Regiao Metropolitana de Porto Alegre: A desigualdade de renda continua alta

  • Quinta, 16 de Abril de 2015

O Observatório da Realidade e das Políticas Públicas do Vale do Rio dos Sinos - ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, reúne, sistematiza e publiciza os indicadores socioeconômicos dos municípios do Vale do Sinos - VS e da Região Metropolitana de Porto Alegre - RMPA, com o objetivo de promover a análise sobre as realidades e as políticas públicas desses territórios.

Os indicadores são acessados em bases públicas de acesso universal e se apresentam como ponto de partida para os debates sobre as realidades. Temas relacionados aos direitos, desenvolvimento, crescimento e desigualdades são constitutivos deste debate.

Reconhecer os indicadores simples e compostos construídos para caracterizar estes conteúdos pode instrumentalizar as análises e intervenções nas realidades.

Nesta análise estão apresentados e relacionados os indicadores de renda, que são o PIB per capita – Produto Interno Bruto per capita, indicador usado desde 1948 com o intuito de medir a produção de riqueza em razão da população, e o Índice de Gini – desenvolvido em 1912 por Corrado Gini para medir a desigualdade de renda. O primeiro é analisado para os anos de 2000 e 2010, conforme o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Já o segundo refere-se aos anos de 2009 a 2012, conforme divulgação da Fundação de Economia e Estatística - FEE.

É importante ressaltar que o Índice de Gini é usado para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo populacional e varia de 0 a 1, onde 0 significa total distribuição de renda (todas as pessoas de determinada população possuem a mesma renda) e 1 significa total concentração de renda (apenas uma pessoa possui toda a renda). Entretanto, este índice apenas avalia a concentração de renda, ou seja, se um município apresentar índice de concentração baixo não significa necessariamente que este apresente um bom desenvolvimento socioeconômico.

O PIB per capita se dá pela divisão do Produto Interno Bruto de determinado território pela sua população. Segundo o IBGE, o PIB é conceituado da seguinte forma: “Produto interno bruto é o total dos bens e serviços produzidos pelas unidades produtoras residentes e destinados ao consumo final sendo, portanto, equivalente à soma dos valores adicionados pelas diversas atividades econômicas acrescida dos impostos, líquidos de subsídios, sobre produtos”.

Desse modo, é possível afirmar que o Índice de Gini e o PIB per capita não possuem correlação direta, mas tornam-se complementares na análise da realidade.

Índice de Gini

O Índice de Gini da Região Metropolitana de Porto Alegre para 2010 foi de 0,5678. As tabelas 01 a 04 apresentam o Índice de Gini para os diversos municípios da RMPA. Os municípios estão divididos segundo seu porte populacional: 


As tabelas contêm o Índice de Gini para os anos de 2000 e 2010 e apresentam a variação deste de um ano para o outro. Além disso, é apresentada a média para os municípios apresentados em cada porte populacional. Neste quesito, é importante destacar que a média é formada pela soma dos índices e pela divisão da quantidade de municípios somados e não representa o valor real (o valor real seria aquele em que se somaria a população e a renda da região – dos diversos municípios – e a partir disso, formular-se-ia o Índice) para o Índice de Gini da região.

Na tabela 01 são apresentados os municípios de pequeno porte I da RMPA. Neste, a média do Índice para os municípios é o menor dentre os 4 portes populacionais, onde o Índice ficou em 0,3940 no ano de 2010. Além disso, os municípios de pequeno porte I apresentaram a maior queda no Índice, de -0,0621.

O melhor resultado nestes municípios – e também na RMPA – ocorreu em Nova Hartz e em Rolante, onde o Índice de Gini ficou em 0,3518. Já em 2000, Nova Hartz havia apresentado um valor próximo de 0,3799. Rolante obteve uma queda de -0,0754 no Índice de desigualdade de renda no período. Apenas Glorinha apresentou uma queda maior, de -0,1035. O município passou de 0,526 em 2000 para 0,4225 em 2010, mas ainda continua acima da média deste grupo de municípios.

A tabela 02 apresenta o Índice para os municípios de pequeno porte II. Dentre os portes populacionais, este passou de 3º para 2º de 2000 a 2010. Em 2000 apresentou a média de 0,5057 e em 2010 passou para 0,4500, com uma redução de 0,0557 (a 2ª maior redução).



Todos os municípios de pequeno porte II apresentaram reduções em seus Índices. O menor recuo ocorreu em Dois Irmãos, onde houve queda de 0,007. Mesmo possuindo a menor queda, o município mantém o melhor Índice. Em 2000 apresentou 0,3902 e em 2010 foi para 0,3832.

