Em meio aos desafios postos pela pandemia em curso, está a identificação e protocolos relacionados à vida da população em geral e aos grupos populacionais que apresentam maior risco. Entre os grupos prioritários estão os idosos, que exigem acompanhamento e definição de estratégias para a sua proteção. Conhecer as realidades dos idosos do estado e de Porto Alegre neste contexto de Covid-19 foi o propósito do Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos - Observasinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos - IHU, nesta nota.
Covid-19 e dados populacionais no Rio Grande do Sul
Nos últimos dados divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul em 14 de maio de 2020, foram registrados 2.997 casos confirmados e 120 óbitos, sendo assim, no estado o vírus teve uma letalidade de 4%.
Em relação ao perfil da população, observa-se que a maior parte dos infectados, 42% dos casos, estão na faixa etária entre 30 e 49 anos. Se forem incluídos neste grupo os jovens de 20 a 29 anos, a faixa etária de 20 a 49 anos passa a representar 57% dos casos no Rio Grande do Sul. A faixa etária de 50 a 59 anos representa 16% dos casos e os infectados de 60 anos ou mais representam 22%.
Entretanto o número de óbitos está mais elevado, dentro desses grupos de risco, nas faixas etárias de 60 a 80 anos e mais, representando 85,8% das mortes. Dos idosos com mais de 80 anos que contraíram o vírus, 41% vieram a óbito.
Covid-19 e os idosos
Em meio à pandemia provocada pelo novo vírus Sars-CoV-2, causador da doença Covid-19, há alguns grupos que são mais afetados por ele. Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS, a população idosa tende a desenvolver um quadro mais severo da doença e tem uma maior taxa de letalidade.
Devido a isso, vários cientistas vêm buscando compreender a realidade desse grupo de risco. Em uma pesquisa recente feita pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas - FGV Social, a fim de conhecer onde essas pessoas com maior risco estão localizadas, foi analisado o percentual das populações por UF que são enquadradas como grupo de idosos, sendo assim pessoas na faixa etária acima de 60 anos.
Observou-se que o Rio Grande do Sul reúne a segunda maior taxa de idosos do Brasil, representando 12,95% da sua população. Além disso, o percentual desse grupo na região metropolitana de Porto Alegre é de 10,67%, apresentando a segunda maior taxa do país.
Acesso aos serviços de saúde e capacidade de suporte do SUS
Devido a essa situação, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea lançou uma nota técnica durante o mês de abril, que dá vistas ao estudo sobre a situação dos mais vulneráveis de baixa renda acima de 50 anos de idade, o acesso ao Sistema Único de Saúde e a mobilidade urbana.
Os primeiros casos da doença no Brasil concentraram-se na população de média e alta renda, que costuma acessar os serviços de saúde privado. Entretanto, uma parte dessa população tem sido encaminhada para hospitais públicos de referência no tratamento da Covid-19. Nesse momento de epidemia, o SUS tem tido um papel fundamental contra a doença, não apenas por causa do trabalho de assistência à saúde, mas também pela gestão e coordenação do Sistema.
Uma preocupação que cresce entre autoridades, trabalhadores da saúde e população é o crescimento no número de pessoas infectadas, podendo chegar a atingir um nível crítico, sobrecarregando o sistema de saúde. Em estudo recente, Noronha et al. (2020) apresenta a quantidade de leitos e respiradores ofertados e demandados, por microrregiões de saúde, em escala nacional. É apontado que, até mesmo em cenário otimista, com o nível de infecção de 0,1% no primeiro mês, cerca da metade das microrregiões do país enfrentaria déficit de leitos para conseguir atender às necessidades de internação.
Número de leitos com respiradores e número de habitantes em Porto Alegre
No estudo feito foram identificados 327 leitos adultos pelo Sistema Único de Saúde - SUS com respiradores no município de Porto Alegre e uma população de 1,48 milhão de habitantes, isto é, 2,2 leitos para cada 10 mil habitantes.
Quando analisada a população mais vulnerável, a situação é mais crítica. No mês de maio foi indicado que na capital gaúcha existem 159,6 mil pessoas em estado de vulnerabilidade, segundo os dados apontados pelo Ipea. Destas:
- 8,6 mil pessoas não têm acesso a nenhum estabelecimento de saúde em menos de trinta minutos de caminhada;
- Mais de 1/3 dessa população em vulnerabilidade tem dificuldades no acesso a alguma assistência de saúde; e
- 60,3 mil pessoas residem a uma distância maior do que 5 km do hospital mais próximo, que tenha ao menos um leito de UTI e um respirador.
Os serviços de saúde a serem considerados no estudo são aqueles de atenção primária que permite identificar os casos graves de pacientes com suspeita de Covid-19 e devem ser levados para serviços especializados, além de serviços mais avançados, como pronto atendimento, pronto-socorro e hospitais.
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