Por: André | 20 Julho 2015
Quando faltam apenas dois meses para a sua viagem aos Estados Unidos e após sua denúncia do sistema econômico mundial, o Papa Francisco ganhou novos inimigos com seus recentes chamados, feitos na América do Sul, para que o mundo “mude” o sistema e suas estruturas.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 17-07-2015. A tradução é de André Langer.
Numerosos conservadores estadunidenses, os chamados “neocons”, entre eles católicos praticantes, não conseguem digerir as palavras do Papa cada vez que fala de economia e desdenham-no por considerá-lo marxista e comunista.
Ao voltar à sua América do Sul natal no início de julho, para os movimentos populares reunidos na Bolívia, Francisco renovou suas críticas sobre as desigualdades sociais, a “avidez desenfreada pelo dinheiro”, a “ditadura sutil” que condena e escraviza homens e mulheres e o “novo colonialismo” enraizado no sistema econômico.
“Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra”, disse o pontífice.
O papa argentino pediu às bases do mundo uma espécie de revolução, uma revolução social, o que irrita profundamente os estadunidenses.
“Santidade, os Estados Unidos veem essas críticas ao sistema econômico como uma condenação do modo de vida deles. O que responde a isso?”, perguntou-lhe uma jornalista durante o voo de volta do Paraguai à Itália e ao Vaticano.
“O que eu disse, essa frase, não é nova. Já o disse na encíclica Evangelii Gaudium: ‘esta economia mata’. Também disse isso na encíclica Laudato si’. Não é novidade. É do conhecimento de todos. Soube que foram feitas algumas críticas nos Estados Unidos. Não as li nem tive tempo para lê-las. Cada crítica deve ser estudada e depois deve-se iniciar um diálogo”, respondeu.
Para os vaticanistas, Francisco não faz mais que respeitar a Doutrina Social da Igreja, cujas bases foram lançadas no final do século XIX pelo Papa Leão XIII, que preconizava salários justos e o direito de organizar sindicatos, embora rechaçasse vigorosamente o socialismo e mostrasse pouco entusiasmo pela democracia.
No entanto, todas essas críticas começam a pesar sobre a viagem aos Estados Unidos, que se apresenta cada vez mais complexa, sobretudo depois da sua passagem por Cuba, etapa confirmada recentemente, onde se reunirá com Raúl Castro, que demonstrou uma particular admiração pelo pontífice latino-americano.
Para o analista da cadeia de televisão estadunidense Fox News, Greg Gutfeld, Francisco é hoje “o homem mais perigoso do mundo”.
O pontífice que vem do Sul, que viveu junto aos pobres e deserdados, que considera que luta contra a pobreza e a defesa do meio ambiente estão intimamente relacionadas, tomou posição sobre temas específicos, ao pedir que se substitua o petróleo e o carvão por energias renováveis, o que naturalmente incomoda o poderoso lobby do petróleo e coloca em questão o modo de vida desse país.
Ao tachar as multinacionais de serem as “depredadoras” do planeta e de serem responsáveis pelo uso insensato da terra, Francisco acumulou ainda mais poderosos inimigos.
Os críticos mais agudos do Papa acusam-no também de ter se deixado “instrumentalizar” pelos governos de esquerda da Bolívia e do Equador, algo a que, pelo que parece, não dá muita importância.
“Tudo pode ser instrumentalizado. É preciso sempre ter em conta o contexto, a hermenêutica”, explicou aos jornalistas.
Comentando o presente que lhe fez o presidente Evo Morales, que lhe deu um crucifixo de madeira com a foice e o martelo, concebido pelo Pe. Luis Espinal, um jesuíta de extrema esquerda assassinado em 1980, Francisco declarou: “Para mim é arte de protesto, não é ofensivo”.
O papa mencionou um dos grandes artistas argentinos de seu país, León Ferrari, premiado pela Bienal de Veneza, cuja forte crítica à Igreja católica causou grande controvérsia na Argentina, provocando um intenso debate sobre arte e liberdade de expressão, no qual esteve envolvido o então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio.
“É alguém da Teologia da Libertação. Critica o capitalismo selvagem e reabilitou Gustavo Gutiérrez, o pai dessa teologia”, disse o professor estadunidense Mark Silk, do Trinity College (Connecticut) no sítio Religion News Service.
Opiniões às quais as pessoas mais próximas ao Papa respondem que, desde que morava em Buenos Aires, sempre foi um “teólogo do povo”, que defende uma justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano.
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Grupos conservadores dos Estados Unidos qualificam Francisco como “o homem mais perigoso do mundo” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU