Estamos vivendo um tempo de inúmeras chamadas para o debate e a responsabilidade ambiental.
O novo milênio iniciou com a apresentação de oito objetivos pela Organização das Nações Unidas – ONU, em vista de melhoria radical da vida societária. Um deles diz respeito à qualidade de vida e respeito ao meio ambiente. É um dos Objetivos do Milênio – ODMs mais debatidos, porém com ainda limitados resultados nos diferentes lugares do planeta.
Em 2010 a cineasta Franny Armstrong deu vistas às suas preocupações ambientais através do filme “A era da estupidez” e idealizou a Campanha 10:10, como uma forma de mobilizar as pessoas para ações positivas contra as mudanças climáticas. A partir de pequenas práticas: utilizar transporte coletivo, usar lâmpadas mais econômicas, reduzir o uso do ar condicionado, consumir alimentos produzidos na região, propõe a redução de 10% da emissão do carbono no planeta.
A Semana Mundial da Água, que é celebrada em março, apresenta a chamada de alerta não só para os problemas que afetam a escassez, a poluição, a degradação das fontes, dos rios, dos mananciais, mas também, para provocar o debate sobre a responsabilidade humana para conservação deste elemento primordial à vida humana.
O mundo já está mobilizado para, no próximo mês de junho na cidade do Rio de Janeiro, participar da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20, assim como da Cúpula dos Povos, que retomarão os compromissos assumidos há 20 anos através da RIO-92 e apontarão novos desafios para a garantia da sustentabilidade da vida planetária. Estado e sociedade civil estão chamados à responsabilidade com a vida do planeta, que é construído a partir de relações sociais, culturais, políticas e econômicas.
Estas ações apontam o desafio de conhecer e analisar melhor a realidade ambiental da região do Vale do Sinos. De imediato, é possível perceber que convivemos com problemas ambientais antigos, cujas soluções ainda são aguardadas. Às situações antigas como o desmatamento e a degradação do solo pelo uso intensivo de agrotóxicos somou-se a falta de tratamento, ou índices muito baixos de tratamento, de esgoto dos domicílios, ou ainda a poluição por resíduos industriais afetando a qualidade e a quantidade de água do Rio dos Sinos. Isto sinaliza que a presença humana hoje está intimamente ligada à vida ou à morte do Rio dos Sinos.
O quadro abaixo revela o quanto a população depende do Rio dos Sinos no Vale, bem como o quanto o Rio dos Sinos depende da população, das políticas públicas e também das atividades industriais.
Os indicadores apontam que 74,89% da população destes municípios estão vinculados diretamente à vida do Rio dos Sinos. Seja pela água que consome seja por aquilo que devolve ao mesmo rio, em forma de despejos industriais, agropecuários, esgoto e toda a sorte de poluentes. A mão dupla da relação indica que a vida humana e a vida do Rio dos Sinos estão interligadas.
Em relação à demanda bioquímica de oxigênio (DBO), que avalia o oxigênio dissolvido em miligramas, equivalente à quantidade que será consumida pelos organismos aeróbicos ao degradarem a matéria orgânica lançada nos rios, nota-se que, em termos de cargas poluentes, as atividades de origem doméstica (esgoto) superaram as atividades industriais e agropecuárias, indicando ultimamente como principal fonte poluidora.
As atividades industriais mais poluidoras da região se encontram nos municípios de Estância Velha, Novo Hamburgo, Portão, São Leopoldo e Sapucaia do Sul. Contudo, os indicadores revelam que a qualidade das águas do Rio dos Sinos está, sobretudo, comprometida pelo esgoto e dejetos (despejos domésticos) lançados no rio. Tal situação compromete tanto a qualidade das águas do Rio dos Sinos, quanto também, sua capacidade de vazão.
O Comitê Sinos disponibiliza em seu sítio eletrônico, os níveis diários do Rio dos Sinos, medidos em pontos estratégicos. Essa informação possibilita uma aproximação com a realidade e o monitoramento dos movimentos de superação das dificuldades a ela implicadas.
O quadro abaixo, adotando uma classificação que decresce de “excelente a muito ruim” revela graus críticos referentes à qualidade do Rio dos Sinos em trechos que vão das nascentes à foz do rio.
O gráfico acima indica que das nascentes à foz, vem decaindo a qualidade das águas do Rio dos Sinos chegando a indicar situações que vão de ruim a regular em municípios como Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, Portão e Canoas, no ano de 2011.
A partir de todos estes indicadores, percebe-se, a relação indissociável entre a vida da região dos Sinos, seus cidadãos, municípios e Rio dos Sinos. Como se percebe, no Vale do Sinos, a vida humana está intimamente condiciona à vida do rio e vice-versa. No entanto, o rio que “mata a sede e gera vida” vem sendo, nestes últimos 20 anos, ostensivamente condenado à morte. Do desmatamento das encostas aos dejetos domésticos ou industriais, a questão da água na região ganha dimensões de uma grave questão sócio-ambiental.
Por outro lado, as políticas voltadas para a “saúde” do Rio dos Sinos, refletem claramente um campo de disputa de interesses ou de projetos. De um lado a sustentabilidade que ultrapassa as questões dos programas políticos pontuais e de outro a (ir)racionalidade de muitas atividades industriais e mesmo agrícolas, onde não se leva em conta as demandas ambientais e sociais. Quanto à responsabilidade do Poder público muitas das demandas desbordam nas questões orçamentárias. E aqui, outra questão é justamente perceber a destinação dos orçamentos públicos, os interesses em jogo, a questão da corrupção administrativa e da troca de favores.
Em ano eleitoral, as questões ambientais e principalmente as propostas vinculas à realidade do Rio dos Sinos devem fazer parte dos debates. As políticas voltadas para a questão ambiental, mais do que nunca, devem figurar nas agendas dos gestores municipais, no legislativo e nas práticas da sociedade civil. Trata-se de uma responsabilidade compartilhada. São compromissos de cidadania que vão das atitudes individuais e coletivas, de um lado, às políticas governamentais que se querem democráticas, de outro.
O ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, tem o compromisso de divulgar, sistematizar, analisar diversos indicadores da realidade da região do Vale do Sinos em seus quatorze municípios. Dentro da página do programa tem disponibilizado indicadores que ajudam a entender tal realidade e que podem servir como importante instrumento de debate. Participe, acesse.