Como os dados apontam, durante a pandemia do novo coronavírus, houve uma queda no número de alunos jovens de 55,8 mil do primeiro trimestre de 2020 para o mesmo período de 2021 na Região Metropolitana de Porto Alegre. Para além da evasão escolar, é importante também atentar-se para os jovens em situação de desalento, ou seja, aqueles que desistiram de procurar trabalho. O aumento foi de 89,4% durante a pandemia, saindo de 9,6 mil para 18,2 mil, representando 38,9% dos desalentados.
Eis o artigo completo.
Conforme os dados a seguir demonstram, durante a pandemia do novo coronavírus, houve uma queda no número de alunos jovens de 55,8 mil do primeiro trimestre de 2020 para o mesmo período de 2021. Isso pode apontar para o crescente desinteresse por parte dos jovens em estudar, determinado pelas dificuldades de acesso ao ensino e por um conjunto de expressões de desigualdades sociais presentes na sociedade brasileira, que foram potencializadas pelo impacto da pandemia da Covid-19 na vida e na realidade da população.
Em uma publicação do primeiro trimestre do ObservaSinos, com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP, pode-se observar queda pequena no ensino regular. Entretanto, os números apontam uma queda de 6,2% na Educação para Jovens e Adultos - EJA. Antes da pandemia, em 2019, eram 58,1 mil alunos matriculados na EJA, enquanto no primeiro ano da Covid-19, em 2020, o número caiu para 54,5 mil.
De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, do primeiro trimestre de 2021, a Região Metropolitana de Porto Alegre possui 158,8 mil jovens entre 15 e 29 anos que não estudam e nem trabalham, ou seja, estão sem estudo e sem trabalho. Em 2020, no primeiro trimestre, portanto, um ano atrás, havia 197,2 mil jovens nessa condição. A diminuição deve-se ao aumento de 78,5% daqueles que querem trabalhar, mas não acham emprego.
O perfil dos jovens é composto por 54,4% mulheres e 45,6% homens. 60,2% são filhos; 15,4% são chefes de família e 9,8% são cônjuge ou companheiro(a). A faixa etária com maior número de jovens que estão sem estudo e sem trabalho é de 23 anos, concentrando 19,9 mil. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, os que deveriam estar no ensino médio representam mais de 10%, sendo 2 mil jovens de 16 e 17 e 15,5 mil com 18 anos que não estão inseridos no mundo do trabalho e no mundo da educação.
Juventude em situação de desalento
Para além da evasão escolar, é importante atentar-se para o desalento, uma categoria definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, que diz respeito àqueles que desistiram de procurar trabalho. As mulheres sempre foram a maioria das desalentadas desde o início da pesquisa, representando mais de 60%. No primeiro ano da pandemia, houve um crescimento de 170,1% de mulheres em relação ao ano de 2019.
Na Região Metropolitana de Porto Alegre antes da pandemia, eram 19 mil pessoas desalentadas. Com os dados do primeiro trimestre de 2021, o número disparou para 47,1 mil pessoas nesta situação. No caso específico dos jovens, o aumento foi de 89,4% durante a pandemia, saindo de 9,6 mil para 18,2 mil, representando 38,9% dos desalentados.
A juventude em questão
Os dados apresentados acima fazem parte do estudo “Mundo do trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre” desenvolvido pelo Observatório do Vale do Rio dos Sinos e o Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas. Todos os artigos produzidos podem ser acessados na página especial da pesquisa, que tem o objetivo de acompanhar os dados do trabalho e dos trabalhadores durante a pandemia do novo coronavírus.
Como parte integrante da pesquisa, no mês de agosto aconteceu a webinar “Mundo do Trabalho na Região Metropolitana de Porto Alegre: um olhar na/para/com a juventude.” O evento contou com a presença dos professores Giovani Scherer - UFRGS e Maurício Perondi - UFRGS.
Scherer chama atenção que a explosão do desalento reflete “em outro mercado de trabalho que muitas vezes a gente não olha, que é invisível, mas que tem contratado muito jovens, principalmente os jovens de realidades periféricas. Esse mercado é chamado de tráfico de drogas, que cada vez cresce mais na realidade gaúcha.”
Para o professor, esse debate tem a relação “com o debate de violência estrutural que assola a juventude. Inclusive para perceber por que a Região Metropolitana de Porto Alegre é uma das regiões do país que mais aumenta o índice de mortalidade juvenil nos últimos 10 anos. A gente tem um aumento maior que cidades como Rio de Janeiro e São Paulo” finaliza Giovani.
Perondi lembra que há um grande interesse da juventude pelo mundo do trabalho na visão dos próprios jovens, com base em pesquisas realizadas. Outro ponto destacado pelo professor diz respeito ao termo “nem-nem”, ou seja, nem-estudam e nem-trabalham assumiu uma conotação negativa. “Até em função dessa conotação, tem se utilizado a expressão sem-sem, ou seja, sem estudo e sem trabalho”, pontua.
Professor lembra que muitos jovens da Restinga, de Porto Alegre, não possuem carteira de trabalho. “Se não fosse o equipamento público, essa política pública presente, esses jovens não saíram da Restinga, há 25 km do centro de Porto Alegre, para pagar uma passagem para fazer a carteira de trabalho.” É citando esse exemplo que Perondi lembra das inúmeras questões que envolvem as realidades juvenis, muitas vezes simplificadas por “não trabalha porque não quer”.
Acesse aqui a pesquisa completa apresentada na webinar.
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