28 Junho 2016
A agência de notícias Interfax, meio de comunicação russo não governamental, mas muito próximo do Kremlin, apresenta o encontro ortodoxo, concluído nesse domingo, na Grécia, como o "Fórum de Creta".
A reportagem é de Luis Badilla, publicada no sítio Il Sismografo, 27-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
É curiosa essa definição mínima. Sendo a Intefax uma agência muito preparada em questões religiosas – às vezes, atua quase como uma mídia porta-voz do Patriarcado de Moscou –, é impensável que seja um erro de digitação ou uma superficialidade do editor.
Parece ser algo muito premeditado. Além disso, a Interfax não pode ignorar que o encontro de Creta tinha um nome específico, concordado entre as 14 Igrejas ortodoxas que, no início, tinham assegurado a sua presença: "Santo e Grande Concílio", algo bem diferente de "Fórum de Creta".
Concretamente, a mídia russa relança a declaração final do Concílio com este título: "Encyclical of the Orthodox Crete forum".
Como bem se sabe, no Concílio, deviam participar 14 Igrejas ortodoxas autocéfalas. Essas presenças foram todas confirmadas pelos mais altos líderes religiosos e pelos seus respectivos sínodos, depois de discussões e preparações que, na prática, se prolongaram por meio século.
O evento era histórico. Há muitos séculos, as Igrejas ortodoxas não se encontravam (1.000 anos); ou, melhor, era a primeira vez que o faziam. Nesses últimos meses, a Interfax sempre falou de "Santo e Grande Concílio". Agora não mais. Por quê?
Como se sabe, quatro Igrejas decidiram, no último momento, que não iriam participar: as da Rússia, da Bulgária, da Geórgia e do Patriarcado de Antioquia.
Essa passagem singular – de Concílio a Fórum (desclassificação não irrelevante), depois que as outras 10 Igrejas que tinham assinado a Convocatória de Chambésy se reuniram, mesmo assim, e, no fim, aprovaram seis importantes documentos – poderia antecipar não só a hostilidade da Igreja russa, mas também uma forma de rejeição. Os ortodoxos russos vão discutir sobre o Concílio em julho, dentro do Santo Sínodo.
Hoje e também mediante a Interfax, o arcebispo Job de Telmessos e o vice-chefe do Departamento de Relações Exteriores da Igreja do Patriarcado de Moscou, o arcipreste Nikolai Balashov, dois importantes expoentes da Ortodoxia russa, criticaram severamente a ideia que, na sua opinião, serpenteava entre os participantes do Concílio em Creta, ou seja, que o governo dessas Igrejas deve responder às regras da democracia, da dialética entre maioria e minoria.
Não parece que seja assim. Mas se insiste muito na questão em ambientes do Patriarcado de Moscou, e isso poderia ser outro indício negativo sobre quais serão as decisões do Santo Sínodo da Igreja Ortodoxa Russa.
* * *
Um colega argentino que estava com o papa para cobrir a visita à Armênia observou que o jornalista russo que fez uma pergunta para Francisco, no voo de volta, definiu o Concílio como um "Fórum". Eis a transcrição da pergunta ao Santo Padre:
Alexey Bukalov, "Itar-Tass" – Obrigado, Santidade, obrigado por esta viagem, que é a primeira viagem ao ex-território soviético. Para mim, era muito importante segui-lo... A minha pergunta vai um pouco fora desse argumento: eu sei que o senhor encorajou muito esse Concílio pan-ortodoxo; até mesmo no encontro com o Patriarca Kirill em Cuba ele foi mencionado como um desejo. Agora, que opinião o senhor tem sobre esse – digamos – fórum? Obrigado.
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Agência de notícias russa apresenta o Concílio pan-ortodoxo como "Fórum de Creta" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU