21 Junho 2016
Foi aberto na manhã dessa segunda-feira o Santo e Grande Concílio pan-ortodoxo, também na sua fase de assembleia, com o discurso inaugural do Patriarca Ecumênico Bartolomeu I. Os patriarcas, bispos e delegados das 10 Igrejas ortodoxas autocéfalas presentes se reuniram na Academia Ortodoxa, nos arredores do Mosteiro de Gonia, em Kolympari.
A reportagem é de Daniela Sala, publicada no blog da revista Il Regno, 19-06-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Na sessão inaugural e na conclusiva, também estão presentes observadores convidados de outras Igrejas cristãs: pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, estão o cardeal Kurt Koch, Brian Farrell e Hyacinthe Destivelle; para as outras, não está disponível uma lista oficial. À imprensa, é permitido o acesso a uma tenda especialmente equipada, logo em frente ao portão da Academia, mas um grupo foi acompanhado para uma breve permanência no interior do Concílio.
Antes de iniciar o seu discurso, Bartolomeu I agradeceu a todos que estão rezando pelo Concílio, incluindo o Papa Francisco, no Ângelus desse domingo, e depois leu as respostas dos patriarcas de Moscou, Kyrill, e de Antioquia, João, ao renovado convite que, na sexta-feira, tinha sido feito para eles pela "pequena sinaxe" realizada em Creta, para reconsiderar a sua decisão de não participar. Os dois outros patriarcas não responderam.
Mais tarde, durante a coletiva de imprensa da tarde, o porta-voz do Concílio, o arcebispo Job de Telmessos, afirmou: "A ausência das quatro Igrejas se deve aos seus problemas internos e não a questões ligadas aos documentos que devemos discutir, que foram assinados por todos durante a fase preparatória do Concílio".
A intervenção do Patriarca Bartolomeu, que acreditou firmemente nesse processo conciliar iniciado e levado adiante pelos seus antecessores Atenágoras e Demetrios, se deteve sobre o significado teológico da sinodalidade como qualidade essencial e constitutiva da Igreja. "Sem sinodalidade, não existe a unidade da Igreja", e, por isso, a Igreja antiga instituiu os concílios para abordar as questões doutrinais ou práticas. E todas as Igrejas ortodoxas são constituídas sobre a sinodalidade, com os seus sínodos, que são um modelo para todas as Igrejas cristãs.
Mas a sinodalidade não se esgota no nível local. Daí a importância de levar adiante o processo desse Concílio em nível global e a impossibilidade de adiá-lo, uma vez estabelecido por consenso que ele devia ser realizado e uma vez aprovados por consenso a agenda e os diversos documentos.
Todos os primazes das respectivas Igrejas tomaram a palavra depois de Bartolomeu, e, embora ainda não se tenha entrado nos temas em pauta, surgiram questões gerais de grande interesse.
Acima de tudo, o significado da conciliaridade para as Igrejas ortodoxas e o significado da ausência de quatro patriarcas (Rússia, Bulgária, Geórgia, Antioquia). Segundo, a esperança de que esse Concílio seja o primeiro de uma série ou, melhor, que o Concílio se torne, de certo modo, uma realidade permanente entre as Igrejas ortodoxas. Terceiro, o arcebispo Anastasios de Tirana levantou uma questão que certamente será retomada, embora talvez não aqui, onde a agenda já está fixada: o método das decisões. O consenso, de fato, que as Igrejas ortodoxas introduziram como sistema em tempos recentes (nos anos 1990), talvez, está dando mais problemas do que soluções, razão pela qual a proposta é voltar ao cânone sexto do primeiro Concílio ecumênico, o Concílio de Antioquia, que estabelecia que as decisões fossem tomadas por maioria.
Síntese dos temas em discussão
Autonomia
O Concílio vai abordar a questão da autonomia e dos meios para proclamá-la. A autonomia é um status canônico de independência relativa ou parcial de uma porção eclesial da jurisdição canônica da Igreja autocéfala a que pertence (e por Igrejas autocéfalas, é útil lembrar, entendem-se as Igrejas geralmente nacionais que são independentes do Patriarcado de Constantinopla e se governam autonomamente). O início e a conclusão do processo de autonomia é uma prerrogativa canônica da Igreja autocéfala que governa o território em questão, que deve estar dentro das fronteiras da sua região geográfica canônica.
Na região da diáspora ortodoxa, não podem ser estabelecidas Igrejas autônomas, exceto através de um consenso pan-ortodoxo, garantido pelo Patriarca Ecumênico de acordo com a prática pan-ortodoxa predominante.
