11 Setembro 2014
A lista dos que participarão no Sínodo dos Bispos sobre a família é decepcionante para os que esperam por reformas da Cúria e os que desejam que os leigos sejam ouvidos durante os dias de encontro.
A nomeação de 25 autoridades da Cúria para o Sínodo sobre a família é um sinal de que o Papa Francisco ainda não compreende o que uma reforma verdadeira da Cúria Romana requer. Esta nomeação me fez temer que quando tudo estiver dito e feito, ele poderá fechar ou fundir alguns departamentos, rearranjar algumas responsabilidades, mas não realizar nenhuma mudança profunda.
O comentáiro é de Thomas Reese, jesuita, jornalista, ex-diretor da revista America, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 10-09-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Segundo a lei vigente, o moto proprio Apostolica Sollicitudo, um sínodo extraordinário é composto pelos principais líderes episcopais das igrejas católicas orientais, pelos presidentes das conferências dos bispos e por três religiosos escolhidos pela União dos Superiores Gerais. A lei também afirma: “Os cardeais que presidem os escritórios da Cúria Romana também participarão”.
O papa também pode nomear bispos e padres adicionais bem como observadores leigos.
Ter autoridades curiais como membros de um sínodo não permite reconhecer que, antes, deveriam estar a serviço, e não atuando como formuladores de políticas. Estas autoridades poderiam participar do sínodo como funcionários, mas não deveriam ser membros com direito a votos. No mais, deveriam ser observadores, e não oradores. Estes participantes têm todas as demais semanas do ano para assessorarem o papa. Os sínodos constituem um momento para que os bispos de fora de Roma tornem conhecidas as suas opiniões.
Se o Papa Francisco e o Conselho de Cardeais não estiverem dispostos a mudar o Sínodo dos Bispos em sua composição, será difícil acreditar que eles irão, de fato, consertar a Cúria Romana.
Os prelados americanos no Sínodo serão o arcebispo de Louisville (no estado do Kentucky), Dom Joseph Kurtz, e os cardeais Timothy Dolan, Donald Wuerl e Raymond Burke. Kurtz irá participar por ser o presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA. Dolan e Wuerl se farão presentes como membros do conselho do sínodo ordinário. E Burke participará porque é o prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica.
Além dos bispos componentes do Sínodo, há os colaboradores (especialistas) e auditores (observadores). A metade dos especialistas são padres, o que parece estranho para um sínodo sobre a família. Nenhum dos 16 especialistas é estadunidense; 10 são da Europa (incluindo cinco da Itália), três da Ásia; e um do México, outro do Líbano e, por fim, um da Austrália.
Há mais leigos entre os 38 auditores, incluindo 14 casais, dos quais dois são dos Estados Unidos. Grande parte dos observadores são funcionários da Igreja Católica ou líderes de organizações católicas, incluindo organizações de planejamento familiar natural.
Por exemplo, um casal dos EUA é composto por Jeffrey Heinzen, diretor de planejamento familiar natural na diocese de La Crosse, no estado do Wisconsin, e Alice Heinzen, participante do Conselho Consultivo de Planejamento Familiar Natural, da Conferência dos Bispos Católicos americana.
O outro casal americano é composto por Steve e Claudia Schultz, membros do International Catholic Engaged Encounter, grupo que trabalha no ministério de preparação para o casamento católico.
Teremos que esperar e ver se os auditores vão apresentar aos bispos as opiniões dos leigos católicos, mesmo assim é difícil sustentar que estes representem, em geral, os católicos. Com certeza, aqueles que pensam que o planejamento familiar natural seja o grande presente da Igreja para os leigos não representam os católicos da base. E os que são funcionários da Igreja poderão ter medo de perder seus empregos caso falarem a verdade.
No Sínodo de 1980 sobre a família, os participantes leigos constituíram um fator importante para a total falta de contato com a realidade que os participantes demonstraram. Receio que estejamos prestes a ver isso acontecer novamente.
A maioria dos colaboradores e auditores foi escolhida sob a recomendação das conferências episcopais, e esta é a contradição fundamental do papado de Francisco. Ele quer mudar as coisas, mas igualmente quer a participação dos bispos locais em muitas delas.
Há também uma ironia nisso tudo. Nas décadas seguintes ao Concílio Vaticano II, os católicos progressistas pediram, constantemente, pela descentralização na Igreja. Hoje, quando estão gostando do que o papa está fazendo, eles querem que o líder da Igreja faça as coisas via ordem executiva. Enquanto isso, os conservadores estão começando a enxergar as vantagens da subsidiariedade na Igreja. Deus tem, mesmo, um senso de humor incrível.
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A composição do Sínodo dos Bispos sobre a família é decepcionante - Instituto Humanitas Unisinos - IHU