A pandemia do coronavírus ganha outros grupos em situação de risco em muitos países que vivem a pobreza e as desigualdades sociais. Esta população é moradora das ruas e das periferias urbanas, vive em moradias precárias, sem água, sem saneamento, sem renda. O isolamento determina uma série de condições que passam a ser indicadoras de progressão da doença, ao invés de sua contenção.
O Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, apresenta dados sobre esses temas para a Região Metropolitana de Porto Alegre, que revelam as situações de vulnerabilidade e risco social, ainda anteriores ao novo vírus, e que com ele fica ainda mais cronificada.
Eis o texto.
Moradia e habitabilidade
Com uma população de aproximadamente 4.212.260 habitantes em 34 municípios, a Região Metropolitana de Porto Alegre registrou em 2017 uma média de três pessoas por moradia. A região possuía uma densidade demográfica de 429 pessoas por quilômetro quadrado (km²) no mesmo ano, número este 6,4% maior se comparado com o registro de 2010. Em relação ao número de moradias, a região contabilizou 1.560.933 em 2017, deste número, 98% se localizava na zona urbana.
A Região Metropolitana de Porto Alegre registrou 9 mil pessoas ou 0,6% da população com ausência de banheiro de uso exclusivo do domicílio. No mesmo ano 2,3% dos habitantes ou cerca de 34 mil pessoas residiam em uma casa com paredes externas construídas predominantemente com materiais não duráveis, 58 mil habitantes ou 3,9% da população viviam em domicílios com adensamento excessivo (3 moradores por dormitório), 3,6% ou mais de 53 mil pessoas moravam em domicílios que apresentavam ônus excessivo com aluguel (iguala ou supera 30% da renda domiciliar) e 8,8% ou 130.680 pessoas com ao menos uma inadequação de moradia.
Água e saneamento
Entre 2016 e 2017, de acordo com o Trata Brasil, o número de pessoas que não recebia água com regularidade adequada aumentou de 50.354 para 92.670, isto é, um aumento de 84% em apenas um ano. Para o último ano analisado, 6,5% da população ou 275.505 moravam em domicílios sem acesso à água tratada; esse número já chegou a 486.754 em 2010. A região ainda possui 2.464.631 domicílios sem acesso ao serviço de coleta de esgoto, o que significa 58,5% da população da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Em relação à água, Porto Alegre, por exemplo, registrou um índice de perda em sua distribuição de 28,46% em 2017 devido a vazamentos, erros de leitura dos hidrômetros, furtos, entre outros fatores. Isto significa que, para cada 100 litros de água captada, tratada e pronta para ser distribuída, 28,46 litros ficaram pelo caminho. Este desperdício, além de causar ineficiência na cobertura populacional do serviço, fez com que a capital do Rio Grande do Sul deixasse de arrecadar 36% a mais em 2017.
Saúde
Apesar da diminuição de internações por doenças associadas à falta de saneamento, a Região Metropolitana de Porto Alegre registrou 1.975 internações (média de 5,4 por dia) em 2017. Dentre elas, 1.802 eram por doenças gastrointestinais infecciosas. As internações por leptospirose passaram de 114 para 155 entre 2010 e 2017.
A maior parte das internações ocorre com a população entre 0 e 4 anos e com aqueles com idade acima dos 60 anos na metrópole de Porto Alegre. Quase metade das internações ocorreu com essas faixas etárias em 2017. Os dados ainda mostram que 45,2% das internações por doenças associadas à falta de saneamento ocorreram pela população feminina.
Investimento e desemprego no saneamento
A queda de 66% na renda gerada pelos investimentos em saneamento entre 2010 e 2017 na Região Metropolitana de Porto Alegre indica o desligamento de mais de 6 mil cidadãos das atividades ligadas a esta política ao longo deste período. Estes dados constituem indicadores urgentes para os planejamentos nas três esferas de governo para a garantia da proteção desta população ao coronavírus e, ao mesmo tempo, enfrentamento aos seus determinantes, que são históricos no Brasil.
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