Por: Jonas | 11 Mai 2015
É um massacre silencioso e silenciado, e suas vítimas se concentram na América Latina e no sudeste asiático: Brasil, Filipinas, Colômbia, Honduras, Peru, Guatemala. Nestes e em outros países, nos quais vivem populações de maioria católica, viviam e trabalhavam os 116 ativistas envolvidos na defesa da terra e do meio ambiente que foram assassinados durante 2014. Uma lista de nomes provavelmente incompleta e que representa quase o dobro do número de jornalistas assassinados no mundo, durante o mesmo período, e que registra um aumento de 20% em relação ao ano de 2013.
Fonte: http://goo.gl/URh3dO |
A reportagem é de Gianni Valente, publicada por Vatican Insider, 08-05-2015. A tradução é do Cepat.
Enquanto esperamos a encíclica do Papa Francisco, dedicada ao meio ambiente e ao impacto do sistema de desenvolvimento sobre os recursos naturais, o Relatório 2014, publicado somente pela organização internacional Global Times (comprometida na denúncia dos vínculos ocultos entre a exploração ambiental, a corrupção e os conflitos armados), lança luz sobre um dos lados mais obscuros e escondidos da questão ambiental que ocupam, de maneira particular, a preocupação pastoral do bispo de Roma, que escreverá sua segunda encíclica sobre este tema, após a “Lumen Fidei”, escrita a “quatro mãos” com Joseph Ratzinger.
O relatório da Global Witness, intitulado “How Many More?” (e retomado pela agência Fides, das Pontifícias Obras Missionárias), aponta que só na América Latina, em 2014, foram registrados 88 homicídios de defensores do meio ambiente. O número de crimes contra ativistas ambientais cometidos em países latino-americanos corresponde a três quartos dos assassinatos de militantes comprometidos na defesa do meio ambiente em todo o mundo.
Segundo o documento, semanalmente, pelo menos duas pessoas são assassinadas por seu compromisso contra a destruição do meio ambiente. Na lista estão incluídos tanto os ambientalistas assassinados por militares e forças de polícia durante manifestações e enfrentamentos relacionados à ocupação de terras, como os que foram “eliminados” por jagunços. “Enquanto as empresas procuram por novas terras para explorar – lê-se no relatório -, cada vez mais existem pessoas que, por fim, pagam desta maneira sua resistência”.
O relatório ressalta um dado expressivo: nos países da América Latina, mais de 40% das vítimas que estão nas filas dos defensores da natureza e da terra pertencem às populações indígenas. A violência dos aparatos e a violência criminal atingem, com particular intensidade, as populações indígenas que decidem defender a terra na qual vivem do assalto das empresas que procuram constantemente novos territórios para explorar. Em 2014, foram 47 os indígenas assassinados enquanto buscavam proteger seus próprios territórios. Um número que provavelmente é inferior ao dado real, caso se leve em conta que a violência deste tipo é perpetrada em áreas afastadas, e a identidade das vítimas muitas vezes é um mistério.
Nos casos documentados em 2014, todas as mortes violentas de ativistas pró-terra se deram no contexto de disputas relacionadas com a propriedade, o controle e o uso da terra e dos recursos naturais. Aumentaram as mortes relacionadas aos protestos frente à instalação de estruturas para a produção de energia hidrelétrica e para a exploração de minas e outras indústrias de extração, e também aumentaram as mortes daqueles que protestavam contra a contaminação da água, pesca ilegal, e exploração sem critério da flora e da fauna.
Outro dos aspectos que o relatório da Global Witness apresenta é a difundida impunidade em relação aos homicídios e a violência contra os ativistas que defendem o meio ambiente. A documentação a respeito dos casos que chegaram a se converter em investigações judiciais aponta que entre os autores materiais destas violências estão grupos de paramilitares, forças policiais e contratados particulares, ao passo que entre os mandantes estão os proprietários de terras, figuras do crime organizado e membros e agentes dos grupos econômicos que exploram os recursos naturais.
O Brasil lidera a lista dos países onde os ativistas ambientais são assassinados com maior frequência (29 vítimas), em seguida vem Colômbia (25), Honduras (12), Peru (9) e a Guatemala.
O massacre dos defensores da terra e dos recursos naturais interpela também as Igrejas, em países nos quais a predileção pelos pobres sempre esteve entrelaçada com a questão ambiental e com os conflitos provocados pela exploração dos recursos naturais. Especialmente, na América Latina, onde há décadas muitos dos agentes pastorais, que foram assassinados enquanto serviam a Cristo nos pobres, estavam envolvidos em conflitos relacionados ao uso da terra e de seus bens. Homens e mulheres como Ezequiel Ramin, o colombiano que morreu em 1985 em uma emboscada em Cacoal, no estado brasileiro de Rondônia, por ter defendido os pequenos agricultores frente à opressão dos latifundiários. Ou como Dorothy Stang, a freira brasileira de origem estadunidense que foi assassinada em 2005, no estado brasileiro do Pará, porque acompanhou durante anos os camponeses e operários nas lutas contra o desmatamento da Amazônia.
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O massacre ocultado daqueles que defendem a “nossa irmã a Mãe Terra” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU