28 Janeiro 2015
Para a canonização oficial do já universalmente reconhecido São Romero da América parece agora somente uma questão de data (e de lugar): após o reconhecimento unânime do martírio formal e material do arcebispo salvadorenho da parte do colégio dos teólogos da Congregação para as Causas dos Santos – de que deu notícia Avvenire aos 9 de janeiro passado-, a longa, complexa e atormentada questão da canonização de mons. Oscar Romero está agora realmente a um passo da conclusão. E, se o atual arcebispo de San Salvador, José Luis Escobar não quis exceder-se, explicando numa conferência de imprensa, aos 4 de janeiro, que a data depende do Papa e que “poderia ser neste ano, certamente, mas que também poderia ser no próximo, ou dentro de cinco ou de dez anos”, a esperança de que já neste ano Romero seja proclamado beato, se torna sempre mais forte.
Parece ultrapassada a hipótese de setembro de 2015, apoiada, por exemplo, pelo bispo auxiliar de San Salvador, mons. Gregorio Rosa Chávez: se o Papa Francisco, dirigindo-se naquele mês aos Estados Unidos, também tivesse feito uma etapa no México, teria podido, com apenas duas horas de avião, chegar a San Salvador e celebrar naquela ocasião a cerimônia para a beatificação e indicando para tal função os nomes do card. Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, ou de mons. Vincenzo Paglia, postulador da causa de beatificação de Romero.
A reportagem é de Claudia Fanti, publicada pela Agência Adista, 31-01-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Se já em 2008 D. Rosa Chávez exprimia sua impressão que o processo de canonização de D. Romero se encontrasse na “reta final”, foi todavia com o advento ao sólio pontifício de Jorge Maria Bergoglio que as esperanças de uma iminente conclusão do processo se reacenderam: o convicto auspício da parte do Papa Francisco que Romero fosse o mais rapidamente proclamado santo induziu todos a considerar que a causa tivesse sido “desbloqueada”. Que, em suma, se tivesse consumado uma “ruptura”, como havia remarcado Jon Sobrino em maio de 2013, com respeito à linha mantida por “expoentes hierárquicos de diversas cúrias” para impedir a canonização do arcebispo, malgrado nenhuma sombra fosse jamais emersa, nos longos anos do fechamento da fase diocesana do processo, em 1996, nem ao nível de ortodoxia nem àquele de ortopraxis. E isso fazendo apelo a razões de conveniência política de todo estranhas (e até mesmo opostas) à lógica do martírio: o risco de “politizar” a figura de mons. Romero, de transformá-lo num sinal de divisão antes que de unidade, como se vítimas e carnífices (os mesmos que haviam brindado à notícia de seu assassínio) jamais pudessem chegar a compartilhar do mesmo juízo sobre o arcebispo.
Uma espera “prudente”, aquela tantas vezes invocada dentro e fora de El Salvador, por trás da qual se selou a tentativa – sobre a qual diversas pessoas exigiram atenção – de neutralizar a figura do arcebispo, privando-a de sua irrompente e incômoda dimensão profética. “Agora os postuladores devem mover-se, porque não há mais impedimentos”, tinha declarado em agosto passado o Papa Francisco, voltando depois a citar D. Romero na primeira audiência geral de 2015, quando, falando da figura materna, retomou um trecho da homilia pronunciada pelo arcebispo Alfonso Navarro aos 15 de maio de 1977, para o funeral de padre assassinado pelos esquadrões da morte: “Todos devemos estar dispostos a morrer pela nossa fé, mesmo que o Senhor não nos conceda esta honra... Dar a vida não significa somente ser mortos: dar a vida, ter “espírito de martírio” é também dar a si mesmos “no cumprimento honesto do dever”, no “silêncio da vida cotidiana”: “dar a vida pouco a pouco”, como “a dá uma mãe”, “sem temor, com a simplicidade do martírio materno”.
O auspício de que Romero, “um dos maiores dons“ recebidos por todo o povo de Deus, seja beatificado já neste ano, foi expresso pelo arcebispo emérito de Canterbury, Rowan Williams, ao falar no dia 12 de dezembro passado, na catedral St Chad de Birmingham, na Conferência anual do Arcebispo Romero Trust, organização nascida em 2007 para celebrar a vida e a obra do arcebispo.
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A lição de D. Romero: a Boa Nova para os pobres é promessa de justiça para todos. - Instituto Humanitas Unisinos - IHU