O segundo melhor índice de 2010 é o de Estância Velha (0,4308). Em 2000, o município apresentou 0,4504. Com isso, o recuo no período foi de 0,0196, sendo, portanto, o quarto menor recuo destes 12 municípios.

Um importante avanço ocorreu em São Sebastião do Caí e Triunfo. Ambos os municípios apresentaram os maiores recuos de 2000 para 2010. O primeiro obteve um Índice de 0,5546 em 2000, que recuou para 0,4431 (um recuo de 0,1115), sendo o segundo município da RMPA com o maior recuo.

O resultado de Triunfo neste período foi ainda melhor, com um recuo de 0,1192, sendo o maior recuo no período entre todos os municípios da RMPA. Com isso, o Índice em 2010 ficou em 0,4441, ficando abaixo da média dos municípios de pequeno porte II.

A tabela 03 mostra o Índice para os municípios de médio porte. Este grupo apresentou uma queda de 0,0385 de 2000 para 2010. Em 2010, o índice ficou em 0,4582.

O melhor resultado ocorreu em Parobé, no qual o Índice chegou a 0,3789 em 2010, com um recuo de 0,027. O município continua com uma larga diferença para com os demais deste porte.

Mas o maior recuo ocorreu em Montenegro. O município obteve uma variação de -0,0564 de 2000 para 2010. Porém, nos dois anos, registrou o maior Índice deste grupo de municípios. Em 2000 o município apresentou 0,5648 como índice e com isso obteve o terceiro pior resultado na RMPA. Já em 2010, o Índice de 0,5084 deixou o município com o sexto pior Índice.

Sapiranga também apresentou um recuo elevado, com redução de 0,0562. Em 2010 registrou o segundo melhor Índice para este grupo, com 0,4162.

A tabela 04 exibe o Índice para os municípios de grande porte e a metrópole (Porto Alegre). Neste grupo de municípios ocorreu o menor recuo, com variação de -0,0157. Além disso, houve a maior média dos Índices, com 0,4991 em 2010.


Os municípios de grande porte estão entre os mais desiguais ao compararmos a renda. Apenas a metrópole tem resultado pior. Dos 5 municípios com a maior desigualdade, estão 4 municípios deste grupo (3 de grande porte e a metrópole), além de um de pequeno porte II.

Porto Alegre, além de apresentar o pior resultado dentre todos os municípios, foi o único que apresentou variação positiva em seu Índice, ou seja, obteve um aumento de desigualdade de renda em seu território. Em 2000, o Índice era de 0,6056, enquanto passou para 0,6144 em 2010, representando um aumento de 0,0088.

Dos outros 8 municípios, 6 apresentaram recuo de 0,01. O maior recuo foi em Cachoeirinha, com 0,0352. O município apresentou um Índice de 0,4495 em 2010, possuindo, portanto, o segundo melhor Índice deste grupo de municípios.

O melhor Índice foi o de Alvorada, que ficou em 0,4423. O recuo de 2000 para 2010 foi de 0,0124. O município é o 14º menos desigual dentre os 34 da RMPA.

A tabela 05 apresenta a classificação dos municípios da RMPA conforme o Índice de Gini para o ano de 2010.


Nota-se que a maioria dos municípios bem posicionados é de pequeno porte I e II, enquanto a maior parte dos mal posicionados é de grande porte. Assim, considera-se que os municípios com menores populações apresentam os melhores Índices de Gini na RMPA.

Outro aspecto que se pôde abordar é que a maioria dos municípios com maior desigualdade (índices mais próximos de 1) reduziu mais – maior variação negativa – seu índice que os municípios que já apresentavam índices menores (mais próximos de 0). Entretanto, Porto Alegre seguiu na contramão deste raciocínio.

Mapa da RMPA - Índice de Gini


PIB per capita


O PIB per capita da RMPA em 2010 foi de R$ 28.282,12, enquanto em 2012 saltou para R$ 29.268,30. As tabelas 06 a 09 apresentam o PIB per capita nos diversos municípios da RMPA. As tabelas abrigam os municípios conforme seus portes populacionais. O PIB per capita a que esta análise se refere é o nominal, ou seja, com a variação da inflação incluída em seu valor final.

A tabela 06 apresenta o PIB per capita dos municípios de pequeno porte I. Neste, é possível observar que o PIB apresentou alta considerável de 2010 a 2011. Neste período, apenas Capela de Santana apresentou baixa do PIB per capita nominal.



De 2011 para 2012, apenas Nova Hartz apresentou queda em seu valor. Mas o município continuou sendo o segundo com o maior PIB per capita deste grupo. A distância percentual entre Nova Hartz (2º) e Glorinha (1º) aumentou de 2011 para 2012, passando de uma proporção de 24% para 45%.

Neste período, o maior aumento percentual foi observado nos municípios com o menor PIB per capita. Arroio dos Ratos apresentou um aumento de 2% de 2010 para 2011. Mas de 2011 para 2012 esse aumento passou para 10%, ficando apenas atrás do aumento de Glorinha.

De 2011 para 2012, Glorinha obteve um acréscimo de 11% em seu PIB per capita e distanciou-se dos demais municípios deste grupo. No período, o município obteve crescimento de 12% (apenas 1% de 2010 para 2011).

Os municípios – em geral – cresceram variavelmente mais seu PIB per capita em um ano que em outro. Araricá foi um caso à parte. O município apresentou um aumento de 9% de 2010 para 2011 e um aumento muito próximo de 8,75% de 2011 para 2012.

Outro município que apresentou uma alta considerável no período foi Rolante, com 14%. Em 2012, o PIB per capita alcançou os R$15.596,00.

A tabela 07 exibe os municípios de pequeno porte II com seu PIB per capita. Este grupo de municípios apresentou uma queda de 2010 a 2011 e obteve a perda restabelecida em 2012. Ainda assim a média do PIB per capita desse grupo de municípios é o maior dentre todos os 4 grupos, muito devido ao município de Triunfo.



Triunfo obtém o maior PIB per capita dentre todos os municípios da RMPA. Além disso, é de se considerar que qualquer variação no valor deste município afeta diretamente a média do PIB deste grupo de municípios.

O município obteve uma queda de 10% de 2010 para 2011. Este grupo de municípios apresentou queda de 9,5% no mesmo período. De 2011 a 2012, o município obteve aumento de 1%, enquanto a região apresentou acréscimo de 6%. Em 2012, o PIB per capita alcançou os R$ 230.484,00.

Após Triunfo, o segundo maior PIB é o de Nova Santa Rita, de R$ 32.590,00 em 2012. De 2012 para 2011 foi registrado um aumento de 21%, enquanto um ano antes o aumento foi de 4%. Em todo o período, o município obteve um aumento de 27%.

Assim como no grupo de municípios anterior, neste alguns apresentaram queda em seu PIB per capita. São eles: Charqueadas, Eldorado do Sul, Estância Velha, Ivoti, Portão e, já citado anteriormente, Triunfo, totalizando 6 dos 12 municípios.

Os casos mais regressivos ocorreram em Estância Velha e Portão. Os municípios vizinhos apresentaram um PIB per capita menor em 2012 do que em 2010. O primeiro destes – Estância Velha – apresentou um decréscimo ínfimo que nem atingiu 1%. Já o segundo – Portão – teve uma queda muito mais acentuada, chegando aos 9%.

Ivoti apresentou um caso interessante. De 2010 para 2011 o PIB per capita do município estagnou – com uma queda quase imperceptível. Mas de 2011 para 2012 foi observado um aumento de 32%, o maior aumento do ano entre os municípios da RMPA.

A tabela 08 apresenta o PIB per capita para os municípios de médio porte. Este grupo de municípios possui o segundo menor PIB per capita e apresentou queda de 2010 a 2011 e alta de 2011 a 2012.



Em 2012, a média do PIB per capita para esses munícipios foi de R$ 23.694,29. Observa-se que há nesses municípios uma diferença notavelmente alta em seus PIBs per capita. Enquanto Esteio apresentou R$ 33.491,00, Parobé obteve apenas R$ 13.814,00 em 2012.

O município de Parobé apresentou altas consecutivas no período, mas continua com um PIB per capita muito baixo. O aumento foi de 10% no período.

Taquara obteve um aumento menor, de 7%. O município é o segundo com o menor PIB per capita desse grupo, mas também apresentou um aumento constante.

Nesse grupo, Campo Bom, Esteio, Montenegro e Sapiranga apresentaram recuo em seus valores em pelo menos um ano. Esteio apresentou um aumento de quase 12% de 2011 para 2012, mas em todo período seu PIB per capita cresceu apenas 5%.

A tabela 09 exibe o PIB per capita para os municípios de grande porte e a metrópole. Esse grupo representa o segundo maior PIB per capita dentre os grupos, mas, assim como outros dois grupos, apresentou queda em seu PIB per capita de 2010 para 2011 e alta de 2011 para 2012.



Essa região apresentou a maior diversidade entre os aumentos e as quedas. Alguns municípios cresceram substantivamente, enquanto outros obtiveram quedas sucessivas. Além disso, com estas variações os municípios aproximaram os seus valores.

Canoas apresentou queda de 14% de 2010 para 2011, enquanto de 2011 para 2012 registrou recuo de 5%. No período, a soma da perda do PIB per capita no município alcançou 18%. Houve uma perda de mais de R$ 10.000,00 no PIB per capita do município (a queda do município foi maior que o PIB de Alvorada).

Por sua vez, Alvorada possui o pior PIB per capita dentre os 34 municípios da RMPA e também o único que alcançou 2012 com o PIB per capita inferior a 10 mil reais. Por outro lado, o município apresentou um aumento de quase 15% no período, com uma variação maior de 2011 para 2012, onde foi registrada alta de quase 10%.

Viamão alcançou R$ 10.410,00 em 2012 e possui o terceiro menor valor na RMPA. O município obteve uma leve alta no período, de 13%, onde de 2011 para 2012 houve o maior aumento, de aproximadamente também 13%.

Cachoeirinha, Canoas, Gravataí, Sapucaia do Sul e Viamão são os municípios que obtiveram queda em seu PIB per capita em pelo menos um ano. Mas, além de Canoas, apenas Gravataí apresentou recuo no período, de aproximadamente 1%.

A seguir apresenta-se o Gráfico 02. Este busca demonstrar que há uma aproximação dos PIBs per capita dos diversos municípios de grande porte e a metrópole na RMPA.


É possível verificar que, com o recuo do PIB per capita de Canoas e o avanço de municípios como Alvorada, Viamão, Sapucaia do Sul e São Leopoldo, houve uma aproximação dos valores e a variabilidade média do conjunto em relação à média do PIB per capita desse grupo de municípios caiu.


Mapa RMPA – PIB per capita


O gráfico 01 relaciona o PIB per capita com o Índice de Gini. Cada ponto no gráfico representa um município. O eixo Y (0:60.000) representa o PIB per capita e o eixo X (0:0,7) representa o Índice de Gini. Além disso, há uma linha de tendência, que busca traçar um caminho central da relação entre os valores do gráfico. O município de Triunfo foi retirado do gráfico porque este prejudicava a visibilidade da relação que se procura mostrar, sendo, portanto, um total de 33 municípios.

Observa-se que esta linha tende a decrescer (altura em relação ao eixo X) conforme o Índice de Gini se torna maior, ou seja, segundo esta tendência, os municípios com Índice de Gini mais altos tendem a ter um PIB per capita menor.



Entretanto, apenas 6 municípios dos 33 apresentam Índices de Gini abaixo de 0,4. Destes, um possui PIB per capita abaixo de R$10.000, outros dois entre R$10.000 e R$20.000. Apenas 1 fica acima de R$30.000, enquanto os últimos dois situam-se entre R$20.000 e R$30.000. Desse modo, não é possível encontrar uma correlação precisa entre PIB per capita e Índice de Gini.

Porém, é possível constatar que os municípios com Índice de Gini de 0,5 ou superior situam-se preferencialmente no centro do gráfico e ocorre uma fuga das extremidades.

O município de Alvorada, que possui o menor PIB per capita (R$ 7.500) é também o único município entre os 7 que possuem os piores PIB per capita que obtiveram Índice de Gini inferior a 0,4.

Síntese

O Índice de Gini e o PIB per capita são indicadores importantes, mas não trazem à realidade alguns aspectos importantes.

O Índice de Gini pode ser igualitário (com índices baixos que mostrem baixa desigualdade de renda), mas isso não significa que o território é dotado de um PIB considerável, aqui há a possibilidade de o pouco PIB ser bem distribuído (Índice de Gini baixo, mas PIB per capita baixo também).

Por sua vez, o PIB per capita parece caminhar em direção contrária. Este constata que mesmo que uma economia apresente um PIB consideravelmente grande não há como se certificar de que a pobreza neste território seja menor (PIB per capita alto, mas Índice de Gini alto também).


Em relação aos números, observa-se que o PIB per capita apresentou uma alta no período na maioria dos territórios, entretanto esta alta não foi muito considerável. O Índice de Gini apresentou queda em 33 dos 34 municípios da RMPA.

Outra relação que é possível de ser feita é que os municípios com menor PIB per capita são os que apresentam maior alta, enquanto os com o maior PIB – em geral – apresentam queda ou estagnação.