20 Março 2015
"Na sexta-feira passada Francisco promulgou o Jubileu da Misericórdia, para recordar que a mensagem cristã é essencialmente uma mensagem de amor: amor de Deus com o homem e, consequentemente, amor do homem com os outros homens", escreve Armando Massarenti, neurocientista, em artigo publicada por Il Sole 24 Ore, 15-03-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Eis o artigo.
Quando o Papa Francisco convida o mundo inteiro, católico ou não, a erguer-se contra aquela que ele define como a “globalização da indiferença”, o seu apelo se refere de perto a um fenômeno que torna amplos extratos da população impermeáveis aos males que a circundam, precisamente enquanto o horror escorre diante deles em alguma tela televisiva. Na sexta-feira passada Francisco promulgou o Jubileu da Misericórdia, para recordar que a mensagem cristã é essencialmente uma mensagem de amor: amor de Deus com o homem e, consequentemente, amor do homem com os outros homens. Mas, deve ser também uma mensagem de Inteligência. E de responsabilidade: “Senhor, restituí-me a liberdade e fazei que eu sempre possa viver de modo a poder assumir a responsabilidade diante de Ti e dos outros homens“. Eis a prece de um homem que superficial não era precisamente por nada, o pastor luterano Dietrich Bonhoeffer. Morreu aos nove de abril de 1945 no campo de concentração de Flossenbürg, por ordem do próprio Hitler.
As conclusões a que chegou brotavam de um longo percurso filosófico-religioso, testemunhado pelos escritos – inéditos até hoje na Itália e em outras partes do mundo – que a editora Piemme enviará à livraria aos 30 de março. Trata-se de apontamentos, exegeses, meditações, homilias, fragmentos poéticos, dos quais propomos aqui alguns exemplos que atravessam os vinte anos de 1925 a 1945, coletados sob o significativo título “A fragilidade do mal”, uma espécie de cruzamento entre A banalidade do mal, de Hannah Ahrendt, e A fragilidade do bem, de Martha Nussbaum.
Não era o aspecto extraordinário, mas a banalidade que apavorava em Eichmann e nos principais responsáveis do Holocausto. Uma normalidade que se pode encontrar no coração de cada pessoa, também daquela que está junto de nós, e talvez também no nosso coração. Mas, a normalidade pode transmutar-se em conformismo e o conformismo, por sua vez, em estupidez: a estultice de quem aceita acriticamente, considerando erroneamente ter uma vantagem, as formas e os modos do poder. “A estupidez – escreve Bonhoeffer – é um inimigo do bem mais perigoso que a malvadeza. Contra a malvadeza se pode protestar, se pode desmascará-la, se necessário a gente pode opor-se contra ela com a força. O mal traz sempre consigo o germe da autodissolução e sempre deixa no homem um sentimento de mal-estar. Mas, contra a estupidez estamos desarmados”.
Paradoxalmente, o mal é frágil, pode ser combatido e, talvez também derrotado , enquanto a estupidez requer um “ato de libertação” interior e exterior, que é aquela que hoje nos exige Francisco, 70 anos após o sacrifício de Bonhoeffer, o qual escrevia: “Hoje forte manifestação de potência exterior, tanto de caráter político quanto de caráter religioso, investe sobre a estupidez de uma grande parte dos homens” e “produz uma privação da independência interior do indivíduo, sobrecarregado pela pressão que sobre ele exerce a manifestação de potência”.
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A estupidez? Pior que o mal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU