29 Março 2016
Texto de Thomas Reese, publicado por National Catholic Reporter, em 24-03-2016.
Tradução de Isaque Gomes Correa.
No fim de janeiro, escrevi uma coluna em que descrevi os meus esforços para implementar concretamente a Laudato Si’, a encíclica ambiental do papa, isolando os canos do sistema de aquecimento e de água da residência jesuíta onde vivo em Washington, DC.
O meu próximo projeto na “Neale House”, assim chamada em homenagem ao jesuíta Leonard Neale, segundo arcebispo de Baltimore, era melhorar a casa com lâmpadas mais eficientes. Uma série de leitores me sugeriram fazer isso, indicando que muitos americanos reconhecem esta troca como uma boa maneira de economizar dinheiro e reduzir a pegada ecológica.
É surpreendente o número de lâmpadas que esta residência possui. A construção de três andares, mais o subsolo, tem mais de 100 anos e foi comprada na década de 1960 para ser uma casa para estudantes jesuítas de pós-graduação porque era a meio caminho entre a Universidade de Georgetown e a Universidade Católica da América. Hoje é a casa dos jesuítas que trabalham em ministérios nacionais.
O prédio tem sala de estar ampla, sala de jantar, capela, área, cozinha, 17 quartos, oito banheiros, duas salas de TV, duas copas, lavanderia e duas dispensas. Em outras palavras, é um casarão antigo transformado em uma residência de passagem.
Para se ter ideia, só no terceiro andar, onde fica o meu quarto, temos 70 lâmpadas. Na verdade, eu perdi as contas depois que cheguei a este número.
E que variedade temos aqui quando se trata de lâmpadas! Temos as lâmpadas comuns de 40, 60 e 100 watts, mas também temos candelabros de vários tamanhos. Depois temos ainda os postes de luz, grandes e pequenos.
Eu não fui o primeiro residente a olhar para o nosso sistema de iluminação. Antes de eu vir morar aqui a dois anos atrás, alguém já havia convertido muitas das nossas lâmpadas incandescentes espirais em lâmpadas fluorescentes. Esta era a melhor tecnologia disponível na época, e hoje já possui os seus pontos negativos. As lâmpadas fluorescentes demoram a ligar; elas não podem ser usadas com um dimmer [aparelho que muda gradualmente a intensidade da luz]. Elas podem superaquecer e queimar, além de conter mercúrio, o que torna difícil descartá-las com segurança.
As lâmpadas de LED mais recentes são muito melhores. Estas são compatíveis com o sistema de dimerização e vêm em vários formatos e tamanhos, sendo mais eficientes em termos de consumo energético. As lâmpadas incandescentes gastam um monte de energia produzindo calor, além da luz.
O meu primeiro desafio foi a sala de jantar, que tem quatro arandelas [luminárias que ficam dispostas nas paredes] e uma luminária grande no centro do teto. As arandelas já tinham lâmpadas fluorescentes, então eu as deixei assim mesmo. A luminária no centro do teto, que usava quatro lâmpadas grandes, não havia sido atualizada para lâmpadas fluorescentes porque estava conectada a um dimmer. O dimmer fornece luz clara pela manhã para a leitura do jornal, e uma luz mais amena à noite para o jantar.
Eu sabia que uma das formas de manter as pessoas felizes é garantir que as lâmpadas novas sejam, pelo menos, tão claras (se não mais claras) do que as antigas. Se elas ficarem mais fracas, as pessoas irão reclamar.
Um dos segredos para fazer uma melhoria no nosso sistema de iluminação é lavarmos o lustre na troca das lâmpadas. As luminárias são ímãs para poeira e sujeira. O simples ato de lavá-las aumenta a iluminação em 10% ou mais. Se lavarmos a luminária ao trocar as lâmpadas, as pessoas acharão que colocamos lâmpadas mais fortes aí. Não devemos dizer a elas o nosso segredo...
Lavar e secar a luminária é, evidentemente, a parte mais perigosa do trabalho. É fácil se cansar de subir e descer escadas, girar (nos dois sentidos) todas as suas lâmpadas a fim de trocá-las. É aqui o momento em que cometemos erros e quebramos algumas delas. Tenho orgulho em poder dizer que lavei todas as luminárias da casa sem quebrar nada. Mais adiante eu falo sobre as luminárias do lado de fora da residência.
