Semana passada foram divulgados os primeiros dados sobre o mercado de trabalho formal do ano de 2020. O Ministério da Economia havia interrompido a divulgação no final de março, deixando disponível apenas os dados de 2019. A alegação era que os empregadores não estavam repassando as informações para o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados - CAGED.
O Brasil fechou 1,1 postos de trabalho entre o mês de março e abril de 2020. O resultado em abril foi ranqueado pelos estados de São Paulo (-260.902), Minas Gerais (-88.298), Rio de Janeiro (-83.626) e Rio Grande do Sul (-74.868). No acumulado do ano, o resultado totaliza o encerramento de 763.232 postos de trabalho. Os setores de serviço e comércio foram os que mais desligaram trabalhadores, indicando maior exposição à crise do coronavírus.
A Região Metropolitana de Porto Alegre fechou 43,6 mil postos de trabalho entre o mês de março e abril. No acumulado de 2020, o número de postos fechados ficou em 35,6 mil. Na série histórica apresentada abaixo, iniciada no ano 2000, o resultado negativo mais próximo foi na crise de 2015, quando foram fechados 49,7 mil postos de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Tais dados expõem a gravidade das crises contemporâneas geradas no mercado de trabalho formal. Apenas 45 dias de pandemia representou um saldo negativo da mesma magnitude do ano inteiro de 2015. A capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, fechou 16,8 mil postos de trabalho entre março e abril de 2020. No acumulado do ano, quando são incluídos os meses de janeiro e fevereiro, o resultado fica negativo em 15,9 mil.
O ano de 2010 foi aquele que teve o melhor saldo no mercado de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre. Foram criados mais de 75 mil novos postos de trabalho. Neste ano, a economia brasileira cresceu 7,5%, encerrando o período do “milagrinho brasileiro”. A partir de 2011, início da desaceleração econômica, por fatores internos e externos, o mercado de trabalho passou a ter saldo decrescente na criação de vagas de trabalho formal.
Nesse período de desaceleração, a taxa de desocupação continuou caindo na Região Metropolitana de Porto Alegre, em 2014, chegando em 5,3%. Uma das menores registrada pela série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD. Tal fato deve ser considerado pela redução na criação de novos postos de trabalho, pois a massa de postos de trabalho aumentou em 58 mil entre 2011 a 2014, reduzindo-se em quase 10% posteriormente.
Com a entrada do país na crise, foram 3 longos anos sem criação de novos postos de trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre. Somente em 2018 foram criados novos postos, significando apenas 66 novas vagas.
E a criação de postos de trabalho em 2019 também mostrou uma frágil recuperação do mercado de trabalho. A melhora no mercado de trabalho justifica-se pela contratação dos trabalhadores intermitentes, medida aprovada em 2017. Dos 4,9 mil postos de trabalho criados, pouco mais de 3 mil foram nesta nova modalidade. Isso significa que 61% das contratações em 2019 foram intermitentes, sendo 1,9 mil trabalhadores contratados na modalidade não intermitente.
Quase metade desses trabalhadores intermitentes ganhavam 2 salários mínimos desempenhando atividades principalmente nos setores de serviços e comércio, especificamente em atividades ligadas a alojamento, alimentação, reparação e manutenção. Mais de 30% deles tinha até ensino médio incompleto, compostos majoritariamente pela faixa etária de idade entre 18 a 24 anos.
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