27 Outubro 2014
Migrantes, campesinos, papeleiros, vendedores ambulantes... Uma enorme quantidade de trabalhadores precários, expoentes da economia informal que não encontram representação nos sindicatos tradicionais e se organizam em movimentos populares (e não só na América Latina). O Papa Francisco, que os apoiava desde quando era arcebispo de Buenos Aires, decidiu convidá-los para um congresso, que irá ocorrer a partir desta segunda-feira até quarta-feira, e que foi organizado pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz e pela Pontifícia Academia de Ciências Sociais.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada no sítio Vatican Insider, 24-10-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Participará líder boliviano Evo Morales, "não na qualidade de presidente", mas como ex-líder indígena dos plantadores de coca do país. O Papa Francisco vai falar na terça-feira de manhã e, em princípio, vai dialogar durante duas horas com os presentes.
"Jorge Mario Bergoglio nos acompanhou durante anos no processo de organização dos papeleiros, campesinos, vendedores ambulantes, artesãos, alfaiates, das fábricas recuperadas, dos herdeiros da crise que trouxe o capitalismo neoliberal", explicou Juan Grabois, responsável da Confederação dos Trabalhadores da Economia Popular e membro do comitê organizador do encontro, em uma coletiva de imprensa no Vaticano.
Os papeleiros são aqueles que reciclam o lixo, são aqueles que buscam todos os dias em Buenos Aires e em muitas outras metrópoles latino-americanas, papel e papelão para vendê-los às empresas de reciclagem; os campesinos são os braços da agricultura.
Durante os três dias do congresso (que, segunda e quarta-feira, será realizado na Salesianum, na Via Pisana, em Roma, e, na terça-feira, na Casina Pio V, sede da Pontifícia Academia das Ciências Sociais), participarão representantes de "três setores sociais cada vez mais excluídos" nos cinco continentes, explicou o advogado argentino e defensor dos direitos humanos: trabalhadores, precários, migrantes, desempregados, agricultores, sem-terra, indígenas, principalmente migrantes que vivem nos subúrbios, nas periferias, nas favelas.
"O Papa Francisco não se esqueceu de nós", disse Grabois, "ele nos convoca novamente, a partir de uma perspectiva universal, aos pobres e aos povos pobres, organizados em milhares de movimentos populares para que batalhemos – sem soberba, mas com coragem, sem violência, mas com tenacidade... – por essa dignidade que nos roubaram e pela justiça social".
Portanto, não se trata de "nenhuma tomada de partido política ou ideológica, mas um encontro e um diálogo, o que não implica que o que eu penso coincide com o que pensam o papa ou a Igreja".
De sua parte, o arcebispo argentino Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, explicou que "o Papa Francisco compreendeu que, devido ao que ele chamou de 'globalização da indiferença', há muitas pessoas que não têm lugar ou reconhecimento na sociedade, nem por parte do Estado, nem por parte da sociedade civil, e que, se não for integrada, dá origem a manifestações para reivindicar os direitos, porque, se não se resolvem as injustiças nem as desigualdades, não se resolvem os problemas".
O padre Federico Lombardi, porta-voz vaticano, destacou que esse encontro "corresponde muito ao estilo desse pontificado e a forma com a qual Francisco aborda as questões", e lembrou que esse encontro "pretende favorecer um diálogo" sobre os temas que ele mesmo aborda frequentemente.
Aos jornalistas que participaram da coletiva de imprensa e perguntavam se não havia o risco de que esse encontro se politizasse, Dom Sorondo respondeu que "é preciso politização!", claro, "não no mau sentido da palavra, a ideologização inútil, mas no sentido de que é importante que os políticos conheçam esses problemas, razão pela qual se requer uma certa pressão. Diferentes Conferências Episcopais e diferentes bispos – indicou Sánchez Sorondo – não são conscientes desses problemas".
O cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, lembrou que "'bem-aventurados os pobres' é uma frase do Evangelho".
Dom Sánchez Sorondo respondeu a algumas perguntas dos jornalistas que evocavam o marxismo latino-americano, lembrando que "o papa disse que foram os marxistas que roubaram a bandeira, porque certas ideias já se encontram no Evangelho", e que o próprio Jorge Mario Bergoglio havia afirmado que "não era trotskista, mas que tinha vários amigos trotskistas".
Em relação à exortação apostólica Evangelii gaudium do Papa Francisco, do ponto de vista da doutrina social da Igreja, esclareceu ele, "não mudou muito, mas mudou tudo, no sentido de que o papa enfatizou a 'globalização da indiferença', que é uma frase genial do papa e que não existia antes".
Na terça-feira desta semana, falarão no congresso Evo Morales (que, destacou Sánchez Sorondo, não estará presente "na qualidade de presidente da Bolívia, mas como ex-representante dos movimentos populares") e o próprio Papa Francisco.
Certamente, o encontro será realizado com o típico estilo "bergogliano" de perguntas e respostas; presume-se que esse momento vai durar cerca de duas horas.
Ele pronunciará um discurso introdutório? "O que sabemos é que o papa gosta das surpresas...", respondeu o arcebispo argentino.
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Papa recebe os movimentos camponeses - Instituto Humanitas Unisinos - IHU