Por: André | 19 Novembro 2013
Bergoglio revelando, poucas horas antes de se converter em Papa, sua paixão juvenil pela química, ao dar conselhos a um cardeal sobre a dose de um remédio. Bergoglio escolhido depois de uma votação anulada. Bergoglio que, quando era bispo, teve que suportar algumas dificuldades criadas por um grupo de adversários da cúria. Isto e muito mais aparece no livro “Francisco: vida e revolução”, escrito pela vaticanista argentina do jornal La Nación, Elisabetta Piqué, que conhece o Papa há mais de uma década. O volume oferece um rico mosaico de anedotas e informações inéditas. A começar pelo que aconteceu na capela Sistina.
A reportagem é de Andrea Tornielli e publicada no jornal La Stampa, 16-11-2013. A tradução é de André Langer.
Diferentes cardeais teriam se aproximado de Bergoglio, poucas horas antes do Conclave, para dizer-lhe: “Cuidado, agora é a tua vez”. Segundo esta reconstrução, durante a primeira votação de 12 de março pela tarde, Bergoglio teria obtido 25 votos. Outras indiscrições indicam um resultado mais baixo, depois de outros candidatos “papáveis” tendo à frente o arcebispo de Milão, Angelo Scola, que teria obtido 30 votos.
Nessa tarde, Bergoglio convidou o cardeal Sandri para que se sentasse à mesa com ele. “Vamos comer juntos”. O cardápio oferecia sopa de verduras. “Sandri não está bem, está com faringite e segue lacrimejando – lê-se no livro. Bergoglio, que estudou química, examina o antibiótico que está tomando e lhe dá alguns conselhos sobre as doses. Mas não podem deixar de falar do Conclave... ‘Prepara-te, meu querido’, diz Sandri ao seu compatriota”.
Foi na terceira votação, a última de 13 de março pela manhã, que Bergoglio começou a despontar, obtendo 50 votos e ultrapassando os outros candidatos. Na quarta votação, a primeira da tarde, Bergoglio tinha atingido quase os 77 votos necessários para ser eleito. Na quinta, após a abertura da urna dos 115 cardeais eleitores, procedeu-se à contagem das cédulas, uma por uma, antes de fazer o escrutínio. E havia 116 cédulas, ou seja, um voto a mais. Tratou-se seguramente de algum dos cardeais eleitores, que, sem se dar conta, depositou na urna duas cédulas: uma com seu voto e a outra em branco (que certamente havia grudado na primeira). Um descuido formal que provocou a anulação da quinta votação, na qual certamente Bergoglio teria sido eleito. Assim, decidiu-se proceder imediatamente a uma nova votação. Este acidente não influenciou, certamente, no voto dos cardeais, posto que ninguém sabia quem tinha sido eleito na votação anulada. Na sexta votação, mas no quinto escrutínio, o cardeal arcebispo de Buenos Aires foi eleito com uma maioria muito ampla (segundo a autora do livro com cerca de 90 votos). E veio a “fumaça branca” que preanunciou esse “Boa tarde” do Papa Francisco.
No livro também são descritas as dificuldades pelas quais Bergolio passou antes da eleição. Piqué descreve um pequeno grupo de pessoas “que começará a declarar-lhe guerra”. Entre eles estariam o então núncio na Argentina, Adriano Bernardini (hoje núncio na Itália) e o então secretário de Estado, Angelo Sodano. A maior parte dos problemas estava relacionada às nomeações dos bispos, dado que alguns dos candidatos propostos pela Conferência Episcopal da Argentina não eram benquistos em Roma.
“Do grupo contrário a Bergoglio fazem parte Héctor Aguer, arcebispo de La Plata, alguns bispos e institutos sacerdotais e laicos, inclusive alguns professores da UCA. Quem age na sombra – lê-se no livro – é o ex-embaixador menemista na Santa Sé, Esteban Caselli, personagem muito controvertido e com fácil acesso aos palácios vaticanos graças à sua amizade com o cardeal Sodano, a ponto de ser nomeado “cavalheiro” do Papa em 2003”.
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“Cuidado, Bergoglio, agora é a tua vez” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU