28 Novembro 2013
Está contida em 224 páginas a "revolução gentil" do Papa Francisco. A sua Exortação Apostólica Evangelii gaudium é um verdadeiro manifesto do seu pontificado. Formalmente, é dedicada à "nova evangelização", ao término do Ano da Fé, e a como anunciar o Evangelho ao mundo de hoje, mas nos cinco capítulos o Papa Francisco não só indica um modelo preciso de Igreja "aberta", "alegre", que saiba encontrar os distantes, fiel ao Evangelho e com uma relação preferencial com os pobres. Que saiba também sair da sua autorreferencialidade, do risco da mundanidade e que seja aberta à mudança. Ele expressa um ponto de vista preciso sobre a crise global e sobre como responder à demanda de verdadeira justiça e de paz. A sua Exortação não é um documento político, mas se refere a um ponto de vista preciso ao que ofende a dignidade da pessoa e dos povos.
A reportagem é de Roberto Monteforte, publicada no jornal L'Unità, 26-11-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Às questões sociais, Bergoglio dedica dois dos cinco capítulos do documento, o segundo e o quarto. Capta-se a experiência vivida na sua Argentina atingida duramente pela crise econômica internacional na sua crítica explícita ao "fetichismo do dinheiro" e "à ditadura de uma economia sem rosto e sem um objetivo verdadeiramente humano", versão nova e implacável da "adoração do antigo bezerro de ouro".
Ele critica o atual sistema econômico que "é injusto na sua raiz" (59), "esta economia que mata" porque prevalece a "lei do mais forte". Ele volta à cultura do "descartável" que criou "algo novo" e dramático: "Os excluídos não são 'explorados', mas resíduos, 'sobras'" (53). Enquanto não se resolverem radicalmente os problemas dos pobres, renunciando "à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas estruturais da desigualdade social – insiste –, não se resolverão os problemas do mundo e, em definitivo, problema algum". E indica na "desigualdade social" as raízes dos males sociais.
A Igreja não pode ficar indiferente a tais injustiças. "A economia não pode mais recorrer a remédios que são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos". Ele dedica páginas à denúncia da "nova tirania invisível, às vezes virtual" em que vivemos, um "mercado divinizado", onde reinam a "especulação financeira", "corrupção ramificada", "evasão fiscal egoísta" (56).
Ele lembra como a posse privada dos bens se justifica "para mantê-los e aumentá-los", mas "de modo a servirem melhor o bem comum". As reivindicações sociais, que têm a ver com a distribuição de renda, com a inclusão social dos pobres e com os direitos humanos – observa –, não podem ser sufocadas pelo pretexto de construir uma efêmera paz "para uma minoria feliz".
Ele pede justiça verdadeira e não poupa o "bispo de Roma". Ele convida a cuidar dos mais fracos: "os sem teto, os toxicodependentes, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada vez mais sós e abandonados" (210) e os migrantes, pelos quais exorta os países "a uma abertura generosa" (210). Ele fala das vítimas do tráfico e das novas formas de escravidão: "Nas nossas cidades, está instalado este crime mafioso e aberrante, e muitos têm as mãos cheias de sangue devido a uma cômoda e muda cumplicidade" (211).
Ele lembra o drama das mulheres duplamente pobres que "sofrem situações de exclusão, maus-tratos e violência" (212). Nessa defesa da dignidade da vida humana, o papa confirma a condenação do aborto. "Não é opção progressista pretender resolver os problemas, eliminando uma vida humana".
Ele acrescenta, no entanto, que "temos feito pouco para acompanhar adequadamente as mulheres que estão em situações muito duras, nas quais o aborto lhes aparece como uma solução rápida para as suas profundas angústias". Ele reivindica o direito e o dever da Igreja de intervir sobre esses temas e pede a Deus "que cresça o número de políticos capazes de sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo, políticos que tragam verdadeiramente no coração a sociedade, o povo, a vida dos pobres".
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Para Francisco, ''esta economia mata'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU