Para potencializar as análises das realidades, seus avanços ou recuos, tornam-se fundamentais as problematizações. A informação é que permite à população acompanhar o desempenho de importantes números. Um dos objetivos do ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, é auxiliar no acesso aos dados e questões relevantes. A publicação analisa o percentual da população idosa vacinada na Região Metropolitana de Porto Alegre até a última terça-feira (08).
Eis o artigo.
Idosos vacinados contra Covid-19
O Rio Grande do Sul reúne a segunda maior taxa de idosos do Brasil, representando 12,9% da sua população. Além disso, o percentual desse grupo na Região Metropolitana de Porto Alegre é de 10,7%, apresentando a segunda maior taxa do país.
Devido a isso, vários cientistas vêm buscando compreender a realidade desse grupo de risco. Em meio à pandemia provocada pelo novo vírus Sars-CoV-2, causador da doença Covid-19, há alguns grupos que são mais afetados por ele. Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS, a população idosa tende a desenvolver um quadro mais severo da doença e tem uma maior taxa de letalidade.
De acordo com o Monitoramento da Imunização Covid-19, na Região Metropolitana de Porto Alegre, foram aplicadas 890,3 mil doses de vacinas na população idosa acima de 65 anos, sendo 473,7 mil na primeira dose e 416,6 mil na segunda dose. Com aproximação feita com os dados do Departamento de Economia e Estatística, podemos indicar que na média geral, 96,4% da população acima de 65 foi vacinada com uma dose e 84,4% já foi vacinada com a segunda dose contra Covid-19.
Com isso, Araricá é o município com maior imunização de idosos acima de 65 anos na primeira dose, chegando a 133%. O município com a menor imunização desse grupo é Capela de Santana, com percentual abaixo de 80%. A capital do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, vacinou até terça-feira (8) 95,9% da população analisada.
Em relação à segunda dose da vacina contra Covid-19, Araricá também é destaque, sendo o município que mais cumpriu o ciclo completo da imunização (106,3%). O município com o menor percentual da população idosa vacinada na segunda dose é Glorinha, com 16,2%, a partir da metodologia realizada para fazer o levantamento.
Chama a atenção os municípios do Vale do Sinos serem os que mais vacinaram a população idosa acima de 65 anos. Quase todos os municípios tiveram percentuais acima de 100% na primeira dose, alguns fatores podem serem levantados para explicar. Um pode ser a população do Vale do Sinos estar se vacinando nos municípios vizinhos da região. Outra mais provável é a limitação dos dados atual da população por faixa etária do Rio Grande do Sul ir até o ano de 2019.
Breve explicação da metodologia realizada
Para se chegar no percentual da população idosa vacinada foi necessário fazer o cruzamento com duas bases de dados públicas diferentes. A primeira foi do Monitoramento da Imunização Covid-19, local que reúne todas as informações sobre o coronavírus no Rio Grande do Sul. No entanto, para saber o percentual da população idosa acima de 65 anos, é necessário usar as projeções populacionais dos municípios por faixa etária, disponibilizado apenas pelo Departamento de Economia e Estatística até o ano de 2019.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE divulga apenas o número absoluto da população nas suas projeções anuais. Com isso, o dado mais aproximado da população por faixa etária, no Rio Grande do Sul, é das projeções do Departamento de Economia e Estatística. Para termos o número mais exato da população e por faixa etária, é necessária a realização do Censo Demográfico a cada dez anos.
Acesse aqui os dados da vacinação na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Importância dos dados para políticas públicas
A pesquisadora da Fundação Osvaldo Cruz - Fiocruz, Dalia Romero, lembra que estamos trabalhando com esse dado de 2010 para a distribuição de vacinas contra a Covid-19. Para ela, não estamos conseguindo identificar com clareza qual é efetivamente o crescimento da população dos municípios. “O plano de vacinação está nos mostrando – não gosto de falar de erros, porque em estatística a gente fala em margem de erro – que cometemos erros não por falta de ciência, mas sim por falta de Censo”, aponta Dalia.
É importante citar então as dificuldades pelo qual o trabalho de coleta e reunião de dados têm passado nos últimos anos por pesquisadores e demais agentes empenhados no planejamento, monitoramento, avaliação e controle social das políticas públicas. Decisões políticas justificadas pela falta de recursos públicos são usadas para a desconstituição de bases de dados, a não realização de pesquisas estratégicas, como o Censo Demográfico de 2020. São ainda acrescidos cenários de sucateamento e descrédito das instituições de pesquisa e das informações produzidas.
Idosos em desalento
Desde 2012, quando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD começou a ser realizada, as mulheres foram a maioria das desalentadas na Região Metropolitana de Porto Alegre, representando 60,7% em 2020. No primeiro ano da pandemia, houve um crescimento de 170,1% em relação ao ano de 2019. Enquanto isso, para os homens, o aumento foi de 75,8% em um ano.
No entanto, o número de idosos em desalento diminuiu de 6 mil para 5,7 mil. Ainda assim, representavam 13,4% em 2020, sendo que em 2019 esse percentual era de 31,6%. Essa redução pode estar relacionada à queda da renda das famílias, fazendo com que eles retornem ao mercado de trabalho para repor a parcela perdida durante a pandemia.
Não por acaso o aumento do desligamento de trabalhadores por morte de idosos aumentou 119,2% na Região Metropolitana de Porto Alegre. Com a pandemia, e a não possibilidade de conseguir realizar atividades por home office, ampliou-se a exposição, e com isso o aumento de desligamento por morte. É o caso do assistente administrativo, auxiliar de escritório, faxineiro, motorista de ônibus e porteiro de edifício.
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