28 Outubro 2014
"O Prêmio 'O Perseguidor Implacável' – Este prêmio vai para a personalidade sinodal que proferiu o comentário mais espetacular, uma frase de efeito que deu o que falar", escreve John L. Allen Jr., em artigo publicado pelo site Crux, 26-10-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Não há dúvidas de que o Sínodo dos Bispos deste ano sobre a família em Roma, que reuniu cerca de 260 bispos e outros líderes eclesiais, foi negócio sério.
Questões tais como quanto de valor moral a Igreja Católica deveria atribuir às uniões homoafetivas ou à vida em união fora do casamento, ou se os católicos divorciados e casados novamente no civil deveriam ter condições de receber a Comunhão, são enormemente complicadas, e os que pensam serem fáceis estas respostas não vêm prestando muita atenção no que se passa.
Dito isso, o Sínodo foi também bastante interessante. Ele apresentou vários enredos que valeriam um roteiro para Hollywood: batalhas campais entre progressistas e conservadores, teorias da conspiração, acusações de se estar sufocando os dissidentes, confrontos entre personalidades importantes e reviravoltas suficientemente surpreendentes para satisfazer até mesmo os fãs mais devotos do cinema.
Neste espírito, chegou a hora de entregar as estatuetas do Oscar aos participantes do Sínodo 2014, reconhecendo as melhores performances destas duas semanas que sacudiram o mundo católico. Assim como com o Oscar verdadeiro, as grandes premiações aqui vêm em cinco categorias. Diferentemente do Oscar, não há nenhuma academia para agradecer pela escolha, já que os prêmios foram determinados por um júri de uma pessoa só..., isto é, eu mesmo.
O Prêmio “Uma Ponte Muito Distante”
Esta homenagem reconhece a personalidade no Sínodo que exagerou, de modo mais espetacular, nas tentativas de alcançar, unilateralmente, um resultado para o qual o Sínodo simplesmente não estava preparado.
E o Oscar vai para... Dom Bruno Forte, da Itália, o principal autor de polêmico relatório intermédio descrito pelo experiente vaticanista John Thravis como um “terremoto” por sua linguagem destacadamente positiva para com as pessoas homossexuais, a coabitação e os católicos divorciados.
O erro de Forte foi usar o relatório para tentar conduzir o Sínodo no que estava por vir, em vez de fazer aquilo para o qual o documento foi, de fato, projetado: sintetizar os debates até então realizados. A reação conservadora contra o texto de Forte pode ter ajudado a tornar o relatório final um pouco mais cauteloso do que poderia ter sido.
O Prêmio Figura de Oposição Alfredo Ottaviani
Ottaviani era o líder lendário da ala conservadora no Concílio Vaticano II, e então este prêmio reconhece a voz conservadora mais destacada do recente Sínodo. (O lema de Ottaviani era “Semper Idem”, expressão latina para “Sempre o mesmo”, uma filosofia política inteira em miniatura).
E o Oscar vai para... o cardeal Raymond Burke, o americano cuja crítica feroz sobre o relatório provisório, e sobre as propostas de se permitir aos divorciados e recasados voltarem a participar da Comunhão, enquadrou grande parte das polêmicas sinodais. A certa altura, Burke sugeriu que o Papa Francisco devesse uma explicação ao mundo por fomentar certa confusão sobre os ensinamentos da Igreja.
Pode-se amar ou odiar as posturas do cardeal americano, mas não há como negar que ele foi uma estrela do evento.
O Prêmio “John Wayne como Genghis Khan”
Ter o Duke atuando como o senhor da guerra mongol no filme de 1956 chamado “The Conqueror” é considerado uma das decisões de composição do elenco mais erradas de todos os tempos. Neste espírito, esta homenagem reconhece os participantes do Sínodo cujas contribuições foram amplamente incompreendidas.
E o Oscar vai para... Ron e Mavis Pirola, de Sydney, Austrália, os quais, no dia 6 de outubro, contaram aos bispos sobre uns amigos cujo filho gay queria trazer o seu companheiro para a noite de Natal. Os demais acolheram o companheiro, o que foi aplaudido por Ron e Mavis.
Os comentários dos dois levantaram amplas críticas por parte dos tradicionalistas. A Associação para a Proteção dos Filhos Não Nascidos, com sede em Londres, classificou o que Ron e Mavis tinham a dizer como uma concessão “perturbadora” para a “agenda homossexual”.
Na verdade, os dois são católicos piedosos cujas opiniões seriam, em geral, consideradas conservadoras. Eles não estavam defendendo mudanças nos ensinamentos. Estavam, isto sim, trazendo a compaixão e o bom senso na forma como sã aplicados na prática.
O Prêmio “O Perseguidor Implacável”
Este prêmio vai para a personalidade sinodal que proferiu o comentário mais espetacular, uma frase de efeito que deu o que falar.
E o Oscar vai para... o cardeal Walter Kasper, quem, num breve comentário a jornalistas no dia 15, falou dos prelados conservadores africanos que se opuseram à sua linha tolerante sobre Comunhão aos divorciados e recasados. Na ocasião, o cardeal declarou que os africanos “não deveriam nos dizer muito sobre o que devemos fazer”. Para piorar ainda mais, ele inicialmente negou ter disso isto, para logo em seguida ser confrontado com o áudio posto na internet pelo jornalista que o entrevistou.
Verdade seja dita, Kasper afirmou que apenas queria dizer que as diferentes partes do mundo têm problemas diversos e que precisam ter, cada uma delas, as suas próprias soluções. Mesmo assim, este comentário deu o que falar – tanto da direita quanto da esquerda católicas, de norte a sul – e os seus ecos ainda estão sendo ouvidos.
O Prêmio Alfred Hitchcock para melhor direção de uma história de suspense
Não é preciso explicar este prêmio, e também não há discussão alguma sobre o seu vencedor.
E o Oscar vai para... o Papa Francisco, por ter colocado em movimento todo este processo.
Há um outro (e maior) Sínodo dos Bispos programado para acontecer em outubro de 2015, após o que Francisco vai ter que tomar algumas grandes decisões. Hoje, ninguém sabe muito bem o que ele irá fazer, o que só deixa a intriga mais intensa.
Não obstante este processo de um ano inteiro, o Papa Francisco está fazendo possível se desenvolver o drama mais fascinante que o catolicismo não via há muito anos. Por isso, o público que assiste pode lhe ser muito grato.
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E o Oscar do Sínodo 2014 vai para… - Instituto Humanitas Unisinos - IHU