27 Março 2015
O número de casamentos católicos nos Estados Unidos encontra-se em seu nível mais baixo desde 1965.
O Centro de Pesquisas Aplicadas no Apostolado, da Georgetown University, mantém registros de estatísticas relacionadas à Igreja Católica desde 1965, guardando informações tais como o número de sacerdotes, a população católica no país e a quantidade de batismos e casamentos ocorridos por ano.
As estatísticas mostram que enquanto houve mais de 420 mil casamentos católicos em 1970, este número caiu para um pouco mais de 154 mil no ano de 2014.
A reportagem foi publicada por Catholic News Service, 23-23-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
“Não há uma resposta definitiva” para esta tendência, segundo Mark Gray, pesquisador associado e diretor do centro de pesquisas citado. Ele falou sobre algumas das principais hipóteses para esta diminuição.
“Estamos vendo um aumento na coabitação”, disse, aumento este que pode “estar criando um obstáculo para se receber o sacramento do matrimônio, dependendo das políticas adotadas pela paróquia ou diocese”, afirmou Gray em entrevista ao Catholic News Service. “Há também a noção de um ‘casamento do destino’, superando a noção tradicional de casar-se dentro da igreja”.
Gray disse também que não tem havido “um aumento no número de católicos se casando com não católicos, o que poderia nos levar a crer que eles estariam se casando em outras igrejas”, acrescentou.
“Algumas coisas mudaram em termos culturais (...) A Igreja simplesmente não é mais vista como sendo importante” por muitos jovens católicos, disse Gray.
Tim Staples, diretor do grupo Catholic Answers, em El Cajon, Califórnia, disse ao Catholic News Service que “embora um bispo em particular pode conceder a permissão para um católico se casar fora de uma igreja propriamente católica, o regulamento da Igreja não permite tal prática, falando em termos ordinários”.
“E isso é justo”, falou Staples. “Para os católicos, deve haver um representante oficial da Igreja presente [ou uma dispensa dada para este fim] no intuito de que seja um casamento válido, ou, poderíamos dizer, para que a pessoa esteja casada ‘na Igreja’. Assim, é correto que a pessoa seja casada ‘numa igreja’ a fim de que esteja propriamente casada ‘na Igreja’.
O catecismo da Igreja Católica ensina que “a celebração do matrimônio entre dois fiéis católicos tem lugar normalmente no decorrer da santa missa, em virtude da ligação de todos os sacramentos com o mistério pascal de Cristo”.
Os Estados Unidos também veem uma “grande parcela de [anulações] que ocorrem na Igreja em nível mundial”, de acordo com Gray. “É um processo que exige certo esforço, às vezes até certo investimento. É um processo quase jurídico que, em alguns lugares do mundo, não é prático, como o é nos EUA”, concluiu.
No entanto, mesmo os EUA estão vendo um número mais baixo de anulações, que caiu de 60.691 em 1985, os últimos dados disponíveis, para 18.558 no ano passado. “O divórcio está se tornando menos comum” no país, de acordo com Gray. “Em termos agregados, menos casamentos significa menos divórcios”.
Apensar destes números, Gray permanece otimista quanto ao futuro do sacramento do matrimônio.
“Vimos mudanças no passado (...) de forma muito parecida com a geração baby-boomer. As coisas eram diferentes antes da Segunda Guerra Mundial. A frequência à missa diminuiu, assim como os índices de batismos e casamentos, mas a geração baby-boomer viu uma época de mudanças culturais, então é difícil prever o que vai acontecer”.
Com relação aos jovens na Igreja, Gray disse que “os da geração Y são um pouco mais tradicionais, um pouco mais românticos e mais interessados em se casar na igreja. Estes estão à procurando da alma gêmea (...) Então, estamos começando a ver aquele tipo de mudança cultural entre a geração mais jovem dos católicos”.
Em outubro passado, Jeff e Alice Heinzen, casal de Wisconsin, trabalharam como auditores na Assembleia Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre a família. Alice é diretora do Departamento para o Matrimônio e a Vida Familiar, na Diocese de La Crosse; Jeff é o presidente das Escolas McDonell Catholic, na cidade de Chippewa Falls.
No Sínodo, disseram, eles observaram uma reverência pelo casamento, um amor profundo pelas famílias e uma forte preocupação pelos desafios pastorais que as famílias enfrentam. Os testemunhos, as discussões e histórias pessoas deram esperança à luz e à escuridão da vida familiar nos quatro cantos do mundo.
Uma das várias mensagens decorrentes do Sínodo para os católicos americanos, segundo Jeff e Alice, é “permanecermos fiéis às verdades que vêm de Deus [quando se trata do casamento]. Jamais devemos nos desviar ou nos afastar da mensagem evangélica quando lidamos com as famílias”.
“Talvez o maior desafio [para o casamento], tanto aqui quanto em outros países”, disseram via email ao National Catholic Reporter, “seja o triunfo da autossuficiência. A cultura de hoje valoriza a independência em detrimento da interdependência. A necessidade de se comprometer com o outro no casamento faz pouco sentido quando o resultado percebido é ‘eu’ e não ‘nós’”.
Mesmo assim, como Gray, Jeff e Alice também enxergam uma renovação cultural surgindo no fronte dos casamentos católicos.
“Uma das tendências culturais mais positivas que vemos é uma mudança na catequese: de um foco centrado nos filhos para um foco centrado nos pais”, disseram. “Esta tendência permite que as paróquias utilizem o desejo básico encontrado na maioria dos corações dos pais para oferecer o melhor aos seus filhos (...) Esta mudança na abordagem catequética está produzindo grandes resultados porque os pais estão aprendendo a se tornar os educadores primários de seus filhos”.
Como diz o comunicado de 2006 publicado pelos bispos católicos americanos intitulado “Married Love and the Gift of Life”, o matrimônio é um pacto de amor para a vida toda entre um homem e uma mulher. É uma parceria íntima na qual maridos e mulheres aprendem a dar e a receber amor de maneira não egoísta, e então ensinam os filhos a assim também fazerem”.
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Apesar do baixo número de casamentos católicos, alguns veem uma tendência de ele voltar a crescer - Instituto Humanitas Unisinos - IHU