28 Julho 2016
Nesta quarta-feira, 27-07-2016, o Papa Francisco lançou um desafio aos líderes políticos poloneses no primeiro de uma visita de cinco dias ao país, pedindo que o governo seja mais acolhedor com os migrantes que fogem da perseguição e da guerra.
O Papa dirigiu-se ao presidente Andrzej Duda e à elite política do país dizendo que o “complexo fenômeno” dos milhões de pessoas que vêm para a Europa a partir do Oriente Médio e norte da África requer um suplemento de sabedoria e misericórdia para “superar os temores e produzir um bem maior”.
A reportagem é de Joshua J. McElwee e Kristen Whitney Daniels, publicada por National Catholic Reporter, 27-07-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Simultaneamente é preciso a disponibilidade para acolher as pessoas que fogem das guerras e da fome; e solidariedade para com aqueles que estão privados dos seus direitos fundamentais, designadamente o de professar com liberdade e segurança a sua fé”, exortou o papa.
Alguns poderão considerar estas falas do pontífice como um enfrentamento ao partido polonês Lei e Justiça, que tem fechado as portas à maioria das pessoas que buscam asilo no país e que também se recusou a cooperar com os esforços da União Europeia em adotar um sistema de quotas onde os países do bloco aceitariam migrantes.
Falando no histórico Castelo Wawel construído no século XIV, edifício gótico com telhado avermelhado que certa vez foi o centro dos governos poloneses, o papa pediu que o povo do país adotasse uma cultura de esperança e confiança.
Ele convidou o povo polonês, em que 87,5% se identifica como católico, a “ter esperança e confiança firmes n’Aquele que guia os destinos dos povos, abre portas fechadas, transforma as dificuldades em oportunidades e cria novos cenários onde parecia impossível”.
O pontífice estará de visita à Polônia até domingo, quando irá celebrar a 14ª Jornada Mundial da Juventude. Ele chegou a Cracóvia, cidade histórica no sul do país, próximo à fronteira com a Eslováquia e República Tcheca, onde havia uma multidão para saudá-lo.
Assim que Francisco tomou o papamóvel em direção ao Castelo de Wawel na saída do aeroporto, cujo nome é dado em homenagem ao Papa João Paulo II, as pessoas se alinharam ao longo do trajeto tremulando bandeiras e faixas.
A notícia da chegada do papa próximo à Arena Tauron, onde acontecem atividades catequéticas em língua inglesa durante toda a Jornada Mundial da Juventude, fez com peregrinos ocupassem todo o espaço reservado ao público na esperança de ver o líder religioso.
Outros peregrinos, que assistiam à chegada via televisão, aguardaram ansiosamente o papa sair de seu avião. Grupos musicais conduziram cantos com o tema “Papa Francisco” por cinco minutos. Assim que o papa saiu, os cânticos foram substituídos por palmas e gritos, com alguns peregrinos derramando lágrimas, tomados de emoção que estavam.
Caitlin McHenry estava entre as peregrinas. Ela, estudante secundarista em Massachusetts, disse que quase chorou ao ver o papa.
“Ele viajou de tão longe para estar com a juventude”, declarou. “Eu me sinto tão abençoada por tê-lo aqui”.
A segurança em torno da visita do papa e da JMJ, que, segundo os organizadores, pode atrair multidões na casa dos milhões no domingo, vem sendo extraordinariamente rígida. No dia anterior à chegada de Francisco, forças de segurança já se faziam visivelmente presentes em toda a cidade de Cracóvia.
No Parque Blonia, em particular, onde a missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude aconteceu na terça-feira, podiam se ver a polícia polonesa, unidades militares e cães de guarda patrulhando áreas enormes, enquanto helicópteros sobrevoavam a região e atiradores assumiam posições nos topos dos edifícios.
Após falar aos líderes políticos na quarta-feira, Francisco teve uma reunião privada com os bispos poloneses na Catedral Basílica dos Santos Estanislau e Venceslau.
Inicialmente este encontro tinha sido anunciado como um evento público, mas o Vaticano mudou o seu caráter algumas semanas atrás dizendo que o papa preferia ter uma oportunidade de falar aos prelados locais atrás de portas fechadas.
Espera-se que o legado de João Paulo II esteja presente de modo especial na visita papal ao país. O falecido pontífice serviu como arcebispo de Cracóvia entre os anos de 1964 e 1978, tendo nascido a cerca de 50 quilômetros ao sul da cidade, na localidade de Wadowice.
Francisco está hospedado no palácio arquidiocesano, onde João Paulo II viveu como arcebispo.
João Paulo ficava em seu velho quarto no palácio quando em visita à Polônia, saudando o povo do lado de fora de sua janela todas as noites. Esta janela tem, hoje, uma foto estampada do pontífice polonês em seu lugar, permitindo aos que ali passam imaginá-lo como se ainda estivesse de visita.
A estada de Francisco no país continua nesta quinta-feira com uma visita a Czestochowa, cidade a aproximadamente 150 quilômetros de Cracóvia.
Aí, o papa visitará a famosa capela de Madona Negra (ou Virgem Maria Negra), ícone do século XIV venerado em todo o país. Ele igualmente irá celebrar uma missa pública para o 1050º aniversário de cristianização da Polônia.
Na sexta-feira, o papa irá visitar os campos de concentração da Segunda Guerra Mundial de Auschwitz e Birkenau, a cerca de 70 quilômetros a oeste de Cracóvia.
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Francisco diz à Polônia avessa a imigrantes para “superar seus temores” e acolher estrangeiros que “fogem da guerra e da fome”. Dura crítica à política polonesa de refugiados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU