveu um sistema filosófico no qual estivessem integradas todas as contribuições de seus principais predecessores. Sobre Hegel, confira a edição 217 da IHU On-Line, de 30-4-2007, intitulada Fenomenologia do espírito, de Georg Wilhelm Friedrich Hegel 1807-2007, em comemoração aos 200 anos de lançamento dessa obra. Veja ainda a edição 261, de 9-6-2008, Carlos Roberto Velho Cirne-Lima. Um novo modo de ler Hegel; Hegel. A tradução da história pela razão, edição 430, disponível em e Hegel. Lógica e Metafísica, edição 482. (Nota da IHU On-Line)
[18] Thomas "Tom" John Sargent (1943): economista norte-americano, especialista nas áreas da macroeconomia, economia monetária e séries temporais em econometria. É tido por "um dos líderes da revolução das expectativas racionais" e é autor de muitos artigos seminais. Em conjunto com Neil Wallace, Sargent desenvolveu trabalho na área do equilíbrio das expectativas racionais. É considerado um dos mais influentes economistas do mundo. Presentemente é professor na Universidade de Nova Iorque. (Nota da IHU On-Line)
[19] Springer, 2012. (Nota da IHU On-Line)
[20] James B. Glattfelder: físico, autointitulado cientista da complexidade, trabalha com temas como filosofia e a história da ciência, as fronteiras do conhecimento, os fundamentos da realidade, os limites da percepção e da cognição, a emergência da auto-organização e processamento de informação, inteligência coletiva, sustentabilidade, questões ambientais, defeitos do sistema financeiro e Tecnologia. (Nota da IHU On-Line)
[21] Material disponível aqui. (Nota da IHU On-Line)
[22] Michel Aglietta (1938): economista marxista francês, atualmente professor de Economia da Universidade Paris X (Nanterre). É consultor científico do Centre d'Etudes Prospectives et d'Informations Internationales (CEPII) e foi membro do Institut Universitaire de France, de 2000 a 2005. Sua tese de doutorado, Régulation du mode de production capitaliste dans la longue période - Prenant exemple des États-Unis (1870-1970), apresentada à Universidade Paris I (Panthéon-Sorbonne) em 1974, lançou os fundamentos da escola da regulação. Com Robert Boyer, Aglietta é considerado um dos fundadores da escola. Aglietta é especialista em economia monetária internacional e conhecido por sua contribuição ao estudo das funções do mercado financeiro. (Nota da IHU On-Line)
[23] Léon Walras (1834-1910): economista e engenheiro, fundador da Escola de Lausanne, base do neoliberalismo. Criou as teorias do equilíbrio econômico. Fundou a economia pura, refletindo sobre um modelo ideal, matematicamente determinado, estabelecendo conceitos como os de monopólio, oligopólio e concorrência perfeita. O equilíbrio geral consegue-se por meio de uma concorrência sem restrições, obtendo-se uma espécie de regresso à ordem imutável. Substituiu a noção de causa pela de função. Escreveu Éléments d’Économie Politique Pure (1874) e Théorie Mathématique de la Richêsse Social (1883). (Nota da IHU On-Line)
[24] Kenneth Joseph Arrow (1921-2017): foi um economista e matemático estadunidense, conhecido sobretudo pela sua dissertação de doutoramento (no qual se baseia a sua obra Social Choice and Individual Values), em que demonstra o seu famoso "teorema da impossibilidade". (Nota da IHU On-Line)
[25] Gérard Debreu (1921-2004): foi um economista estadunidense (naturalizado em 1974) de origem francesa. Foi laureado com o Prémio de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel de 1983. (Nota da IHU On-Line)
[26] Demetrio Carta (1933): conhecido como Mino Carta, é um jornalista, editor, escritor e empresário ítalo-brasileiro. Mino concedeu à IHU On-Line a entrevista Os limites de um Brasil contemporâneo preso ao período colonial. (Nota da IHU On-Line)
[27] Ilya Prigogine (1917-2003): cientista de origem russa, que recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1977. Na 62ª edição, de 2-6-2003, a IHU On-Line dedicou-lhe a editoria Memória. Também foi publicado o artigo A dimensão ”narrativa” do universo, na 64ª edição, em 16-6-2003. (Nota da IHU On-Line)
[28] Isabelle Stengers (1949): filósofa belga, formou-se em química na Universidade Livre de Bruxelas. Ela é autora de livros sobre Teoria do Caos, em parceria com Ilya Prigogine, o físico-químico russo-belga e Prêmio Nobel, conhecido por seu trabalho com estruturas dissipativas, sistemas complexos e irreversibilidade, especialmente "O Fim das Certezas: tempo, caos e as leis da Natureza" e "Entre o Tempo e a Eternidade". Stengers e Prigogine se inspiram no trabalho de Deleuze, tratando-o como uma fonte filosófica importante para pensar em questões relativas à irreversibilidade e o universo como um sistema aberto. (Nota da IHU On-Line)
[29] Jürgen Habermas (1929): filósofo alemão, principal estudioso da segunda geração da Escola de Frankfurt. Herdando as discussões da Escola de Frankfurt, Habermas aponta a ação comunicativa como superação da razão iluminista transformada num novo mito, o qual encobre a dominação burguesa (razão instrumental). Para ele, o logos deve se construir pela troca de ideias, opiniões e informações entre os sujeitos históricos, estabelecendo-se o diálogo. Seus estudos voltam-se para o conhecimento e a ética. (Nota da IHU On-Line)
[30] David Ricardo (1772-1823): economista inglês, considerado um dos principais representantes da economia política clássica. Exerceu uma grande influência tanto sobre os economistas neoclássicos, como sobre os economistas marxistas, o que revela sua importância para o desenvolvimento da ciência econômica. Os temas presentes em suas obras incluem a teoria do valor-trabalho, a teoria da distribuição (as relações entre o lucro e os salários), o comércio internacional, temas monetários. A sua teoria das vantagens comparativas constitui a base essencial da teoria do comércio internacional. Demonstrou que duas nações podem beneficiar-se do comércio livre, mesmo que uma nação seja menos eficiente na produção de todos os tipos de bens do que o seu parceiro comercial. Ao apresentar esta teoria, usou o comércio entre Portugal e Inglaterra como exemplo demonstrativo. O Ciclo de Estudos em EAD – Repensando os Clássicos da Economia - Edição 2010, em seu segundo módulo, fala sobre Malthus e Ricardo: duas visões de economia política e de capitalismo. Confira a programação do evento. (Nota da IHU On-Line)
[31] Claudio Borio: chefe do Departamento Monetário e Econômico do Bank for International Sttlements (Banco de Compensações Internacionais, tradução livre), organismo que visa promover estabilidade monetária e financeira global através de cooperação internacional. De 1985 a 1987, ele foi economista da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico – OCDE, trabalhando na filial de estudos de país do Departamento de Economia e Estatística. Antes disso, ele foi professor e pesquisador no Brasenose College, Universidade de Oxford. Ele possui um DPhil e um MPhil em Economia e um BA em Política, Filosofia e Economia da mesma universidade. Claudio é autor de inúmeras publicações nas áreas de política monetária, bancária, financeira e questões relacionadas à estabilidade financeira. (Nota da IHU On-Line)
[32] Modern Monetary Theory ou Modern Money Theory (MMT): [Teoria Monetária Moderna ou Teoria do Dinheiro Moderno, em tradução livre] é uma teoria macroeconômica heterodoxa que descreve a moeda como um monopólio público para um governo e desemprego como a evidência de que um monopolista monetário está restringindo a oferta dos ativos financeiros necessários para pagar impostos e satisfazer desejos de poupança. O MMT é visto como uma evolução do chartalism e é referido às vezes como neo-chartalism. (Nota da IHU On-Line)
[33] Henry Kissinger (Henry Alfred Kissinger, 1923): nascido na Alemanha, de origem judaica, foi diplomata dos Estados Unidos e teve um papel importante na política estrangeira deste país entre 1968 e 1976. Migrou com os pais para os EUA em 1938, devido ao nazismo. Serviu na Segunda Guerra Mundial. Obteve o doutorado na Universidade de Harvard em 1954. Kissinger foi conselheiro para política internacional de todos os presidentes dos EUA de Eisenhower a Gerald Ford, sendo o secretário de Estado, conselheiro político e confidente de Richard Nixon. Em 1973 ganhou, com Le Duc Tho, o Prêmio Nobel da Paz, pelo seu papel na obtenção do acordo de cessar-fogo na Guerra do Vietnã. (Nota da IHU On-Line)
[34] São Paulo: Objetiva, 2013. (Nota da IHU On-Line)
[35] Richard Milhous Nixon (1913-1994): 37º presidente dos Estados Unidos (1969-1974) e o único presidente norte-americano a renunciar ao mandato. Ele foi também representante e senador pelo estado da Califórnia e 36º vice-presidente de seu país, durante o governo de Dwight Eisenhower. Renunciou em 9 de agosto de 1974, em virtude do escândalo Watergate, pouco antes da votação pelo Congresso da cassação de seu mandato - o impeachment. O trauma político causado pelo episódio foi grande (tanto que os americanos acabariam por escolher na eleição seguinte Jimmy Carter, um candidato religioso e apegado a valores morais). Nixon só retornaria à vida pública americana 20 anos depois do fiasco de Watergate. (Nota da IHU On-Line)
[36] Zhou Enlai (1898-1976): foi o primeiro primeiro-ministro da China, atuando como chefe de governo entre outubro de 1949 e janeiro de 1976, quando veio a falecer. Foi um proeminente líder do Partido Comunista Chinês, sendo uma das figuras mais próximas do Presidente Mao Zedong e personagem crucial na ascensão e consolidação do Partido Comunista no poder. (Nota da IHU On-Line)
[37] Wiley, 2011. (Nota da IHU On-Line)
[38] Keiretsu é um termo japonês que descreve a estrutura atual de grandes empresas no Japão, que muitas vezes resulta em um grupo de empresas que assumem participações de capital e, às vezes, colaboram e compartilham projetos. (Nota da IHU On-Line)
[39] Chaebol é o termo coreano que define um conglomerado de empresas em torno de uma empresa-mãe, normalmente controladas por famílias, tais como Samsung, Hyundai e LG. (Nota da IHU On-Line)
[40] Xi Jinping (1953): nascido em Pequim, atual presidente da República Popular da China e secretário-geral do Partido Comunista da China. Tem doutorado em Engenharia Química e Ciência Política. É atualmente o principal membro do Secretariado do Partido Comunista Chinês, o presidente da China, o diretor da Escola Central do Partido e o mais importante membro do Comitê Permanente do Politburo, que é o órgão que controla o país. Filho do político comunista Xi Zhongxun, Xi Jinping começou sua carreira política na província de Fujian e foi posteriormente escolhido como chefe do partido na província vizinha de Zhejiang, depois promovido a chefe do partido de Xangai após a demissão de Chen Liangyu. Conhecido por suas posturas liberais, duro combate à corrupção e uma franqueza e abertura quanto a reformas políticas e econômicas, é o destacado líder emergente da quinta geração de líderes da República Popular da China. Assumiu o cargo de presidente da China no dia 15 de março de 2013, sucedendo Hu Jintao. Foi nomeado como uma das pessoas mais influentes do mundo em 2009, 2011 e 2012 pela revista Time. Em 2017, foi eleito pelo The Economist o homem mais poderoso do mundo. Em 2018, o parlamento chinês aprovou o mandato vitalício a Xi Jinping. (Nota da IHU On-Line)
[41] Nova Rota da Seda: no dia 14 maio de 2017, o presidente da China, Xi Jinping, discursou no Fórum de abertura sobre a "Nova Rota da Seda", por meio do qual anunciou o investimento de 70 bilhões de dólares no projeto. A ideia é reeditar a antiga rota formada ainda no Mundo Antigo, que interligavam rotas comerciais através da Ásia do Sul, usadas no comércio da seda entre o Oriente e a Europa. (Nota da IHU On-Line)
[42] Partido Comunista da China: é o partido que governa a China desde 1948. O partido foi fundado em julho de 1921 em Xangai. O PC da China passou por momentos de dificuldades. Seus primeiros passos foram orientados pelo Komintern (Internacional Comunista sediada em Moscou que orientava os Partidos Comunistas do mundo inteiro). No final da Segunda Guerra Mundial o PC da China derrotou o KMT. Mao Tse Tung implantou a sua interpretação ortodoxa do marxismo-leninismo, durante as quase 3 décadas em que esteve no poder. Empreendeu a chamada "Revolução Cultural", com que tentou laicizar todo o estado e população chinesa. Hoje o Partido Comunista da China é composto de mais de 87 milhões de militantes. (Nota da IHU On-Line)
[43] Dani Rodrik (1957): economista e professor universitário turco. Nascido em Istambul, formou-se no Robert College de sua cidade natal. É professor no Rafiq Hariri de Política Econômica Internacional na Escola de Governo John F. Kennedy da Universidade de Harvard, onde leciona no programa de Master de Administração Pública (MPA). De acordo com o IDEAS/RePEc, Rodrik é considerado um dos 100 economistas mais influentes do mundo. (Nota da IHU On-Line)
[44] Francisco Anacleto Louçã (1956): economista e político português. Foi coordenador do Bloco de Esquerda de 2005 a 11 de novembro de 2012, tendo sido sucedido no cargo por Catarina Martins e João Semedo. (Nota da IHU On-Line)
[45] António de Oliveira Salazar, Oliveira Salazar ou simplesmente Salazar (1889-1970): foi um ditador nacionalista português que, além de chefiar diversos ministérios, foi presidente do Conselho de Ministros e professor catedrático de Economia Política, Ciência das Finanças e Economia Social da Universidade de Coimbra. Doutor Honoris causa, em 1940, pela Universidade de Oxford. Figura de destaque e promotor do Estado Novo (1933-1974) e da sua organização política, a União Nacional, Salazar dirigiu os destinos de Portugal como presidente do Ministério de forma ditatorial entre 1932 e 1933 e como Presidente do Conselho de Ministros entre 1933 e 1968. Os autoritarismos e nacionalismos que surgiam na Europa foram uma fonte de inspiração para Salazar em duas frentes complementares: a da propaganda e a da repressão. (Nota da IHU On-Line)