Dando continuidade à atualização a eu me propus, acabei cometendo o meu primeiro erro e este foi na sala de jantar. Eu sabia que a iluminação aqui teria de ser realmente clara para que as pessoas pudessem ler o jornal enquanto tomam o café. Instalei quatro lâmpadas diurnas LED de 100 watts. Escolhi este tipo porque elas têm mais lúmen do que as outras. Lumens é a medida de luminosidade de uma lâmpada.
Ledo engano. Os demais moradores odiaram. A luz ficou muito clara.
A boa notícia é que quando fiz a substituição das quatro lâmpadas de 100 watts para lâmpadas de LED, lavando a luminária, todo mundo achou que eu havia colocado as lâmpadas antigas. Assim, pude usar as lâmpadas diurnas de LED nas copas e nas dispensas onde a iluminação não é tão importante.
Cada uma dessas reposições de lâmpadas LED de 100 watts usa somente 18 watts, mas ilumina tanto quanto uma lâmpada incandescente de 100 watts. Eu também substituí as lâmpadas incandescentes de uma luminária grande na capela, sem que ninguém notasse a diferença. Com o sucesso que tive até aqui, ganhei a credibilidade que precisava para fazer o mesmo no resto da casa.
O próximo passo foi dado nos demais aposentos. Alguns já tinham lâmpadas fluorescentes, mas outros não tinham. Cada aposento tem duas lâmpadas, uma em cada lado do espelho sobre a pia. Alguns tinham lâmpadas de 100 watts, outros de 60. Substituí todas elas com lâmpadas LED de 60 watts. De novo, lavar as luminárias fez uma grande diferença. Estas lâmpadas de LED usam apenas 10 watts.
As luzes dos corredores constituíram um desafio especial. Para começar, cada andar tinha estilos diferentes.
No andar em que fica o meu quarto, que antigamente era o andar em que ficavam os funcionários da casa, existem duas arandelas sem interruptores, o que significa que ficam ligadas 24 horas por dia, 7 dias por semana. Elas já possuem lâmpadas fluorescentes ao estilo de candelabros, o que fornece uma iluminação equivalente a 40 watts, porém usando somente 7 watts. Eu poderia ter substituído estas lâmpadas por LED de 4,5 watts. Mas dificilmente essa troca iria fazer valer o custo da compra.
O segundo andar foi mais desafiador. Aqui as lâmpadas de parede eram cinco luminárias no formato de lanterna presas ao teto por correntes. Cada uma tinha lâmpadas incandescentes de 40 watts ao estilo candelabro. Francamente, estas lâmpadas fluorescentes do tipo candelabro são terríveis.
Eu limpei as luminárias e coloquei uma lâmpada LED de 40 watts em cada uma das luminárias. As lâmpadas candelabro de LED são muito mais bonitas do que as fluorescentes desse tipo e fornecem iluminação suficiente, assim ninguém notou que eu apenas pus uma lâmpada em cada luminária. Cada uma dessas lâmpadas aqui consome só 4,5 watts.
Também no segundo piso há o quadro de avisos, sem o que não se pode ter uma residência jesuíta. Este era iluminado por seis pequenas lâmpadas incandescentes de 50 watts.
Aqui eu cometi o meu segundo erro. Pesquisei na internet e encontrei lâmpadas LED de 40 watts que eram exatamente do mesmo tamanho. O problema foi que eu não percebi que estas lâmpadas tinham dois tipos diferentes de bases (a parte que se conecta à luminária). Eu precisava de uma que era encaixada e, em seguida, torcida para fixar bem no soquete, mas acabei comprando uma que era apenas encaixada.
Felizmente a loja em que fiz a compra tem uma política generosa de troca, e assim substituí as 10 lâmpadas que havia comprado para o quadro de avisos e para a lavanderia. Sim, alguns jesuítas passam a ferro as suas roupas...
Nesse meio tempo, fui de quarto em quarto inspecionar as lâmpadas. Deixei como estavam as fluorescentes que encontrei e substituí as incandescentes por lâmpadas de LED. Mas também aqui esbarrei em algumas dificuldades.
Primeiro, lâmpadas de três vias (50w, 100w, 150w) são um problema em particular. Não existem lâmpadas LED de três vias, pelo menos eu não encontrei. As lâmpadas fluorescentes de três vias não são muito confiáveis. Lâmpadas incandescentes de três vias não são muito melhores também, com o nível mais alto de iluminação sempre queimando primeiro. Frequentemente os filamentos das lâmpadas de três vias queimam, tornando as conexões difíceis. Comprei algumas lâmpadas fluorescentes de três vias, mas onde ninguém iria notar a diferença, eu coloquei simplesmente uma lâmpada LED de 100 watts.(Observação: Um leitor chamou a minha atenção para uma determinada marca de lâmpadas LED de três vias ao custo de US$ 21,97 que, de acordo com ele, funciona bem.)
Segundo, muitos dos nossos quartos tinham ventiladores de teto com lâmpadas ao centro. A maioria deles tinha lâmpadas comuns que poderiam ser repostas com lâmpadas de LED equivalente a 40 watts ou fluorescentes. No entanto, os que eram ligados a dimmers tendiam a ter lâmpadas de tamanho diferente.
No meu quarto, por exemplo, havia lâmpadas candelabro dentro da luminária, mas quando tentei substituí-las por lâmpadas LED, elas não acendiam. Na verdade, se eu substituísse uma lâmpada, era possível utilizar normalmente a luminária, mas isso não acontecia caso substituísse as duas. Estranho mesmo. Talvez seja um problema de fiação. Em todo caso, esta explicação vai além do meu campo de conhecimento.
Finalmente, me vi diante das lâmpadas do lado de fora da casa, e aí cometi outros dois erros. O primeiro teve um final feliz; o segundo, não.
O primeiro erro cometi ao repor uma lâmpada queimada em nossa varanda. Eu achei que a parte debaixo da luminária não se soltava quando a lâmpada era tirada; então, quando saquei a lâmpada para trocar, a gravidade entrou em cena e a dita parte caiu ao chão.
Este erro era exatamente o que eu vinha evitando no lado de dentro da casa. Em seguida, fui à internet pesquisar pela parte que se quebrou. Em resumo, encontrei o email do fabricante e descrevi a ele o meu problema. Imediatamente, me enviaram, gratuitamente, a parte que faltava. E este foi o final feliz.
O meu último erro não teve o mesmo fim.
Temos uma grande lâmpada em estilo lanterna pendurada em nossa varanda. Aqui cuidadosamente limpei os vidros da luminária (sem removê-los) e substituí a lâmpada incandescente por uma fotocélula e uma lâmpada LED de 100 watts. Tive dificuldades para parafusar o sensor de luz corretamente e o resultado é que ficava quase impossível desligar a luminária.
Isso tudo aconteceu no alto de uma escadaria de 3 metros de altura. Depois que terminei, deixei a escada em frente à varanda, caso tivesse de mexer com a lâmpada aí novamente. No outro dia de manhã, a escada não estava mais no local. Bem, hoje pelo menos o sensor luz e a lâmpada estão funcionando corretamente.
Assim, portanto, termina a minha aventura de atualizar as lâmpadas daqui onde moro. No todo, repus cerca de 80 lâmpadas. As novas não acabaram saindo um pouco caras, ficando em torno de US$ 3,32 o preço de uma lâmpada equivalente a 60 watts e US$ 19,97 para lâmpadas equivalentes a 100 watts para a varanda. A maior parte delas ficou entre 4,50 a 7 dólares. Todas estas lâmpadas irão economizar dinheiro e durarão anos. Ao mesmo tempo em que consomem menos energia, elas também reduzem a nossa pegada ecológica.
Quanto à pergunta “quantos jesuítas são necessários para trocar uma lâmpada?”, digo que a reposta é um segredo jesuítico para você adivinhar. Sinta-se à vontade para escrever a sua resposta na seção de comentários aqui no abaixo.
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Quantos jesuítas são necessários para trocar uma lâmpada? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU