Por: André | 04 Fevereiro 2015
Foto: Globalist.it
O Papa Francisco autorizou, na manhã desta quarta-feira, 03, a Congregação para as Causas dos Santos a promulgar o decreto sobre o martírio de Oscar Arnulfo Romero, arcebispo de San Salvador assassinado “in odium fidei” no dia 24 de março de 1980. A disposição do Papa representa a última etapa na surpreendente aceleração que caracterizou a última parte do caminho de Romero rumo aos altares: os peritos teólogos do dicastério vaticano para os santos expressaram, em 08 de janeiro passado, de forma unânime, a sua aprovação para a beatificação.
A confirmação do Papa em relação à promulgação do decreto estava prevista para a quinta-feira, 05, mas o Papa decidiu reduzir os tempos e assinar imediatamente. Uma decisão que contrasta com a lentidão, sabotagens e obstáculos que acompanharam a causa da beatificação, embora há muito tempo que os católicos latino-americanos o vem chamando de “Santo Romero da América”.
Fonte: http://bit.ly/1KnY9JJ |
A reportagem é de Gianni Valente e publicada no sítio Vatican Insider, 03-02-2015. A tradução é de André Langer.
A causa de beatificação de Romero chegou a Roma em 1996, após o término da fase diocesana, que aconteceu em El Salvador. A partir de então, os tempos se dilataram. Apesar das cartas com que o episcopado salvadorenho, vencendo antigas divisões, havia comunicado a Roma os votos unânimes para que se reconhecesse rapidamente o martírio de Romero. E, apesar dos numerosos pedidos dos fiéis, que esperavam ver Romero beatificado no ano do jubileu.
Nesses anos, em Roma, existia uma influente facção de altos prelados que alimentava resistências subterrâneas à canonização de Romero.
Um episódio notável aconteceu ao cardeal Francisco Javier Nguyen Van Thuan: exatamente em 2000, enquanto pregava os exercícios espirituais para a cúria romana e o Papa, o já falecido cardeal vietnamita havia lembrado Romero como um dos grandes testemunhos de fé de nossos tempos. E justamente por isso, ao final das meditações, recebeu duras recriminações por parte de alguns cardeais latino-americanos, que o acusavam de ter exaltado diante do Papa uma figura que, segundo suas opiniões, era controvertida, quando não “subversiva”. Poucos meses depois, saiu a publicação das meditações da Quaresma e nelas não figura o nome de dom Romero, nem sequer em citações ou alusões fugazes.
Durante muito tempo, o que havia justificado o atraso na causa foi o exame feito pelo ex-Santo Ofício sobre as homilias, o diário e os escritos públicos de dom Romero. Pretendia-se constatar a absoluta conformidade com a doutrina católica. Muitos anos e milhares e milhares de páginas. E a conclusão foi que no magistério episcopal de Romero não havia erros doutrinais.
Durante esses anos, quem assumiu um papel preponderante na gestão do expediente Romero foi, em particular, o cardeal colombiano Alfonso López Trujillo, influente assessor da Congregação para a Doutrina da Fé, que faleceu em 2008. E por influência sua, chegaram à Congregação para as Causas dos Santos algumas disposições contrárias à beatificação. Dali em diante não havia chegado ao mesmo dicastério nenhuma indicação que fosse em sentido contrário e que fosse capaz de desbloquear o curso do processo, para que pudesse prosseguir com os procedimentos ordinários do resto das causas.
Em maio de 2007, enquanto voava para o Brasil para a sua primeira viagem à América Latina, Bento XVI respondeu a uma pergunta sobre o processo de beatificação de Romero. O Papa respondeu com uma pequena apologia do bispo assassinado: descreveu-o como “um grande testemunho de fé” e recordou que sua morte havia sido “verdadeiramente incrível”, diante do altar. Não se referiu nessa ocasião à categoria de martírio, mas disse que a pessoa de Romero “é digna de beatificação”.
Incrivelmente, estas palavras pronunciadas pelo Papa Ratzinger diante das câmeras de TV e de vários gravadores, foram esquecidas nas versões oficiais das transcrições da entrevista publicada nos meios vaticanos.
De acordo com alguns setores, levar Romero aos altares teria significado a beatificação da Teologia da Libertação, ou, inclusive, de alguns movimentos populares de inspiração marxista e das guerrilhas revolucionárias dos anos setenta. Preconceitos refutados há muito tempo, graças aos estudos do historiador Roberto Morozzo della Rocca. Romero era um religioso devoto e atormentado, que conheceu a conversão pastoral diante do dramático sofrimento do povo nos anos da ditadura e dos esquadrões da morte.
A aceleração que se verificou sob o Pontificado do Papa Francisco anula todas as cautelas e resistências alimentadas por preconceitos de ordem política. Romero, o verdadeiro Romero, não era um agitador ou seguidor de novas teorias políticas. Mesmo os seus textos e discursos mais “radicais”, quando do púlpito dizia os nomes e sobrenomes de quem oprimia o povo, brotavam dessa paixão pela sorte dos pobres, que é elemento ineludível da Tradição da Igreja.
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O Papa Francisco reconhece o martírio de Romero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU