Por: Cesar Sanson | 15 Abril 2014
Daniel Cassol, jornalista, em artigo publicado por Impedimento, 14-04-2014, descreve as mortes dos operários na construção dos estádios brasileiros para a Copa do Mundo e a postura do ex-jogador Pelé, que tratou com naturalidade as fatalidades
Eis o artigo.
José Elias Machado atravessou a BR 290 na noite de 2 de outubro de 2011 para chegar ao alojamento dos operários da Arena do Grêmio. Era domingo e o paraibano de Juru estava de folga. Foi atropelado por uma caminhonete e morreu. Seus colegas atearam fogo nos alojamentos em protesto. Machado tinha 40 anos.
José Afonso de Oliveira Rodrigues tinha 21 anos quando caiu de uma laje nas obras do estádio Mané Garrincha, em Brasília, no dia 11 de junho de 2012. Foi uma queda de 50 metros. O ajudante de carpinteiro não resistiu.
Araci da Silva Bernardes trabalhava nas obras da Arena do Grêmio quando foi atingido por uma descarga elétrica no dia 23 de janeiro de 2013. Funcionário de uma terceirizada da construtora, morreu na hora.
Raimundo Nonato Lima Costa tentou passar de um andaime a outro no dia 28 de março de 2013, nas obras da Arena da Amazônia, em Manaus, se desequilibrou e caiu de uma altura de cinco metros. Morreu por conta de um traumatismo craniano, segundo o Instituto Médico Legal.
Carlos de Jesus trabalhava na Arena Palestra, em São Paulo, quando foi atingido por uma viga de três toneladas no dia 15 de abril de 2013. O operário morreu na hora. Ele foi enterrado em Tapuiu, município baiano de Araci, onde os pais moravam. Deixou esposa e três filhos.
Fábio Luiz Pereira tinha 42 anos e era corintiano roxo. Ele operava um guindaste de 420 toneladas quando a estrutura desabou e danificou parte das arquibancadas da Arena Corinthians, em São Paulo. Fábio Luiz também foi atingido e morreu.
Ronaldo Oliveira dos Santos descansava após o almoço também na Arena Corinthians. Cearense de Caucaia, havia tentado a sorte em São Paulo 20 anos antes, e havia cinco meses fazia nova tentativa. Dormia, provavelmente, quando o mesmo guindaste que atingiu Fábio também o matou. Tinha quase a mesma idade de Fábio – 44 anos. Deixou a mulher e duas filhas.
Marcleudo de Melo Ferreira tinha 22 anos e era natural de Limoeiro do Norte, no Ceará. Ele trabalhava na montagem da cobertura da Arena Amazônia quando caiu de uma altura de aproximadamente 35 metros, no dia 14 de dezembro de 2013. Ele era funcionário de uma subcontratada da construtora. Seus colegas relataram que ele caiu em cima de uma cadeira, que ficou danificada.
Neste mesmo dia, fazia muito calor em Manaus e um encarregado do setor de pavimentações do Centro de Convenções do Amazonas, parte do complexo da Arena de Manaus, morreu vítima de um infarto. De acordo com a família, José Antônio do Nascimento, 49 anos, tinha problemas de pressão. Colegas de obra disseram que ele havia se queixado do calor.
Antônio José Pitta Martins desmontava um guindaste de grande porte quando sofreu um acidente no dia 7 de fevereiro de 2014, na Arena Amazônia. Encaminhado ao hospital João Lúcio, morreu na mesa de cirurgia. Tinha 55 anos e havia nascido em Portugal.
Fabio Hamilton da Cruz trabalhava na instalação de arquibancadas provisórias da Arena Corinthians no dia 29 de março de 2014, quando caiu de uma altura de 15 metros e morreu. Tinha 23 anos.
José Elias; José Afonso, Araci, Raimundo Nonato e Carlos de Jesus; Fábio Luiz, Ronaldo, Marcleudo e José Antônio; Pitta e Fábio Hamilton.
Edson Arantes do Nascimento participava no dia 7 de abril de 2014 do lançamento de uma coleção de diamantes criados a partir de seu cabelo quando foi perguntado sobre a morte mais recente de um operário na Arena Corinthians. Ele respondeu: “O que aconteceu no Itaquerão, o acidente, isso é normal, é coisa da vida. Pode acontecer. Foi um acidente, entendeu? Isso aí eu não acredito que assuste, mas a maneira que está sendo administrada, a entrada e saída dos aeroportos, eu acho que isso é uma coisa que está preocupando”.
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As "coisas da vida" de Pelé e as mortes dos operários brasileiros - Instituto Humanitas Unisinos - IHU