Atualmente, existem seis Igrejas autônomas: a Igreja de Creta, a Igreja da Finlândia e a Igreja da Estônia sob o Patriarcado Ecumênico; a Igreja do Sinai sob o Patriarcado de Jerusalém; a Igreja do Japão e a Igreja Ucraniana sob o Patriarcado de Moscou. O documento aprovado em Chambesy em 2015 estabelece os procedimentos para institui uma nova Igreja autônoma, porque, em torno desse tema, no passado também recente, houve casos de ruptura da comunhão entre duas ou mais Igrejas ortodoxas.
Diáspora
Durante o século XX, por causa de guerras e perseguições, muitos fiéis ortodoxos fugiram dos seus países e constituíram Igrejas em outros lugares, que continuaram a se referir aos patriarcados de pertença. Portanto, continua sendo um problema, e um problema que todas as Igrejas ortodoxas desejam resolver o quanto antes, as jurisdições sobrepostas nos países da diáspora, e a vontade comum é de organizar a diáspora de acordo com a eclesiologia ortodoxa, com a tradição canônica e com a prática eclesial.
Nas circunstâncias atuais, uma transição imediata ao ordenamento estritamente canônico – ou seja, a presença de um único bispo na mesma sede – é impraticável, por razões históricas e pastorais óbvias. Para enfrentar essa realidade, as Igrejas decidiram estabelecer uma situação de transição, com assembleias de bispos em várias regiões, que preparará o terreno para uma solução canônica do problema.
Cada assembleia tem a tarefa de preparar um projeto a ser apresentado ao Santo e Grande Concílio, para que este último possa proceder para delinear uma solução canônica. O documento "Diáspora Ortodoxa", aprovado em Chambesy em 2009, é dedicado a esse tema.
Relações ecumênicas
Ao tema ecumênico é dedicado o documento "Relações da Igreja Ortodoxa com o resto do mundo cristão". Nele, afirma-se que a Igreja Ortodoxa, que é una, santa, católica e apostólica, crê firmemente que têm um papel central na promoção da unidade dos cristãos no mundo moderno. Por isso, ela sempre cultivou o diálogo com aqueles que estão separados dela, próximos e distantes, e foi uma pioneira no movimento ecumênico desde o seu início, contribuindo para a sua formação e para o seu desenvolvimento.
Embora faça parte das relações ecumênicas – afirma-se – a Igreja nunca sacrifica os seus princípios, e as posições que assume têm, todas, como fim último, a restauração da unidade na verdadeira fé e no amor, o objetivo final de todos os diálogos teológicos em andamento. Dentro da Ortodoxia, esse tema é visto por algumas correntes conservadoras com ceticismo, em alguns casos com aberta hostilidade.
Jejum
"A importância do jejum e a sua observância hoje" – documento aprovado em 2015 em Chambesy – aborda o tema de como adaptar às circunstâncias modernas o período do jejum, ao qual é atribuída uma considerável importância como modo para "proteger" a vida de fé. Em casos particulares de enfermidade física, ou de extrema necessidade, ou de circunstâncias difíceis, estão previstas dispensas, cuja regulação é confiada às Igrejas locais.
Matrimônio
O documento "O sacramento do matrimônio e os seus impedimentos", aprovado em Chambesy em janeiro deste ano, mas sem as assinaturas dos patriarcas de Antioquia e da Geórgia (contrários aos casamentos mistos), proclama o caráter sagrado do matrimônio como ensinamento fundamental e indiscutível da Igreja.
Defender a sacralidade do mistério do matrimônio sempre foi particularmente importante para preservar a família, que irradia na Igreja e na sociedade a comunhão das pessoas conjugadas. O matrimônio entre um ortodoxo e um não ortodoxo é proibido e só é possível com dispensa, enquanto o matrimônio entre um ortodoxo e um não cristão é absolutamente proibido.
Os fiéis que contraem um casamento civil devem ser abordados com responsabilidade pastoral, necessária para que entendam o valor do sacramento do matrimônio. Não são reconhecidas as uniões homossexuais ou qualquer outra forma de coabitação.
Missão
O documento "A missão da Igreja no mundo contemporâneo", aprovado em Chambesy em janeiro deste ano, seria, por assim dizer, a Gaudium et spes do Concílio pan-ortodoxo. Compartilhando as preocupações e as ansiedades da humanidade de hoje sobre as questões existenciais fundamentais, a Igreja quer oferecer a sua mensagem de amor e reconciliação que vem do Evangelho e da tradição patrística e litúrgica.
Ela manifesta o seu cuidado pela dignidade da pessoa, a sua visão dos limites e das implicações da liberdade e da responsabilidade humana, e delineia a sua visão sobre a natureza da verdadeira paz, o fim da guerra e da violência, e a justiça social, política e econômica.
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Primeiro dia do Concílio pan-ortodoxo: quanto maiores as dificuldades, maior a urgência do encontro - Instituto Humanitas Unisinos - IHU